Para Phileas Fogg, a saída antecipada do Carnatic era notícia que muito o agradaria, mas vimos que ele sequer ficou sabendo. E isso porque Fix levou Passepartout ao entorpecimento na bodega frequentada por chineses viciados em ópio. O criado simplesmente não teve como comunicar o patrão!
Sabemos que Fix esperava impedir que o seu suspeito deixasse Hong Kong. As postagens anteriores mostraram que, embora atrasado, Fogg partiu com Aouda (e também o policial) para Shangai no Tankadère.
Então o maior trunfo
de Fix foi conseguir separar Passepartout de Fogg.
O que ocorreu ao Passepartout? Saberemos a partir desta postagem.
(...)
O pobre coitado foi carregado para a cama onde os
funcionários da taverna atiravam os viciados em estado de profundo
entorpecimento.
Por três horas, Passepartout delirou e sofreu terríveis pesadelos.
Inconscientemente lutou contra os efeitos da droga. O fato de não ter cumprido
o seu dever de avisar o patrão a respeito da saída antecipada da embarcação o
sufocava cada vez mais.
Ao despertar, o pobre rapaz teve sérios problemas para
manter o equilíbrio. Também sua memória falhava de modo temerário. Mesmo assim
retirou-se daquele antro gritando “o Carnatic! o Carnatic!”
(...)
Chegou ao porto...
A imensa embarcação estava
prestes a zarpar. Já nem havia amarras a prendê-la, e de suas chaminés saía
espeça fumaça. O Carnatic partiria a pleno vapor.
Numa louca disparada, Passepartout conseguiu atirar-se ao convés.
Exaurido pelo esforço, o rapaz perdeu novamente a consciência e foi conduzido
por dois marinheiros a uma cabine de segunda classe, onde adormeceu
profundamente.
Quando despertou no dia seguinte, a embarcação já havia se distanciado
cerca de cento e cinquenta milhas da China. Passepartout seguiu para o convés
para absorver lufadas de ar puro. Foi então que conseguiu recapitular um pouco
de tudo o que vivenciara no dia anterior.
Ainda de modo confuso, lembrou-se da conversa que tivera com Fix. E
também que se embriagara e que, por conta disso, teria cometido um ato de indisciplina.
O que mais o preocupava no momento era o fato de ter de se explicar com o
patrão. A seu favor teria a dizer que, pelo menos, não perdera o navio.
Em relação a Fix,
Passepartout acreditava que o patrão estava livre daquele estorvo que se
identificava como inspetor de polícia. Nem podia crer que o tipo quisera lhe
propor colaboração na acusação contra Fogg.
O criado achava engraçado
que um policial os seguisse o tempo inteiro... Pelo visto, também ele faria a “louca
volta ao mundo”! Todavia preocupava-se com a decisão que deveria tomar. Seria
prudente explicar quais eram as intenções de Fix ao patrão? Ou seria melhor deixá-lo
tranquilo para chegar a Londres em condições de vencer a aposta?
(...)
O certo é que
Passepartout queria apresentar-se a Fogg para pedir-lhe desculpas por todas as
suas trapalhadas.
O mar estava bem agitado, e foi com dificuldade que ele percorreu o
convés para procurar o patrão e também a jovem Aouda.
Como não os viu, concluiu
que a senhorita devia estar em repouso. E quanto a Phileas Fogg, certamente
estaria no salão jogando uíste.
O francês começou a se preocupar quando conferiu que o
patrão não ocupava nenhuma das mesas do salão. Restou perguntar ao purser (comissário
encarregado de atender a diversas necessidades dos passageiros) sobre a cabine
ocupada pelo senhor Fogg. O homem respondeu que nenhum dos passageiros tinha
este nome.
Passepartout insistiu e deu algumas características do modo de ser de
seu patrão, que certamente estava acompanhado de uma jovem...
O comissário explicou que não havia nenhuma
jovem entre os que viajavam no Carnatic. Na sequência mostrou-lhe a lista
completa de passageiros que ele mesmo pôde consultar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_17.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto