No dia 3 de dezembro de 1895 Helena escreveu sobre os exames finais de Física. Ela deixa claro que, em sua opinião, a matéria nunca fizera muito sentido... Sequer tinha ideia do tipo de estudo tratado pela ciência.
Mas podemos imaginar que suas preocupações fossem mais ou menos as mesmas que suas colegas traziam... Ela cita certo Antonico Eulálio, um tipo com quem algumas falaram a respeito dos “pontos” que deviam estudar.
Pelo visto este Eulálio dera dicas interessantes sobre como decorar conceitos que impressionariam os examinadores... De acordo com a menina, seu método possibilitava “fingir que se sabe a respeito dos conteúdos”.
Aconteceu que Helena decorou todos os pontos e guardou na memória as várias informações, inclusive os nomes complicados de aparelhos! O único “ponto” sobre o qual ela não fez progressos foi o de “Bombas Hidráulicas”... Vejam só!
Essa matéria foi deixada de lado porque não houve tempo de exercitar a sua memorização. No final das contas, Helena considerou que não seria possível que exatamente este conteúdo caísse nos exames.
(...)
A
prova escrita ocorreu no dia anterior e foi das mais tranquilas... Tudo indica que
os temas sobre os quais as alunas deviam tratar fossem sorteados.
Helena conta que,
para ela, “saiu o Princípio de Arquimedes”. Então, como dominava o assunto,
resolveu sentar-se no banco da frente... Assim todos podiam ver que estava habilitada
e que não precisava de subterfúgios para obter uma boa nota.
De vez em quando
perguntava ao professor Artur Napoleão como se escrevia um ou outro nome mais
complicado. O homem ficou espantado com aquela novidade e quis saber quem lhe
havia ensinado tanto.
Ela continuou a escrever
tudo o que vinha à memória sem se esquecer de destacar os nomes dos aparelhos
que se relacionavam às questões... Com naturalidade respondeu ao professor que Antonico
Eulálio ensinara-lhe a estudar melhor.
O resultado foi
surpreendente. Helena tirou “três ótimos”!
(...)
A prova oral ficou para o dia 3...
Logo que chegou à escola, Helena foi interpelada pelas colegas a
respeito da prova do dia anterior... Certa Maria Pena ficara sabendo dos “três
ótimos” pelo próprio professor.
O comentário geral era que ela só podia ter “colado”
no exame e que seu Artur Napoleão a considerava “a menina dos olhos” e, sendo
assim, não havia a menor possibilidade de ela se sair mal em Física.
Helena concordava que
o professor a tratava de modo diferenciado... Ele conversava e era brincalhão
com ela. Até mesmo os “três ótimos” podiam ter sido um exagero de sua parte.
Ela tinha consciência de que não tinha comportamento exemplar durante
suas aulas... Jamais se sentava nos bancos da frente e logo que respondia à
chamada encaminhava-se para o fundo da sala, onde passava o tempo a fazer
crochê.
É
claro que também o professor sabia que Helena não era das mais estudiosas. Ao
vê-la subir a escadaria da escola perguntou-lhe a respeito da discrepância
entre o seu comportamento durante o ano e a excelente prova final...
Impressionado, quis saber com quem ela havia estudado e se estava preparada
para responder sobre “Bombas Hidráulicas”. Cheia de confiança, Helena respondeu
que “sabia muito bem” a respeito daquela matéria.
O professor Napoleão a
parabenizou e confessou que esperava atribuir-lhe uma “distinção”... Mas estava
receoso em relação às “Bombas Hidráulicas”... Helena respondeu que eram muitos
os pontos que tiveram de estudar e que certamente cairia uma matéria
qualquer... Por que haveria de cair exatamente “Bombas Hidráulicas”?
(...)
Enquanto
se encaminhava para o salão, Helena pensou nas palavras do professor... Seria
muita “desgraça” se o exame oral fosse exatamente sobre aquele ponto.
As moças ainda
comentavam a respeito de sua façanha do dia anterior... Diziam que exame de
Física não é como o de História que “todos passam sem estudar”... Outras
observavam que, mesmo que ela não respondesse nada na oral, os “três ótimos”
disfarçariam o resultado final.
Havia uma ponta de
inveja nas palavras das garotas... Para elas o que contava era o fato de Helena
ser querida pelos professores.
(...)
Chegou a vez de
Helena fazer o exame. Ela foi chamada e colocou a mão em uma urna para retirar
o papel com o tema sobre o qual deveria falar...
Ao ler “Bombas
Hidráulicas”, sentiu-se amargurada e com um nó na garganta... Sem dizer
palavra, voltou para a sua carteira em pranto.
O professor Napoleão encaminhou-se até o seu lugar e disse baixinho que
ela podia realizar o exame sem medo... Quem seria reprovada com “três ótimos”?
Helena entendeu que o professor tinha mesmo consideração por ela... Mas
não viu outra saída a não ser dizer que não sabia nenhuma palavra a respeito
daquele ponto.
Ela
retornou para casa com a convicção de que teria chance de obter “distinção” na
prova de “segunda época” (que era um período para “recuperação” dos alunos com
resultados insatisfatórios).
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_19.html
Leia: Minha
Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto