quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – o registro de 14 de janeiro de 1894; dona Teodora e seu Batista, avós maternos de Helena; atuação dos dragões na inibição à extração de metais e pedras preciosas; referência à revolta dos liberais em 1842; o grande achado numa “lavra da Lomba”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/02/minha-vida-de-menina-de-helena-morley.html antes de ler esta postagem:

Em seu registro de 14 de janeiro de 1894, Helena escreveu sobre os seus avós maternos.
Ela destacou o quanto admirava dona Teodora por sua inteligência… Apesar de “não ter estudo”, aquela senhora não largava os livros de orações e não se cansava de incentivar Helena a estudar.
Dona Teodora ouvia atentamente tudo o que a neta tinha a dizer. E, mais do que dona Carolina, fazia questão de verificar os cadernos escolares da menina.
(…)
Helena gostava de ouvir as histórias da avó, sobretudo aquelas vivenciadas na primeira metade do século XIX, época da mocidade de dona Teodora.
Seu relato dá conta de que logo que ela se casou com Batista, viveram em condição de pobreza… Possuíam “apenas dois escravos” e mal tinham o que vestir. Instalaram-se numa localidade chamada Itaipava e o rancho que levantaram era “de capim”.
O marido de dona Teodora dedicou-se à mineração, que era o que havia para se fazer na região de Diamantina… Eventualmente conseguia um diamante ou um pouco de ouro… Apesar das dificuldades, viviam felizes.
É bom que se saiba que a mineração era proibida pelo governo. Havia tropas especiais conhecidas como “dragões”, que auxiliavam na fiscalização e reprimiam infratores.
Nessas ocasiões, dona Teodora “escondia o diamante e o ouro” nas almofadas de renda… Os soldados faziam uma inspeção rigorosa, mas nunca encontraram nada com o casal. Ela mantinha-se acomodada “batendo bilros” e por isso não despertava nenhuma desconfiança.
Alguns anos depois, o governo autorizou a mineração… Então os bons dias principiaram.
(…)
Helena conta que seu avô era de uma região conhecida como Serro e que ele tinha a patente de tenente.
Ela explica que numa ocasião de conflito, a “Guerra na Serra do Mendanha”*, o avô participou contrariado porque entre os oponentes estavam os irmãos de dona Teodora.

                        *a nota sugere que o confronto se refere à “Revolução de 1842”, que colocou as tropas do governo contra as tropas rebeldes vinculadas ao Partido Liberal.

Seu Batista foi baleado no braço... Helena conheceu sua farda azul com botões dourados e manchada de sangue porque dona Teodora a conservou até o fim da vida.
Após os conflitos, seu Batista retornou para Itaipava...
(…)
Helena relata a respeito da grande mudança na vida dos avós por ocasião da empreitada de seu Batista numa “lavra da Lomba”.
Dona Teodora contou para a neta o quanto rezara. Fez novena a Nossa Senhora para que o marido obtivesse êxito.
E foi isso mesmo o que ocorreu... Seu Batista mal iniciou o trabalho e “descobriu um caldeirão” (de acordo com a nota, trata-se de uma “concentração de diamantes formada nas depressões do rio, nas regiões diamantíferas”).
Era uma quantidade espetacular de diamantes. Dona Teodora lembrava-se das palavras do escravo Tito. O negro, que era da confiança de seu Batista, ajoelhou-se, levantou as mãos para o alto em agradecimento ao mesmo tempo em que clamava a Deus: “Meu divino Pai e Senhor, se é castigo, que se suma essa riqueza”.
Nesse mesmo instante, dona Teodora chegava ao local da escavação trazendo o café... Ela teve de ajudar a recolher as pedras “que apareciam como bagos de milho em cima do cascalho”.
(…)
Os avós de Helena tiveram essa felicidade.
Jamais abandonaram a região e nela se enriqueceram... 
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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