terça-feira, 18 de julho de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 3 de dezembro de 1895; as dificuldades no estudo de Física; dicas de Antonico Eulálio e sucesso na prova escrita; “Bombas Hidráulicas”, o único ponto não estudado; repercussão sobre os “três ótimos”; a desastrosa prova oral e a possibilidade de “segunda época”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_18.html antes de ler esta postagem:

No dia 3 de dezembro de 1895 Helena escreveu sobre os exames finais de Física. Ela deixa claro que, em sua opinião, a matéria nunca fizera muito sentido... Sequer tinha ideia do tipo de estudo tratado pela ciência.
Mas podemos imaginar que suas preocupações fossem mais ou menos as mesmas que suas colegas traziam... Ela cita certo Antonico Eulálio, um tipo com quem algumas falaram a respeito dos “pontos” que deviam estudar.
Pelo visto este Eulálio dera dicas interessantes sobre como decorar conceitos que impressionariam os examinadores... De acordo com a menina, seu método possibilitava “fingir que se sabe a respeito dos conteúdos”.
Aconteceu que Helena decorou todos os pontos e guardou na memória as várias informações, inclusive os nomes complicados de aparelhos! O único “ponto” sobre o qual ela não fez progressos foi o de “Bombas Hidráulicas”... Vejam só!
Essa matéria foi deixada de lado porque não houve tempo de exercitar a sua memorização. No final das contas, Helena considerou que não seria possível que exatamente este conteúdo caísse nos exames.
(...)
A prova escrita ocorreu no dia anterior e foi das mais tranquilas... Tudo indica que os temas sobre os quais as alunas deviam tratar fossem sorteados.
Helena conta que, para ela, “saiu o Princípio de Arquimedes”. Então, como dominava o assunto, resolveu sentar-se no banco da frente... Assim todos podiam ver que estava habilitada e que não precisava de subterfúgios para obter uma boa nota.
De vez em quando perguntava ao professor Artur Napoleão como se escrevia um ou outro nome mais complicado. O homem ficou espantado com aquela novidade e quis saber quem lhe havia ensinado tanto.
Ela continuou a escrever tudo o que vinha à memória sem se esquecer de destacar os nomes dos aparelhos que se relacionavam às questões... Com naturalidade respondeu ao professor que Antonico Eulálio ensinara-lhe a estudar melhor.
O resultado foi surpreendente. Helena tirou “três ótimos”!
(...)
A prova oral ficou para o dia 3...
Logo que chegou à escola, Helena foi interpelada pelas colegas a respeito da prova do dia anterior... Certa Maria Pena ficara sabendo dos “três ótimos” pelo próprio professor.
O comentário geral era que ela só podia ter “colado” no exame e que seu Artur Napoleão a considerava “a menina dos olhos” e, sendo assim, não havia a menor possibilidade de ela se sair mal em Física.
Helena concordava que o professor a tratava de modo diferenciado... Ele conversava e era brincalhão com ela. Até mesmo os “três ótimos” podiam ter sido um exagero de sua parte.
Ela tinha consciência de que não tinha comportamento exemplar durante suas aulas... Jamais se sentava nos bancos da frente e logo que respondia à chamada encaminhava-se para o fundo da sala, onde passava o tempo a fazer crochê.
É claro que também o professor sabia que Helena não era das mais estudiosas. Ao vê-la subir a escadaria da escola perguntou-lhe a respeito da discrepância entre o seu comportamento durante o ano e a excelente prova final... Impressionado, quis saber com quem ela havia estudado e se estava preparada para responder sobre “Bombas Hidráulicas”. Cheia de confiança, Helena respondeu que “sabia muito bem” a respeito daquela matéria.
O professor Napoleão a parabenizou e confessou que esperava atribuir-lhe uma “distinção”... Mas estava receoso em relação às “Bombas Hidráulicas”... Helena respondeu que eram muitos os pontos que tiveram de estudar e que certamente cairia uma matéria qualquer... Por que haveria de cair exatamente “Bombas Hidráulicas”?
(...)
Enquanto se encaminhava para o salão, Helena pensou nas palavras do professor... Seria muita “desgraça” se o exame oral fosse exatamente sobre aquele ponto.
As moças ainda comentavam a respeito de sua façanha do dia anterior... Diziam que exame de Física não é como o de História que “todos passam sem estudar”... Outras observavam que, mesmo que ela não respondesse nada na oral, os “três ótimos” disfarçariam o resultado final.
Havia uma ponta de inveja nas palavras das garotas... Para elas o que contava era o fato de Helena ser querida pelos professores.
(...)
Chegou a vez de Helena fazer o exame. Ela foi chamada e colocou a mão em uma urna para retirar o papel com o tema sobre o qual deveria falar...
Ao ler “Bombas Hidráulicas”, sentiu-se amargurada e com um nó na garganta... Sem dizer palavra, voltou para a sua carteira em pranto.
O professor Napoleão encaminhou-se até o seu lugar e disse baixinho que ela podia realizar o exame sem medo... Quem seria reprovada com “três ótimos”?
Helena entendeu que o professor tinha mesmo consideração por ela... Mas não viu outra saída a não ser dizer que não sabia nenhuma palavra a respeito daquele ponto.
Ela retornou para casa com a convicção de que teria chance de obter “distinção” na prova de “segunda época” (que era um período para “recuperação” dos alunos com resultados insatisfatórios).
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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