Como se pode depreender, Passepartout e Fix entraram num ambiente de criaturas deploráveis. O criado de Fogg não tinha dinheiro, mas aceitou que o colega bancasse o drink deixando claro que uma próxima ocasião seria por sua conta.
Falaram sobre trivialidades. Sobretudo se confraternizavam porque a partida do Carnatic havia sido antecipada e também pela felicidade de poderem embarcar mais uma vez no mesmo navio.
Passepartout já havia esvaziado mais de uma garrafa e se preparava para se retirar com a intenção de avisar Phileas Fogg a respeito da antecipação do embarque em algumas horas. Mas Fix pediu a ele que esperasse um pouco mais.
O policial disse que tinha a necessidade de falar a respeito de “coisas sérias”... Passepartout ingeriu umas gotas de vinho do Porto que estavam no fundo do copo e observou que podiam conversar no dia seguinte, pois no momento não tinha mais tempo para passatempos ou para outros assuntos.
É claro que o rapaz tinha noção de sua responsabilidade para com os acertos da viagem que prosseguiria. Então Fix disse que o que tinha a dizer se referia a Phileas Fogg.
Já que os assunto importante dizia respeito ao seu patrão, Passepartout resolveu que devia ouvi-lo. Fix começou perguntando se ele havia descoberto sua identidade. O francês sorriu e respondeu que “claro que sim”.
O policial temia aquela resposta, mas estava decidido a dar prosseguimento ao seu plano. Disse que tinha uma confissão a fazer. Passepartout antecipou-se e disse que agora que ele “já sabia de tudo” não fazia diferença. E completou que não podia deixar de sentenciar que “esses senhores” haviam se metido em despesas inúteis.
(...)
Mais uma vez precisamos lembrar que Passepartout estava convicto de que
Fix se tratava de um agente, um espião enviado pelos sócios apostadores do
Reform Club para conferir se o desafiante Phileas Fogg realizava a “viagem ao
redor do mundo” conforme o combinado. De sua parte, Fix imaginava que o rapaz
tinha descoberto a verdade sobre o seu ofício policial e a tarefa de perseguir
Fogg. Como sabemos, sua dúvida era em torno da cumplicidade do criado em
relação ao “golpe que o patrão havia dado”.
(...)
O policial redarguiu a respeito da ideia de “inutilidade” sentenciada
pelo seu interlocutor. Disse que Passepartout pensava daquela maneira porque
não sabia da quantia envolvida. Convicto de que o outro estava se referindo aos
valores apostados, o francês respondeu que sim, sabia que se tratavam de vinte
mil libras.
No mesmo momento Fix o corrigiu afirmando que a quantia era de cinquenta
e cinco mil libras. Disse isso e apertou a mão de Passepartout.
O criado se espantou com o
altíssimo valor e, incrédulo, acrescentou que o patrão não ousaria chegar a
tanto. Todavia a informação apenas aumentava a necessidade de não falhar nos
compromissos. E é por isso que mais uma vez ele tratou de se levantar para
colocar Fogg a par da saída antecipada do Carnatic.
Fix o forçou a sentar-se
novamente. Na sequência solicitou mais uma garrafa de conhaque. Repetiu que o
valor em questão era de cinquenta e cinco mil libras e explicou que se
cumprisse bem a sua missão receberia duas mil libras. Na sequência revelou que
se Passepartout o ajudasse seria gratificado em quinhentas libras.
O rapaz arregalou os
olhos. Fix explicou que tudo o que ele tinha a fazer era dar um jeito de
Phileas Fogg permanecer por mais tempo em Homg Kong.
A proposta irritou Passepartout. Indignado, disse que além de mandarem
seguir o seu patrão ainda pretendiam criar vários obstáculos para
dificultar-lhe a complicada empreitada! Aquilo era uma vergonha! Então quer
dizer que, além do mais, pretendiam que Phileas Fogg perdesse dinheiro?
Como vemos, o diálogo estava servindo para
alimentar as convicções de ambos. Fix respondeu que pretendiam mesmo que Fogg
“tirasse dinheiro do bolso”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_80.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto