Também Aouda pensava a respeito de Passepartout. Não se sentia bem por saber que o fiel servidor de seu patrão estava desaparecido. Ela reconhecia que o rapaz havia arriscado a própria vida por ocasião de seu resgate e jamais esqueceria o quanto devia agradecer-lhe.
(...)
Às dez da noite leve brisa refrescou a atmosfera.
John Bunsby observou o céu
e entendeu que não haveria problema se mantivesse a velocidade. As velas foram
mantidas e, no caso de intempérie, a embarcação estava preparada para enfrentar
aguaceiro.
Ele e seus homens permaneceram no convés.
À meia-noite Fogg e Aouda retiraram-se para o “pequeno aposento
quadrado”, Fix recolhera-se antes deles.
(...)
Ao amanhecer do dia seguinte (8 de novembro), Fogg
ficou sabendo que o Tankadère vencera mais de cem milhas. A embarcação não se
afastara muito da costa e as correntes foram bem aproveitadas, assim sua
velocidade variou entre oito e nove milhas. Pelo visto aquele era o desempenho
máximo, e se o tempo se mantivesse favorável certamente alcançaria seu
objetivo.
O vento soprava do continente e por isso o mar não estava agitado. Até
meio-dia o panorama foi este. Depois o vento diminuiu. Bunsby mandou armar as
velas triangulares (as gavetopes), mas duas horas depois elas tiveram de ser
recolhidas porque o vento “arrepiou novamente”.
(...)
Fogg e Aouda não tinham dificuldades com o sacolejar da embarcação.
Alimentaram-se normalmente das conservas e biscoitos. Convidaram ao Fix para
que partilhasse da merenda. Embora não se sentisse bem por ter de aceitar a
mais essa “delicadeza” de seu suspeito, não teve como recusá-la porque sabia
que tinha de se manter nutrido. Comeu o mínimo que pôde para não se constranger
ainda mais.
Depois da refeição, o policial achou por bem conversar à parte com
Fogg.
Gostaria de puxá-lo
pelo colete, mas se conteve. Adiantou-se a dizer que reconhecia a gentileza de
permitir que ele viajasse na embarcação contratada, de fato era muita
generosidade, todavia sentia-se na obrigação de pagar-lhe a parte devida.Fogg respondeu que não deviam falar sobre aquilo. Fix disse que insistiria. Mais uma vez Fogg negou. E dessa vez foi tão incisivo que o outro não teve como voltar à carga.
O policial ficou tão amargurado que se retirou à proa, onde deitou-se e permaneceu no mais completo silêncio.
(...)
O Tankadère seguia a
plena velocidade. Bunsby estava confiante e a todo momento dizia a Phileas Fogg
que venceriam o desafio. O inglês respondia apenas que esperava mesmo que
aquilo ocorresse.
Se dependesse da tripulação, o final seria dos mais satisfatórios.
Aqueles homens estavam animados pela remuneração prometida e é por isso que
mantinham escotilhas fechadas e velas içadas.
As manobras vinham sendo
muito bem executadas. À tarde o piloto constatou que haviam vencido duzentas
milhas desde que haviam deixado Hong Kong. Naquele ritmo chegariam a Yokohama
sem que o prejuízo pela perda do Carnatic trouxesse qualquer revés para a
viagem de Fogg.
(...)
O Tankadère navegou o estreito de Fo-Kien durante a
madrugada avançada. A ilha de Formosa ficava para trás e os aventureiros
ultrapassavam o trópico de Câncer.
Ali o mar demonstrou-se agitado e com muitos redemoinhos. Não foi nada
fácil manter-se de pé do convés. A atmosfera mudou completamente e o progresso
da embarcação tornou-se irregular demais.
Bunsby previra essa situação no final do dia anterior.
O sol havia se escondido numa bruma avermelhada. O céu também dava sinais da mudança.
O piloto entendeu que não devia esconder a verdade e certificou-se de que Fogg
esperava mesmo saber de tudo o que ocorria. Ao aproximar-se dele sentenciou que
uma borrasca se aproximava.
Fogg quis saber
simplesmente de que direção vinha a intempérie. Bunsby mostrou que ela vinha do
sul.
Formava-se um tufão. Então Fogg recomendou que
aproveitassem a força daquele fenômeno para prosseguir. O piloto respondeu que
faria como o contratante desejava.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_14.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto