Nos registros de 9 de dezembro de 1893 Helena destacou que terminava o ano com um tremendo fracasso escolar. Não foi aprovada no primeiro ano da Escola Normal.
A menina justificou a situação garantindo que o que pesou na reprovação foi sua “falta de sorte”, nada mais do que isso.
Na sequência, ela explicou que quase todas as colegas conseguiam colar durante os exames. Mas durante a prova de Geografia, pelo menos para ela e as mais próximas, foi impossível.
(...)
As garotas preferiam um tipo de cola que elas chamavam
de “sanfona”. Não é difícil depreender que se tratava de uma folha com várias
dobras onde se escreviam as informações necessárias para a realização de uma
boa prova. A avaliada abria a “sanfoninha” e copiava as repostas pertinentes às
questões assim que se sentia segura de que não estava sendo vigiada pelos avaliadores.
Helena dá a entender que para cada prova eram necessárias várias “sanfonas”.
Cada uma devia conter respostas para uma ou mais questões que podiam ser
cobradas durante o exame. No dia do exame de Geografia ela se preparou bem...
Quer dizer... Fez as várias “sanfonas” e tinha tudo para se tirar uma boa nota.
(...)
O ponto (conteúdo, matéria) “Rios do Brasil” foi
selecionado pelo professor para a prova escrita (havia também provas orais).
Logo que viu o assunto, Helena sentiu-se tranquila porque havia preparado a “sanfoninha”
com o tema. Precisou apenas de recorrer à cola.
Ela foi copiando as respostas. Não se esquecia de, a cada vez que as
registrava, ditar de modo que as colegas mais próximas conseguissem ouvir e
também responder corretamente. Como se vê, as garotas trabalhavam em equipe.
Aconteceu que o professor Artur Queiroga notou o expediente e desceu do
estrado. No mesmo momento resolveu posicionar-se do lado de Helena. Desde então
ela teve de manter a “sanfoninha” debaixo da carteira e simplesmente parou de
fazer a prova.
A garota ficou com as mãos sobre a mesa enquanto o professor Queiroga
pedia para que ela prosseguisse com a prova. “Vamos! Continue!”, é o que ele
dizia. Helena conta que havia interrompido a resposta num trecho em que estava
descrevendo o Rio Amazonas.
Ela não tinha condições de prosseguir, mas o professor voltava à carga
insistindo que ela continuasse a escrever. “Vamos! Escreva!”.
Foi então que ela resolveu
dizer que não podia, pois estava “afogada no Rio Amazonas”.
O homem soltou forte gargalhada,
e isso chamou a atenção dos demais examinadores. Todos eles se dirigiram à mesa
de Helena. O professor Queiroga disse que se conseguissem tirá-la do Amazonas
talvez ela pudesse prosseguir.
(...)
Pelo visto todos acharam
muita graça quando ele começou a “orientá-la” com um “corre para aqui, recebe
estes afluentes, desemboca acolá”...
Helena não teve a
menor condição de prosseguir. Ela e as colegas próximas sentiram-se
impossibilitadas de terminar a prova.
O episódio serviu para distrair os demais professores que, dessa
maneira, deixaram as demais meninas livres para colar à vontade.
No final, Helena teve de
entregar sua “sanfoninha” ao professor.
Ele queria que ela explicasse por que perdia tanto
tempo se dedicando àquela artimanha em vez de estudar.
Helena respondeu que não sabia explicar por que agia daquela maneira na
época das provas. Disse que haviam lhe ensinado e que considerava “o sistema
bom”.
(...)
A semana de exames prosseguiu. Durante as demais
avaliações os professores se posicionaram próximos à mesa de Helena. Então o
resultado foi mesmo lastimável.
O que ela podia fazer?
Essa foi a sua sorte
naquele fim de ano letivo.
Seu inconformismo ficou por conta do sossego que
as outras tiveram para colar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/05/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_7.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto