Como vimos, Fogg, Passepartout e Aouda entendiam que a aposta havia sido perdida por cinco minutos!
O criado se dirigiu à casa do reverendo às 20:05 do “domingo”!
Então como explicar que Phileas Fogg tenha vencido a disputa com os cinco apostadores do Reform Club conforme o relato repleto de suspense da última postagem?
Houve uma “reviravolta” no caso. Precisamos saber como isso ocorreu.
(...)
Aconteceu que
Passepartout apressou-se, pois estava animado com a boa nova do casamento de
seu estimado patrão com Aouda... Pensava que pelo menos isso tinha acabado bem.
O
reverendo Samuel Wilson não estava em casa. O francês concluiu que ele ainda
não havia retornado dos ofícios dominicais. O jeito foi esperar.
Às oito e trinta e
cinco, Passepartout deixou a residência do religioso... E mais do que depressa
retornou à casa da Saville Row... Na disparada acabou perdendo o chapéu e
derrubou várias pessoas pelo caminho... Tanto correu que em três minutos chegou
à casa do senhor Fogg.
O patrão estranhou o
modo atabalhoado de Passepartout e também o seu estado de esgotamento...
Perguntou-lhe o que estava acontecendo. O rapaz não conseguiu se expressar. Foi
a custo e de modo fragmentado que conseguiu comunicar que o casamento não podia
ser realizado no dia seguinte.
Fogg quis saber o
motivo e Passepartout explicou que haviam chegado vinte e quatro horas
adiantados... Portanto tinham chegado a Londres na sexta-feira à noite...
Portanto estavam vivendo exatamente o sábado, dia 21 de dezembro!
(...)
O rapaz mal terminou
de explicar e agarrou o patrão pelo colarinho. Na sequência puxou-o para fora da
casa... Não demorou e Fogg entrou numa carruagem acertando um pagamento de cem
libras ao cocheiro.
A carruagem seguiu a toda velocidade, atropelou cachorros e passou perigosamente
por outros veículos que estavam no caminho.
Foi assim que Fogg alcançou o Reform Club antes de o relógio acusar as
oito e quarenta e cinco da noite para vencer a aposta de vinte mil libras.
(...)
Como se explica o erro no cálculo das datas?
Fogg, Passepartout e
Aouda na verdade desembarcaram em Londres no dia 20 de dezembro, sexta-feira.
Portanto a viagem teve a duração de setenta e nove dias.
Tendo o trajeto ocorrido em direção ao leste, Fogg “ganhou um dia em seu
itinerário”. Se a volta tivesse ocorrido no sentido inverso, “perderia esse dia”.
Seguindo “à frente do sol”, a duração dos dias diminuía “quatro minutos a cada
grau” de longitude ultrapassado.
Verne
demonstra o cálculo... Os trezentos e sessenta graus correspondentes à toda
circunferência do planeta multiplicados por quatro minutos totalizam as vinte e
quatro horas.
De modo simplificado,
podemos dizer que o aventureiro assistiu a oitenta ocasos durante sua viagem, já
os apostadores do Reform Club viram o sol passar por suas cabeças setenta e
nove vezes.
(...)
Alguém
poderia questionar o que Fogg ganhou
concluindo a viagem ao redor do mundo... Enfrentou muitos perigos! Teve de
apelar para todo tipo de transporte possível àquela época (trens, embarcações e
até o elefante Kiuni!). Passou por inúmeras e belas paisagens sem poder
contemplá-las.
Como se sabe, gastou
muito dinheiro e teve de suportar a muitos inconvenientes... Assim, ter vencido
a aposta não lhe proporcionou aumento da riqueza.
(...)
É Verne quem tem a
palavra final... Lógico! O texto é dele!
Ele
afirma que certamente as pessoas concluiriam que Fogg nada ganhou. Mas
acrescenta que ao ter conquistado a “encantadora Aouda” tornou-se “o mais feliz
dos homens!”
E completa: “Na verdade, por menos que isso, não se daria a volta ao
mundo?”
Fim.
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto