quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – o essênio Gade e sua narrativa sobre o resgate da cabeça de João Batista; Gamaliel insiste a punição ao Rabi da Galileia estava de acordo com o cumprimento da lei; Manassés, seguidor das ideias revolucionárias de Judas de Gamala explica que o prisioneiro desviava o povo da “verdadeira missão”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_64.html antes de ler esta postagem:

Nesse momento do “discurso de Gamaliel”, Gade foi tomado de profunda emoção...
Exclamou o nome de Iocanã e lágrimas rolaram pelas suas faces... Então revelou que ele mesmo buscara a cabeça do supliciado e que, enquanto seguia com ela protegida no próprio manto, Herodíade vociferava injúrias desde a muralha do palácio.
O essênio explicou que seguiu pelos caminhos da Galileia por três dias e três noites. Levou a cabeça do mártir segurando-a pelos cabelos... Garantiu que eventualmente um anjo coberto de negro retirava-se de trás de rochedos para caminhar ao seu lado...
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Gade parou de falar, baixou a cabeça e ajoelhou-se. Com os braços abertos voltou às suas orações.
(...)
Gamaliel aproximou-se de Topsius e disse que o povo possuía uma lei muito clara. Essa lei é a “palavra do Senhor”, Jeová, “o eterno, o primeiro e o último”, que não transmite Seu nome ou Sua glória a outros... Todos sabiam bem que antes Dele jamais houve deus algum, e que não há nem “haverá deus algum” depois Dele.
O anfitrião explicou que aquelas eram afirmações do próprio Deus, que estabeleceu também que todo aquele que se apresentar no meio de Seu povo como “profeta, visionário” (a fazer milagres e a querer introduzir outro deus e novos cultos) deverá morrer. Isso estava de acordo com a lei.
Manassés intrometeu-se e disse que não concordava com a tese do doutor da lei. Para ele, as palavras não deviam ser tomadas a pleno rigor, pois as leis que os regiam eram “suaves”. Ele prosseguiu dizendo que todos reconhecem que “a lamparina acomodada num sepulcro jamais substituirá o Sol”. Do mesmo modo, pouco importava se um homem abria os braços e gritava para todos que era um deus. Isso era pouco para que se recorresse aos carrascos!
(...)
Teodorico estava concordando com as palavras de Manassés. Mas na sequência o homem passou a vociferar que o Rabi da Galileia devia ser condenado à morte. Ele justificou dizendo que o Rabi só podia se tratar de um mau judeu, mau cidadão e que, inclusive, havia sido visto a dar conselhos sobre o pagamento de tributos a Roma. Além disso, durante três anos de pregações, ninguém jamais o ouviu defender qualquer rebelião  para expulsar os imperialistas.
Manassés esclareceu que os judeus esperavam um messias que libertasse Israel pela espada. Sendo assim não havia razão para esperar algo de produtivo do Rabi prisioneiro, conhecido por discursos que mais confundiam do que inspiravam. Quem podia entender o que Ele dizia ao manifestar que trazia “só o pão da verdade”?
O povo estava carente, mas era de uma liderança que promovesse a união contra a autoridade romana... Os romanos tinham lanças e promoviam repressão. Certamente não seria o Rabi galileu que traria a esperada libertação. Ele anunciava o “pão do céu” e o “vinho da verdade”... Em quê isso resolveria a condição de opressão que judeus sofriam?
Manassés, que era adepto das ideias de Judas de Gamala (galileu que por muitos anos liderou rebeliões contra os romanos), encerrou seu protesto dizendo que a verdade para os judeus era a de que não devia haver romanos em Jerusalém. 
(...)
A atmosfera tornou-se mais pesada por causa do impetuosidade de Manassés.
Gamaliel não escondia seu sorriso frio... Já o velho Osânias direcionou seu olhar para a janela...
Manassés voltou a vociferar que o discurso do Rabi aprisionado (em sua pregação a respeito de um reino do céu) desviava as pessoas da “verdadeira missão”. Concluiu que o Rabi só podia ser um traidor da pátria e, assim sendo, devia morrer.
Brandindo a espada, o rapaz tinha o olhar inquieto como se estivesse convocando toda a gente judaica para uma guerra.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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