Quando menos esperava, Fogg foi abordado por um marinheiro. O homem se aproximou respeitosamente e perguntou se o distinto cavalheiro estava à procura de um barco. Certamente estava correndo entre os que trabalhavam no porto a notícia de que um lorde inglês acompanhado de elegante senhorita procurava algum meio de embarcar imediatamente.
Fogg quis saber se o tipo possuía uma embarcação pronta para zarpar. Este lhe disse que respondia pelo barco de pilotagem “nº 43”, um dos melhores. O inglês mostrou que tinha interesse de saber se o barco era de bom desempenho.
Pelo visto não era nada desprezível... “Entre oito e nove milhas”... Fogg quis conferir do que estavam tratando. Neste momento o homem perguntou se ele pretendia fazer um passeio pelo mar, e foi então que ficou sabendo que o potencial cliente pretendia contratá-lo para uma viagem a Yokohama.
O marinheiro arregalou os olhos e perguntou se o distinto cavalheiro não estava lhe pregando uma peça. Fogg respondeu que não brincava, justificou que havia perdido o Carnatic e que precisava de embarcação que o levasse a Yokohama até o dia 14 (no máximo). De lá pegaria outro navio até São Francisco.
(...)
Como podemos depreender por sua reação inicial, o marinheiro só podia dizer
que aquilo que acabara de ouvir era impossível. Fogg adiantou-se e ofereceu-lhe
cem libras por dia de navegação. E, no caso de a meta ser alcançada no tempo
esperado, ele acrescentaria gratificação de duzentas libras.
A atitude do piloto do barco “nº 43” começou a mudar.
Era sem dúvida uma das ofertas mais interessantes que já haviam lhe feito.
Voltou os olhos para o mar e pensou nos grandiosos desafios que aquele tipo de
viagem representava para a sua embarcação.
Fix observava e ouvia a tudo com grande interesse. E é por isso que
começou a ficar nervoso. Ele viu quando Fogg perguntou à jovem Aouda se ela
tinha medo da travessia... A moça respondeu que conseguiria encarar a viagem.
(...)
O marinheiro tornou-se agitado e dava para perceber o seu nervosismo
pelo modo como girava o chapéu entre as mãos. Fogg perguntou se podiam acertar
o serviço e ele respondeu que não podia se arriscar e nem arriscar a vida de seus
homens. Seu barco tinha apenas vinte toneladas! Além de a travessia ser longa,
a época do ano não era das mais propícias.
O marinheiro foi sincero e disse em tom de conclusão que
as 1650 milhas até Yokohama não seriam vencidas pelo seu barco.
Fogg o corrigiu dizendo que a distância era de 1600 milhas. O outro
respondeu que “dava na mesma”.
Fix entendeu que a tentativa de seu suspeito havia frustrado. Mas logo o
marinheiro sentenciou que poderiam arranjar outra maneira. Então o policial
voltou a sentir calafrios...
Fogg perguntou ao rapaz qual
seria a alternativa. Ele explicou que poderiam navegar com a sua embarcação até
Nagasaki, no sul do Japão, que estava a uma distância de 1100 milhas. Ou então
seguir para Shangai, a 800 milhas de Hong Kong, com a vantagem de não se
distanciarem da costa chinesa, e ainda terem as correntes favorecendo a
navegação para o norte.
Fogg ouviu e redarguiu que
precisava chegar a Yokohama, e não para Shangai ou Nagasaki. Precisava alcançar
o porto de onde sairia o navio para a costa oeste americana.
O marinheiro informou
que o navio para São Francisco fazia paradas em Nagasaki e Yokohama. Na verdade,
o seu porto de partida era Shangai.
O inglês admirou-se ao ouvir aquilo e imediatamente quis que o rapaz confirmasse
e explicasse a data de partida desde Shangai.
Dia 11, às sete da noite. Essa foi a sua resposta.
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto