Sem rodeios, Henri respondeu que Sézenac estava no fundo do rio... Uma grande pedra amarrada no pescoço o impediria de subir... Demoraria até que um dia fosse encontrado.
Nadine chorou ainda mais... Incorporou um sentimento que era puro remorso... Dubreuilh lembrou que ela havia dito que o rapaz merecia um balaço no couro... Também ele achava que isso era o que de melhor podia acontecer ao tipo... Nadine chorava e dizia lamentos do tipo “estava vivo, e agora está morto”...
(...)
Não havia o que fazer...
Deixaram-na chorar até que esgotasse sua lamúria.
Depois de um tempo ela perguntou o que devia ocorrer a
partir do episódio... E se ele fosse encontrado?
Henri explicou que isso não ocorreria... Então não aconteceria nada
demais... A vida seguiria seu curso.
Nadine levantou uma série de questionamentos... Sézenac
poderia ter dito que iria a Saint-Martin... Teria dito à companheira ou a algum
amigo mais próximo... Alguém no povoado poderia ter visto a movimentação de
Henri e de Vincent... Será que Vincent não possuía um colaborador que estivera
o tempo todo com ele sem que Henri soubesse?
Henri pediu que ela se acalmasse... Afirmou que se algo de ruim viesse a
ocorrer ele saberia se defender da melhor maneira possível. Nadine disse que
ele era cúmplice do assassinato.
Ele manteve-se sereno e explicou que, em caso de processo, arranjaria um
bom advogado e tudo seria esclarecido.
(...)
Não havia palavra que pudesse tranquilizar a garota... Ela voltou a
chorar copiosamente. Dizia frases que revelavam o quanto desejava ser punida...
Disse que só podia ter sido por rancor aos pais e por Henri que tivera a
iniciativa de telefonar a Vincent.
Parecia que ela não se importava em aumentar a própria infelicidade...
Sentenciou que Henri seria mantido numa prisão por muitos anos.
Mais uma vez ele procurou
acalmá-la... Garantiu que aquilo não ocorreria... Depois a pegou pelo braço e
sugeriu que fosse se deitar... Ela precisava dormir um pouco.
Nadine subiu para o quarto
a contragosto... Ainda agitada, afirmou que não teria condições de dormir.
(...)
No quarto, Nadine
quis que o marido confirmasse que a detestava.
Henri chamou-lhe a atenção... Mas é claro que não era verdade... Ele bem
sabia que ela nutria rancores por toda gente, mas pedia que não o odiasse
também... Disse que a amava e que ela devia tirar os maus pensamentos da cabeça
de uma vez por todas.
Nadine prosseguiu com o seu
Mea Culpa... Respondeu que não
acreditava nas palavras de Henri e que, além disso, não merecia ser amada por
ninguém.
Henri entendeu que não podia deixá-la sozinha...
Lamentou que não conseguisse passar-lhe confiança. Pediu que o olhasse nos
olhos.
Quando Nadine virou-se, Henri percebeu o quanto ela sofria... Ao mesmo
tempo, reconheceu que a amava muito... Mais do que a qualquer outra pessoa.
Então era preciso convencê-la a respeito.
Perguntou-lhe se de fato achava que ele não lhe queria
bem... Ela respondeu que não fazia sentido, até porque nem se tratava de uma
mulher bonita. Henri disse que ela não precisava se arvorar em complexos, pois
gostava dela do modo como se apresentava.
Novamente ele disse que a amava e que não esperava dela nada mais do que
ela já lhe oferecia. Nadine rejeitou a afirmação, pois não conseguia acreditar em
suas palavras.
Ele sustentou que ela devia experimentar dar-lhe crédito em relação aos
seus sentimentos. Ela alegou que se conhecia muito bem para aceitar... Henri não
recuou e garantiu que também a conhecia, e que a seu respeito só pensava o bem.
Dessa feita, Nadine respondeu que ele a conhecia muito mal... Henri
pôs-se a rir e disse que compreendia seu estado... Ela não precisava se
martirizar mais, pois havia passado por momentos de muito nervosismo durante a
noite.
(...)
A conversa parecia não ter fim... Nadine respondeu que Henri era muito
gentil, todavia ela não era merecedora de gentilezas. Disse isso, voltou a
chorar e afirmou que se achava repugnante.
Henri foi paciente e tentou
convencê-la de que estava errada... Ela não precisava se sentir tão mal!
Falou-lhe sobre como interpretava o seu caso... Tudo aquilo ocorria porque ela
não tirava da cabeça que não era bem aceita pelos demais... Achava que todos
lhe tratavam com indiferença, e é por isso que de vez em quando lhes aplicava
uma mentira ou se tornava asquerosa... Mas de modo algum aquilo retratava a sua
essência.
Ainda sem dar mostras de
que se convenceria, Nadine falou que ele não sabia do que ela era capaz...
Henri respondeu que sabia... Então ela revelou-se ainda mais desesperada ao
mesmo tempo em que manifestava sua discordância.
Ele tomou-a nos braços e sugeriu que, se
houvesse algo que a sufocava e que guardava apenas para si, era melhor que se
abrisse de uma vez com ele.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2016/12/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma.html
Leia: Os
Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto