A disposição de Teodorico não se comparava à de Topsius.
O alemão estava animado. Logo que se instalou no Hotel Mediterrâneo pôs-se a trabalhar... Investigou o mapa, fez anotações e planejou a incursão às margens do Jordão. Sabia o que queria... Dispusera-se a viajar porque tinha as pesquisas como propósito.
O português estava contrariado. A romagem lhe era penosa... Fizera a viagem para cumprir os desejos da tia Patrocínio. Teria de percorrer os locais sagrados do Cristianismo e conseguir a valiosa relíquia para ela. Pretendia cumprir essa missão aproveitando ao máximo as oportunidades de “relaxações”.
Acontece que desde que deixaram Alexandria o rapaz não experimentou nenhum prazer. A amargura tomou conta de seu ser logo que se separou da Maricocas! Vimos o seu padecimento durante a viagem pelo Mar de Tiro. O que dizer de seu devaneio?
Chegaram a Jerusalém num dia chuvoso. Teodorico entendeu que o hotel era deprimente... Deprimentes eram todos os que caminhavam de um lado para outro... A sopa do jantar não lhe agradou. Maçada!
(...)
No
momento mesmo em que desaprovava a sopa, Teodorico notou que a porta se
abriu... Uma hóspede estupenda chegou para a refeição noturna. Ele não pôde
deixar de dizer ao companheiro Topsius que acabava de entrar uma “grande mulher”.
A respeito dela, os registros dão conta de que era “sólida e saudável”... Teodorico gostou do que viu. Sua pele, carregada de charmosas sardas, era de uma brancura impressionante. Os cabelos castanhos caíam-lhe em ondas. Ela usava um vestido azul que parecia não suportar o volume de seus seios fartos.
A respeito dela, os registros dão conta de que era “sólida e saudável”... Teodorico gostou do que viu. Sua pele, carregada de charmosas sardas, era de uma brancura impressionante. Os cabelos castanhos caíam-lhe em ondas. Ela usava um vestido azul que parecia não suportar o volume de seus seios fartos.
(...)
Para Teodorico,
aquela visão era simplesmente espetacular... Finalmente uma jovem exuberante
naquelas paragens frequentadas por penitentes e outros beatos que só buscam santidade.
Topsius a comparou à deusa Cibele.
A bela posicionou-se
à mesa. Ao seu lado sentou-se um tipo robusto, calvo e de barbas grisalhas. O
Raposo apelidou-o “Hércules tranquilo”. Os gestos desse tipo denunciavam
privilegiada posição social. Certamente era endinheirado e muitos deviam-lhe
obediência. Algumas palavras de sua conversa com a Cibele chegaram aos ouvidos
do português, que entendeu que se tratavam de ingleses como a Maricocas.
A imagem da “inglesa do senhor barão” (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/09/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_82.html) invadiu o
pensamento de Teodorico. A comparação foi inevitável.
(...)
A mulher abriu um livro que parecia ser de poesias e o acomodou ao lado
do prato... O grandalhão mastigava majestosamente enquanto consultava o “Guia
do Oriente”.
Teodorico praticamente abandonou o prato que
trazia um guisado de carneiro para contemplar a beleza da Cibele. De vez em
quando ela ajeitava os cabelos que atrapalhavam sua visão... Isso também
conferia-lhe charme, mas o rapaz não conseguia ver os seus olhos, pois ela os
dirigia aos muros externos, às flores das mesas e às páginas do livro.
Depois do jantar veio
o café...
Depois do café, a mulher dos cabelos castanhos beijou a mão do
cavalheiro e se retirou do recinto.
Para
Teodorico, foi como se a “alegria de Jerusalém” partisse. Ele notou que o “grande
Hércules” acendeu o cachimbo e solicitou ao serviçal que chamasse o guia
Ibraim.
(...)
No momento em que se
levantava, o tipo derrubou involuntariamente o guarda-chuva de Topsius sem
perder a altivez ou manifestar qualquer palavra de escusa. Teodorico
indignou-se e protestou vociferando que só podia tratar-se de um bruto...
O homem já havia se retirado... Topsius manteve a disciplina (ou
covardia, de acordo com a opinião de Teodorico), limpou o guarda-chuva e
pronunciou que talvez se tratasse de um duque.
Teodorico
discordou... Disse que não se importava com essa história de duques ou “que tais”.
Tipos como aquele deviam saber que ele era o Raposo, “dos Raposos do Alentejo”,
que podia “rachá-los” com uma braçada.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/10/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_77.html
Leia: A
Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto