segunda-feira, 7 de novembro de 2016

“O Homem Duplicado”, de José Saramago – Tertuliano visita a mãe e sente as pressões da inquirição que certamente ocorrerá; Antônio Claro tem noites agitadas e reflete sobre a carta que possibilitou ao outro chegar até ele

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/11/o-homem-duplicado-de-jose-saramago_5.html antes de ler esta postagem:

O fato é que Antônio Claro não conseguia definir bem se considerava Tertuliano um inimigo... Como pensar isso de um tipo que sequer conhecia? De quem nunca lhe fizer mal?
Helena não pensava dessa forma... Só o fato de o outro existir já representava uma situação insustentável. Ela disse isso ao marido.
Antônio explicou que o outro existia da mesma forma que ele... E se para eles isso era um problema, para o professor também o devia ser na mesma medida.
Para Helena pesava o fato de o tipo ter tomado a iniciativa de procurá-los... Antônio quis acalmá-la dizendo que, no lugar de Tertuliano, teria feito o mesmo.
A mulher não se conformava... Argumentou que as coisas teriam sido diferentes porque ela o teria aconselhado a não se envolver com um estranho...
(...)
Helena chorou copiosamente e seguiu para o quarto, onde se trancou.
Antônio guardou a barba enviada por Tertuliano junto ao bigode com o qual interpretara o funcionário de hotel em “Quem Porfia Mata Caça”.
(...)

Tertuliano seguiu para a casa da mãe... Conforme dirigiu seu veículo pela estrada pensou sobre se falaria ou não a respeito dos episódios com Antônio Claro...
No começo da viagem parecia firme no propósito de revelar tudo à mãe... Conforme o carro rodou, sua certeza se esvaiu... Ao chegar à casa da mãe não sabia ao certo o que faria.
À noite, já em seu antigo quarto de adolescente, enquanto se preparava para deitar, concluiu que o melhor teria sido não deixar a cidade... Sentia-se mais seguro no próprio apartamento.
A sensação de insegurança o dominou porque dona Carolina não lhe fazia perguntas... Em vez disso, dirigia-lhe olhares que pareciam esperar por suas manifestações...
O desconforto de Tertuliano aumentou na medida em que passou a ter a impressão de que só poderia retornar depois de revelar sua história à mãe.
Enquanto aguardava o sono, refletiu sobre a situação... Evidentemente dona Carolina não era como a da Paz, que topava aguardar quanto tempo ele achasse necessário para dar-lhe explicações... A mãe o pressionaria silenciosamente e ele sentia que teria de contar-lhe algo.
Trouxe livros... Aquele sobre as civilizações mesopotâmicas não foi selecionado para a viagem... Mas não estava em condições de se concentrar em qualquer leitura, então apagou a luz.
Depois de algum tempo a porta do quarto, que não estava trancada, se abriu... Era Tomarctus, o cachorro de estimação de dona Carolina e “batizado pelo próprio Tertuliano”.
O cão ficou por um breve cochilo e se retirou para “vigiar a casa”. Pela manhã a porta devidamente trancada era indicadora do zelo mãe. Acostumada a se levantar cedo, contava com a companhia de Tomarctus e não pretendia que este incomodasse o descanso do filho.

(...)
Pelo menos em relação à primeira noite, não há comparação entre o sono do professor na casa da mãe e a agitação que perturbava Antônio Claro... Helena dormiu, mas a custa de tranquilizantes... O ator despertou várias vezes porque não conseguiu deixar de sonhar com o encontro que tivera na casa de campo.
As noites seguintes também foram de pesadelo para Antônio Claro... Numa das madrugadas viu-se refletindo sobre a fala de Tertuliano a respeito de uma carta que enviara à produtora para, desse modo, chegar até ele.
A grande questão era sobre o que teria motivado a empresa a fornecer tantos dados ao autor da carta... Antônio sabia bem que semanalmente muitas cartas de fãs chegavam ao escritório... Mas o máximo que faziam nesses casos era enviar uma fotografia com uma dedicatória já impressa sobre o papel.
Era impressionante! Uma carta simples! O mais provável é que lhe dessem o mesmo destino de todas as outras: o “esfarrapador de papéis”.
Mas também podia ocorrer de a terem arquivado... O ator pensou e concluiu que não seria tão absurdo guardarem cartas como aquela... Talvez a empresa se interessasse pelas demandas do público de seus filmes... Talvez houvesse um registro, uma catalogação...
Mas a carta serviria para algo? Por que essas indagações chegaram às reflexões de Antônio Claro? Descobri-la contribuiria para encontrar uma solução para os problemas que ele e Helena vinham sofrendo?
Leia: O Homem Duplicado. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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