quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – a rica propriedade de um parente de Valério Grato; bela casa, belo jardim e hábitos latinos; a severidade da casa de Osânias e o dízimo da Páscoa; grandioso acampamento dos que buscam Jerusalém

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/11/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_21.html antes de ler esta postagem:

De fato, Teodorico só podia se impressionar com a magnífica paisagem que passou a contemplar... Uma rica vegetação, plantações e árvores frutíferas passaram a fazer parte do caminho. A atmosfera pesada e descorada verificada em Jericó havia ficado definitivamente para trás.
Evidentemente o ânimo do rapaz melhorou. Sequer se lembrava de refletir a respeito das incoerências daquela viagem. Quando passou a cavalgar por um trecho ladeado por belo e perfumado roseiral deu início a uma animada cantoria... E assim permaneceu até ser interrompido por Topsius.
(...)
O alemão quis mostrar-lhe uma casa no alto de uma elevação...
O lugar era tomado por cedros e ciprestes... O imóvel tinha o pórtico branco voltado para o leste... De acordo com o estudioso, a propriedade pertencia a um parente de Valério Grato (“antigo Legado Imperial da Síria”).
Topsius garantiu que o bom gosto latino decorava o interior daquela casa, onde um rico tapete exibia em destaque belas flores e as iniciais de Valério Graco... Vasos gregos (de Corinto) com acantos floridos se espalhavam pelo jardim repleto de rosas, açucenas e murta... Ali as aves abundavam e não eram poucas as que, não sendo as domesticadas, desciam para ciscar.
De onde estavam observavam tantas estátuas quanto as que podiam ser encontradas nos mais ricos templos... Pelo menos foi isso o que Topsius sustentou.
Teodorico notou que tudo ali transmitia tranquilidade e paz. Observou a presença de um velho servo atarefado... E também que, próximo a um caramanchão, havia uma fonte em que a água caía lentamente sobre um artefato de bronze.
Uma estátua de Esculápio (da mitologia greco-romana) completava o ambiente onde um senhor de toga lia registros em papiro. Uma jovem lhe fazia companhia enquanto fazia grinaldas de flores.
O trotar dos cavalos chamou a atenção da moça, que dirigiu o olhar aos dois viajantes. Topsius transmitiu-lhe uma saudação... Teodorico gritou-lhe “Viva la Gracia”.
(...)
Mais à frente, Topsius quis falar sobre outra vivenda... Esta tinha aspecto severo... Disse que pertencia a certo Osânias, “rico saduceu de Jerusalém, da família pontifical de Boetos, e membro do Sanedrim”.
Ali não havia ornamentos. O desenho da casa era quadrado e podia-se dizer que seu aspecto era resultado da lei austera do poder local. Tributos rendiam a riqueza acumulada nos grandes celeiros... Dez escravos estavam guardando sacas de trigo vinhos, carneiros e tudo o mais que vinha sendo arrecadado como pagamento pelo dízimo do dia de Páscoa.
Teodorico observou que na beira da estrada estava a “sepultura doméstica”.
(...)
Na sequência alcançaram Betfagé, povoado carregado de palmeiras...
Topsius parecia conhecer bem aqueles caminhos e decidiu que deviam seguir por um atalho que passava pelo Monte das Oliveiras. Seu objetivo era alcançar o quanto antes o local onde as caravanas costumavam parar no percurso que realizavam desde o Egito até Damasco. A paragem era conhecida por abrigar um importante lagar.
Teodorico encantou-se logo que chegaram ao topo do Monte Moabita...
O que ele viu de tão impressionante?
O lugar estava tomado por uma infinidade de barracas. Formou-se um “acampamento sem fim” e aquele povo todo se deslocava para Jerusalém!
Tendas foram ajeitadas entre as oliveiras da encosta e imaginava-se que elas se estendiam até o Cédron... Também os pomares do vale estavam tomados de peregrinos desde Siloé... Nada diferente do que se via na estrada de Hébron. A ocupação era simplesmente extraordinária.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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