Helena produziu alguns registros em seu diário nos dias 24 e 25 de dezembro de 1895... Como poderemos notar, em nenhum deles há referências a respeito do Natal, comemoração ou troca de presentes.
(...)
A nota mais
interessante a respeito do dia 24 é a que dá conta de que a família, estava
acomodada à sombra de um pequizeiro... A tarde era bela e todos estavam
felizes.
Uma pobre mulher passou pedindo esmola... Entre os familiares de Helena
estava Lucas (não está claro se ele era filho de tia Agostinha ou de um conhecido
da Bela Vista). Ele perguntou por que a mulher não se dedicava a algum trabalho
em vez de pedir esmolas, afinal ela era jovem.
A
moça respondeu que era muito pobre e que sendo assim não teria condições de
trabalhar. A reação do grupo foi rir das palavras da estranha. Mas Helena deu razão
para ela ao ponderar que ninguém a “alugaria para cozinhar”... Nem mesmo se ela
se dedicasse a recolher lenha... Ninguém comprava lenha na Bela Vista!
A pedinte agradeceu
as palavras de Helena e completou que qualquer serviço que arranjasse logo teria
fim... O que ela precisava era de “uns cobrinhos” que fossem suficientes para
comprar feijão.
(...)
Enquanto
escrevia em seu diário, Helena refletiu sobre o episódio... Sentenciou que não
sentia pena da pobreza das pessoas. Mas sim daqueles que não trabalham.
Em sua opinião, o
pior castigo era não ter o que fazer e “ficar à toa”. De certo modo, sua
“vadiação” na escola tinha a ver com a sua ideia de não considerar que o estudo
fosse um trabalho.
Em outras palavras,
Helena gostava da atividade que o trabalho braçal proporcionava... Para ela, o
espírito devia estar livre para que pudesse pensar no que bem quisesse... Assim
poderia “sonhar castelos”, imaginar situações ideais para a sua vida e de todos
da família.
(...)
Sua redação de 25 de dezembro
dá conta de que o dia se iniciara muito bem... Sua felicidade era total por
estar no campo.
Dona Carolina
contratou os serviços de uma senhora de avançada idade, dona Luzia... Esperava-se
que ela auxiliasse em algumas tarefas. Mas aconteceu que as mulheres da família
tiveram de continuar a dar conta da maioria das tarefas.
(...)
Pela manhã, Dona Carolina ajeitou a roupa que precisava ser lavada...
Era uma amontoado de mais de uma semana!
A velha colocou a trouxa de roupas na cabeça e pagou panelas que seriam
utilizadas na hora do almoço... Ela carregou tudo até a margem do rio onde as
mulheres lavariam os panos.
Dona Carolina se separou do grupo para levar o
almoço ao marido... Helena e Luisinha prosseguiram com a tia Agostinha e as
primas Naninha e Glorinha... Benvinda, criada da tia, seguiu com elas.
Os rapazes cuidaram
de buscar lenha, fazer vassouras, pescar e preparar armadilhas para pombas...
(...)
A velha dona Luzia ficou com a tarefa de preparar a comida... Ajeitou
pedras, “fez a trempe, colocou o caldeirão de feijão e acendeu o fogo”... Benvinda
recolheu lenha e passou a ajudá-la no preparo do almoço.
O trabalho de Helena, Luisinha, primas e tia consistiu em ensaboar as
roupas nas águas do rio e estendê-las “nas pedras para corar”.
A
refeição ficou pronta e era das mais simples e saborosas... Helena chama a
comida de “prato para trabalhador” (feijão de tropeiro com farinha, torresmos,
ovos fritos e arroz; sobremesa, banana e queijo).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_22.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto