A verdade é que Fix deixou escapar que queria evitar acidentes que prejudicassem a viagem de Fogg, dando a entender que ele tinha interesses ocultos na conclusão da “volta ao mundo”. Passepartout o interrompeu a tempo e sentenciou que o melhor que tinham a fazer era impedir o encontro de seu patrão com o coronel americano.
O francês pensava na aposta de Fogg com os membros do Reform Club... Mais tarde quis saber de Fix se, de fato, falava seriamente quando anunciou que se atracaria com Proctor... O policial respondeu que estava disposto a fazer qualquer coisa para que Fogg chegasse vivo à Europa.
Passepartout pensou sobre as convicções de Fix... Notou que o homem estava mesmo determinado a levar aquela história de incriminar Fogg no caso do assalto ao Bank of England. Mas, de sua parte, nada o faria mudar de opinião sobre a integridade de seu patrão.
No final das contas os dois entendiam que Phileas Fogg devia ser mantido afastado do coronel americano...
(...)
Algum tempo depois,
Fix puxou conversa com o seu suspeito falando-lhe a respeito das “longas horas”
que passavam no trem.
O
policial deu a entender que o cavalheiro devia sentir falta das partidas de
uíste, pois eram o seu entretenimento predileto nos salões das embarcações.
Fogg explicou que no trem havia empecilhos para o jogo, principalmente a falta
de baralho e de parceiros.
Fix respondeu que as
cartas podiam ser compradas no próprio trem, onde vendia-se de tudo... E
emendou que ele e Aouda podiam ser suas companhias de jogo. A jovem garantiu
que o uíste fazia “parte da educação inglesa”, assim não via nenhum inconveniente
em participar do carteado.
(...)
Em pouco tempo
Passepartout conseguiu obter o que lhe fora encomendado. Logo ele apareceu com
dois baralhos, fichas, “tentos” e um tablado adequado para o jogo.
As partidas tiveram
início e Fogg percebeu que Fix e Aouda eram jogadores capacitados e
competentes... Como estavam em três, parte das cartas ficavam num “monte” ao
qual dá-se o nome de “morto”.
Passepartout tornou-se
mais calmo depois que percebeu que seu patrão aprovou o passatempo.
(...)
Às onze horas o trem alcançou um dos pontos mais elevados das Rochosas
(Pass Bridger, 2300 metros de altitude).
Na região notam-se cursos d’água que partem para os dois oceanos que
banham a América. Depois de avançar cerca de trezentos quilômetros, a
composição alcançou as pradarias que marcam a paisagem até o Atlântico.
Sem dúvida o tipo de relevo era dos mais propícios
à instalação de ferrovias e ao bom desempenho das locomotivas. Ao longe os
passageiros puderam contemplar as montanhas que fazem parte das Rochosas em sua
porção setentrional, onde está localizado o pico de Laramie. Os rios que passaram
a avistar seguiam cursos que desaguam no Rio Platte Norte. Mais abaixo e à
direta da ferrovia estavam as nascentes do Rio Arkansas, que deposita suas
águas no gigante Mississipi.
(...)
Os ponteiros do
relógio marcavam meio-dia e meia quando o trem passou pelo forte Halleck... Depois
desse ponto restava pouco para que as Rochosas fossem definitivamente vencidas.
A expectativa era das melhores, pois até a neve havia parado.
O trem avançou satisfatoriamente. É certo que a temperatura havia
diminuído bastante e o ar tornara-se mais seco, mas ao que tudo indicava a
viagem prosseguiria sem acidentes até a costa leste.
Conforme
a composição ganhava os trilhos, os pássaros selvagens voavam para longe da
ferrovia. A vasta planície apresentava-se deserta... Nem mesmo ursos ou lobos
eram avistados pelos passageiros.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de_9.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto