quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Nadine e o seu Mea Culpa; de complexos, teimosia e segredos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_51.html antes de ler esta postagem:

Sem rodeios, Henri respondeu que Sézenac estava no fundo do rio... Uma grande pedra amarrada no pescoço o impediria de subir... Demoraria até que um dia fosse encontrado.
Nadine chorou ainda mais... Incorporou um sentimento que era puro remorso... Dubreuilh lembrou que ela havia dito que o rapaz merecia um balaço no couro... Também ele achava que isso era o que de melhor podia acontecer ao tipo... Nadine chorava e dizia lamentos do tipo “estava vivo, e agora está morto”...
(...)
Não havia o que fazer... Deixaram-na chorar até que esgotasse sua lamúria.
Depois de um tempo ela perguntou o que devia ocorrer a partir do episódio... E se ele fosse encontrado?
Henri explicou que isso não ocorreria... Então não aconteceria nada demais... A vida seguiria seu curso.
Nadine levantou uma série de questionamentos... Sézenac poderia ter dito que iria a Saint-Martin... Teria dito à companheira ou a algum amigo mais próximo... Alguém no povoado poderia ter visto a movimentação de Henri e de Vincent... Será que Vincent não possuía um colaborador que estivera o tempo todo com ele sem que Henri soubesse?
Henri pediu que ela se acalmasse... Afirmou que se algo de ruim viesse a ocorrer ele saberia se defender da melhor maneira possível. Nadine disse que ele era cúmplice do assassinato.
Ele manteve-se sereno e explicou que, em caso de processo, arranjaria um bom advogado e tudo seria esclarecido.
(...)
Não havia palavra que pudesse tranquilizar a garota... Ela voltou a chorar copiosamente. Dizia frases que revelavam o quanto desejava ser punida... Disse que só podia ter sido por rancor aos pais e por Henri que tivera a iniciativa de telefonar a Vincent.
Parecia que ela não se importava em aumentar a própria infelicidade... Sentenciou que Henri seria mantido numa prisão por muitos anos.
Mais uma vez ele procurou acalmá-la... Garantiu que aquilo não ocorreria... Depois a pegou pelo braço e sugeriu que fosse se deitar... Ela precisava dormir um pouco.
Nadine subiu para o quarto a contragosto... Ainda agitada, afirmou que não teria condições de dormir.

(...)

No quarto, Nadine quis que o marido confirmasse que a detestava.
Henri chamou-lhe a atenção... Mas é claro que não era verdade... Ele bem sabia que ela nutria rancores por toda gente, mas pedia que não o odiasse também... Disse que a amava e que ela devia tirar os maus pensamentos da cabeça de uma vez por todas.
Nadine prosseguiu com o seu Mea Culpa... Respondeu que não acreditava nas palavras de Henri e que, além disso, não merecia ser amada por ninguém.
Henri entendeu que não podia deixá-la sozinha... Lamentou que não conseguisse passar-lhe confiança. Pediu que o olhasse nos olhos.
Quando Nadine virou-se, Henri percebeu o quanto ela sofria... Ao mesmo tempo, reconheceu que a amava muito... Mais do que a qualquer outra pessoa. Então era preciso convencê-la a respeito.
Perguntou-lhe se de fato achava que ele não lhe queria bem... Ela respondeu que não fazia sentido, até porque nem se tratava de uma mulher bonita. Henri disse que ela não precisava se arvorar em complexos, pois gostava dela do modo como se apresentava.
Novamente ele disse que a amava e que não esperava dela nada mais do que ela já lhe oferecia. Nadine rejeitou a afirmação, pois não conseguia acreditar em suas palavras.
Ele sustentou que ela devia experimentar dar-lhe crédito em relação aos seus sentimentos. Ela alegou que se conhecia muito bem para aceitar... Henri não recuou e garantiu que também a conhecia, e que a seu respeito só pensava o bem.
Dessa feita, Nadine respondeu que ele a conhecia muito mal... Henri pôs-se a rir e disse que compreendia seu estado... Ela não precisava se martirizar mais, pois havia passado por momentos de muito nervosismo durante a noite.
(...)
A conversa parecia não ter fim... Nadine respondeu que Henri era muito gentil, todavia ela não era merecedora de gentilezas. Disse isso, voltou a chorar e afirmou que se achava repugnante.
Henri foi paciente e tentou convencê-la de que estava errada... Ela não precisava se sentir tão mal! Falou-lhe sobre como interpretava o seu caso... Tudo aquilo ocorria porque ela não tirava da cabeça que não era bem aceita pelos demais... Achava que todos lhe tratavam com indiferença, e é por isso que de vez em quando lhes aplicava uma mentira ou se tornava asquerosa... Mas de modo algum aquilo retratava a sua essência.
Ainda sem dar mostras de que se convenceria, Nadine falou que ele não sabia do que ela era capaz... Henri respondeu que sabia... Então ela revelou-se ainda mais desesperada ao mesmo tempo em que manifestava sua discordância.
Ele tomou-a nos braços e sugeriu que, se houvesse algo que a sufocava e que guardava apenas para si, era melhor que se abrisse de uma vez com ele.
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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