sexta-feira, 21 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – registros de 24 e 25 de dezembro de 1895; nenhuma referência ao Natal; um pouco sobre a condição dos mais pobres pedintes; Helena e sua opinião sobre o prazer de trabalhar; divisão de tarefas; o dia das lavadeiras à beira do rio; saborosa refeição

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_21.html antes de ler esta postagem:

Helena produziu alguns registros em seu diário nos dias 24 e 25 de dezembro de 1895... Como poderemos notar, em nenhum deles há referências a respeito do Natal, comemoração ou troca de presentes.
(...)
A nota mais interessante a respeito do dia 24 é a que dá conta de que a família, estava acomodada à sombra de um pequizeiro... A tarde era bela e todos estavam felizes.
Uma pobre mulher passou pedindo esmola... Entre os familiares de Helena estava Lucas (não está claro se ele era filho de tia Agostinha ou de um conhecido da Bela Vista). Ele perguntou por que a mulher não se dedicava a algum trabalho em vez de pedir esmolas, afinal ela era jovem.
A moça respondeu que era muito pobre e que sendo assim não teria condições de trabalhar. A reação do grupo foi rir das palavras da estranha. Mas Helena deu razão para ela ao ponderar que ninguém a “alugaria para cozinhar”... Nem mesmo se ela se dedicasse a recolher lenha... Ninguém comprava lenha na Bela Vista!
A pedinte agradeceu as palavras de Helena e completou que qualquer serviço que arranjasse logo teria fim... O que ela precisava era de “uns cobrinhos” que fossem suficientes para comprar feijão.
(...)
Enquanto escrevia em seu diário, Helena refletiu sobre o episódio... Sentenciou que não sentia pena da pobreza das pessoas. Mas sim daqueles que não trabalham.
Em sua opinião, o pior castigo era não ter o que fazer e “ficar à toa”. De certo modo, sua “vadiação” na escola tinha a ver com a sua ideia de não considerar que o estudo fosse um trabalho.
Em outras palavras, Helena gostava da atividade que o trabalho braçal proporcionava... Para ela, o espírito devia estar livre para que pudesse pensar no que bem quisesse... Assim poderia “sonhar castelos”, imaginar situações ideais para a sua vida e de todos da família.

(...)

Sua redação de 25 de dezembro dá conta de que o dia se iniciara muito bem... Sua felicidade era total por estar no campo.
Dona Carolina contratou os serviços de uma senhora de avançada idade, dona Luzia... Esperava-se que ela auxiliasse em algumas tarefas. Mas aconteceu que as mulheres da família tiveram de continuar a dar conta da maioria das tarefas.
(...)
Pela manhã, Dona Carolina ajeitou a roupa que precisava ser lavada... Era uma amontoado de mais de uma semana!
A velha colocou a trouxa de roupas na cabeça e pagou panelas que seriam utilizadas na hora do almoço... Ela carregou tudo até a margem do rio onde as mulheres  lavariam os panos.
Dona Carolina se separou do grupo para levar o almoço ao marido... Helena e Luisinha prosseguiram com a tia Agostinha e as primas Naninha e Glorinha... Benvinda, criada da tia, seguiu com elas.
Os rapazes cuidaram de buscar lenha, fazer vassouras, pescar e preparar armadilhas para pombas...
(...)
A velha dona Luzia ficou com a tarefa de preparar a comida... Ajeitou pedras, “fez a trempe, colocou o caldeirão de feijão e acendeu o fogo”... Benvinda recolheu lenha e passou a ajudá-la no preparo do almoço.
O trabalho de Helena, Luisinha, primas e tia consistiu em ensaboar as roupas nas águas do rio e estendê-las “nas pedras para corar”.
A refeição ficou pronta e era das mais simples e saborosas... Helena chama a comida de “prato para trabalhador” (feijão de tropeiro com farinha, torresmos, ovos fritos e arroz; sobremesa, banana e queijo).
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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