Bunsby era um piloto experiente. Suas previsões sobre a chegada de uma tempestade se confirmaram. Em atendimento à demanda de Fogg, recolheu as velas, organizou a coberta, desmontou e travou mastros.
Se navegassem em outra época do ano provavelmente enfrentariam pouco mais do que um aguaceiro carregado de relâmpagos. O tufão que se aproximava era poderoso porque chegava com o equinócio do inverno.
A embarcação foi muito bem trancada e o casco deveria suportar bem as águas mais agitadas. Nenhum vento passava pelas escotilhas. O piloto deixou armada apenas uma vela triangular de modo que a embarcação aproveitasse o vento pela popa. Ele chamou os passageiros para a cabina, mas o desconforto que experimentariam (principalmente pela falta de ar) levou Fogg, Aouda e o próprio Fix a preferirem permanecer na coberta.
(...)
Por volta das oito horas teve início a tempestade. A
embarcação foi atacada por ondas gigantescas e era como se não passasse de uma
leve pena impulsionada pelas forças do vento e das águas.
Não dava para ter certeza
da direção exata para onde o Tankadère se dirigia, todavia notava-se que sua
velocidade era incrível e talvez correspondesse a mais de quatro vezes a
velocidade de uma locomotiva a todo vapor.
Durante todo aquele dia foi assim. A embarcação sofreu vários baques e
deslizou arrastada pelas ondas alcançando velocidade impressionante.
O piloto informou que
rumavam para o norte. Por vinte ocasiões gigantescas ondas quase viraram o Tankadère,
mas Bunsby manipulou com maestria o leme e evitou a catástrofe.
Fix amaldiçoava a situação desfavorável. Fogg era a
causa de tudo aquilo! Este permaneceu tranquilo a considerar que o tufão “fazia
parte do programa”. Aouda comportou-se exemplarmente. Não havia dúvida que sua
companhia estava à altura da dignidade de Fogg, a quem admirava cada vez mais.
(...)
À noite a ventania conduziu o Tankadère para o rumo noroeste. Bunsby
temia essa possibilidade porque logo que a tempestade findasse teriam deixado
de avançar muitas milhas no rumo de Shangai. O pior era a intensidade com que o
mar atingia a embarcação.
Conforme avançavam perigosamente em meio à escuridão que aumentava, o
piloto foi tomado por escrúpulos que o levaram a consultar a tripulação. Depois
disso, conversou com Fogg para anunciar-lhe a opinião dos experientes
marinheiros. Sem maiores rodeios, disse que achavam melhor recolher o Tankadère
a um dos portos.
Phileas Fogg respondeu que concordava. Bunsby quis saber qual dos portos
ele considerava melhor para uma parada. O inglês respondeu que só conhecia um
que o interessava, o de Shangai.
O piloto não compreendeu
imediatamente o que o cavalheiro queria dizer, mas logo assegurou de controlar
o mais que podia o leme para levar sua embarcação no rumo norte.
(...)
A noite foi mesmo bem
complicada. Por duas ocasiões, Bunsby conseguiu evitar um acidente fatal. É
verdade que perderam muito do que estava sendo transportado, mas felizmente as
vidas permaneceram a salvo.
A jovem Aouda sofreu.
Sua condição física quase não suportou os esforços a que se submeteu, mesmo
assim manteve-se firme e sem pronunciar queixas. Por algumas vezes, quando as
ondas se tornavam mais violentas, Fogg correu para protegê-la.
Quando o dia amanheceu, a tempestade ainda mantinha
sua força.
A mudança do vento para sudoeste era favorável, mas o avanço da
embarcação tornava-se comprometido porque devia suportar as ondas que se faziam
mais perigosas por causa do choque com as novas ondas que o “novo vento” passou
a formar.
Outra embarcação que não
tivesse construção sólida como o Tankadère teria sido esmagada.
Aliás, não havia outro
navio se arriscando naquelas águas. Quando a tempestade permitia aberturas, os
passageiros até avistavam recortes da costa, mas nenhuma embarcação.
Só por volta do meio-dia é que a bruma diminuiu.
Com o avanço da tarde a tempestade cessou.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_15.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto