Phileas Fogg entendeu o recado que o condutor quis transmitir... No mesmo instante em que o funcionário tombava e dizia que o trem precisava ser freado em cinco minutos, o inglês sentenciou que a composição seria parada a qualquer custo. Depois tomou a iniciativa de se atirar para fora do vagão.
Talvez Fogg achasse que pudesse chegar à locomotiva desgovernada agarrando-se às janelas, mas elas também eram concorridas pelos sioux que continuavam a lutar contra os passageiros.
Passepartout impediu o patrão de lançar-se para fora... Pediu que deixasse com ele aquela difícil tarefa e já foi saindo em meio às lutas e trajetórias de balaços.
(...)
Como
sabemos, ele era um rapaz cheio de habilidades, e foi como um acrobata que se
enfiou sob os vagões... Agarrou-se às alavancas e correntes e assim foi
passando de um compartimento para outro... Também foi graças a uma série de
cabos existentes sob a composição que chegou à parte dianteira.
Enfim colocou-se
entre o vagão de bagagem e aquele que carregava água e carvão para abastecer a
fornalha (o tênder)... Num esforço espetacular, o francês conseguiu
desenganchar as correntes de segurança.
Faltava desinstalar o
parafuso que segurava a barra de atrelagem... Felizmente, como que um milagre,
ocorreu um abalo e a composição tremulou, fazendo a barra se soltar. Dessa
forma, a locomotiva se separou dos demais compartimentos e prosseguiu
desenvolvendo sua velocidade pela ferrovia.
Aos poucos os vagões
que permaneceram atrelados uns aos outros tiveram a velocidade diminuída e
prosseguiram por mais alguns minutos... Essa condição tornou-se favorável para
que, de dentro deles, os passageiros acionassem os freios.
Os vagões pararam a
menos de cem passos da estação de Kearney. Os soldados que estavam instalados
no forte saíram em socorro aos viajantes... Os guerreiros sioux se viram
inferiorizados e por isso trataram de bater em retirada antes mesmo que o trem
parasse por completo.
(...)
Uma vez que se viram a salvo dos ataques, os passageiros passaram a
conferir os estragos causados pelos índios. Também procuraram ter uma noção das
baixas... Notaram a falta de três homens...
Infelizmente Passepartout não estava entre os que se colocaram na
plataforma. Muitos comentavam a respeito de sua coragem e lamentavam a sua
ausência.
(...)
Havia muitos feridos entre os sobreviventes... Por
sorte, nenhum deles corria risco de morte.
Logo percebeu-se que
o que estava em estado mais crítico era o coronel Proctor... O homem havia
lutado bravamente e tombou depois de ter sido atingido por um balaço na virilha.
Ele e outros feridos tiveram de ser instalados numa sala da estação para
receberem maiores cuidados.
(...)
A jovem Aouda estava muito bem... E o mesmo podia ser dito de Phileas
Fogg que, apesar de ter se exposto perigosamente nas lutas contra os
saqueadores, saiu sem qualquer arranhão. Fix apresentava um dos braços feridos,
nada que preocupasse...
Especulava-se
a respeito dos desaparecidos... Estariam mortos ou acabaram capturados pelos
sioux?
Aouda não conseguia
conter sua tristeza e lágrimas ao pensar no desaparecimento de Passepartout.
(...)
Todos
os passageiros se retiraram dos vagões...
Eles viram que as
pesadas rodas da composição estavam manchadas de sangue... Delas pendiam restos
humanos...
Havia rastros de
sangue por toda a pradaria... Os que sobreviveram entre os sioux fugiram para o
sul e já atingiam o rio Republican.
Os passageiros
comentavam a respeito do quadro pavoroso que contemplavam... Discutiam sobre
muitas coisas... Falavam sobre a agressão que sofreram, as lutas que travaram
contra os sioux... Comentaram a respeito dos feridos.
Estavam a salvo na estação e tinham os vagões à disposição... Todavia
faltava-lhes a locomotiva e, como se sabe, tanto o maquinista quanto o foguista
haviam sido violentamente atingidos por porretes.
Fogg
observava a tudo silenciosamente... Ele tinha decisões urgentes a tomar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/08/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto