Os passageiros estavam sentados no convés.
Às três e dez o “nº 43” içou velas. Aouda e Fogg contemplaram uma última vez o cais para conferir se Passepartout não estava entre os que circulavam pela área.
Fix disfarçou bem a sua apreensão. E se o criado aparecesse? No fundo ele sabia que isso não ocorreria. É que a grande quantidade de álcool associada ao ópio certamente o manteria desacordado por tempo considerável.
Pobre Passepartout...
(...)
Naqueles primeiros dias de novembro o mar da China não era propício à
uma navegação tranquila. A ventania agitava as águas e ao que tudo indicava a
embarcação de vinte toneladas enfrentaria dificuldades tremendas.
Para John Bunsby seria mais interessante conduzir o
Tankadère a Yokohama. Recebendo pagamento por dia, ao final da viagem contaria
com muitas libras nos bolsos. Ele confiava em sua embarcação, mas sabia que o mais
prudente seria avançar as 800 milhas que levariam seus passageiros a Shangai.
(...)
Apesar das lufadas que chocavam contra popa e traseira do “nº 43”, a
saída de Hong Kong foi satisfatória.
Ao atingir alto mar, Phileas Fogg recomendou toda prudência possível ao
piloto. No fundo ele sabia que não precisava de lembrá-lo de procedimentos e
cuidados que faziam parte de seu cotidiano de experiente navegante.
O mar tornou-se agitado, mas Fogg posicionou-se de modo firme como se
experiente marinheiro fosse. Em nenhum momento cambaleou. Aouda sentou-se à
popa para contemplar as águas e sua agressividade, o céu e o belo crepúsculo.
As velas estavam infladas... O Tankadère seguiu veloz noite adentro.
A diminuta lua proporcionava luminosidade frágil que logo foi encoberta
por espessas nuvens.
(...)
Acidentes eram muito comuns
naquelas paragens. Não era por acaso que Bunsby levava sinalizadores. No caso
de uma colisão, o seu “nº 43” terminaria em pedaços.
(...)
Fix instalara-se na proa e,
isolado, refletia a respeito dos últimos eventos. Evitava a companhia de Fogg,
pois sentia-se mal por ter aceitado sua oferta de transporte. Seu suspeito
era-lhe repugnante e aquela “gentileza” o irritava ainda mais.
A preocupação do
policial era com os acontecimentos futuros. Não lhe saía da cabeça a fuga que
Fogg empreenderia logo que chegasse a Yokohama. Ao que tudo indicava o plano do
ladrão era bem simples. O tipo embarcaria para a América, onde teria muitas
condições de escapar de vez das autoridades inglesas.
Fix pôde chegar à conclusão sobre o modo de agir de Fogg. Fez isso muito
calmamente. Embora parecesse absurdo, o plano daquele tipo parecia fazer algum
sentido. Tendo escapado com muito dinheiro, quis evitar uma fuga da Inglaterra
diretamente para os estados Unidos. Aquela viagem esquisita, atravessando 3/4
do planeta tinha a intenção de despistar a polícia e chegar a um refúgio sem
despertar suspeitas.
Mesmo que Fogg chegasse ao
destino pretendido, Fix não o abandonaria enquanto não obtivesse a extradição.
Seu dever seria cumprido!
Apesar de todos os
atropelos, estava satisfeito por ter separado o criado de seu patrão.
Certamente teria muitos problemas se os dois estivessem juntos. Principalmente
depois de ter revelado sua identidade e missão a Passepartout.
(...)
Também é verdade que Fogg pensava em seu criado
e no misterioso desaparecimento. Restava a esperança de que, devido a engano
que não pudesse ser evitado, o francês tivesse embarcado no Carnatic.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_81.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto