segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – discurso de Sareias bajulando os conquistadores e de estranhamento em relação à posição de Antipas no caso do Rabi da Galileia; ataques à postura do Réu diante do Sanedrim; as palavras do assessor romano não endossaram as do acusador judeu; acusações de cunho político; Gade está presente e se manifesta

Boas festas a todos...

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_23.html antes de ler esta postagem:

O discurso de Sareias fez referências a Herodes Antipas, tetrarca da Galileia, filho de Herodes, o Grande...
Ele não poupou elogios à prudência e aos feitos dos dois líderes políticos. Disse que o pai ficara conhecido pela restauração do templo e sua fidelidade ao império romano... O filho se destacava por sua determinação.
Todavia Sareias ressaltou que estranhava o fato de o tetrarca não confirmar a sentença à morte que o Sanedrim havia determinado ao réu Jesus. Na sequência, quis deixar claro que a decisão estava fundamentada nas leis do Eterno... Explicou que o sábio e justo Hanão fizera perguntas ao Rabi... Mas Este permaneceu no mais completo silêncio.
Para muitos, aquela postura era das mais ofensivas e desrespeitosas... O representante do Sanedrim no julgamento ressaltou que não foi por acaso que o réu havia sido esbofeteado por um dos que presenciaram o seu pouco caso com o pontificado...
(...)
Tudo indicava que o discurso de Sareias custaria a terminar...
Teodoricus (que conhecemos por Teodorico Raposo) bocejava... Sem dar muita atenção ao falatório, dedicou-se a notar os modos de dois tipos que estavam acomodados logo abaixo da posição onde ele e Topsius haviam parado. Os tipos se distraíam comendo tâmaras de Betabara e bebendo de uma cabaça. Depois voltou seu olhar para Pilatos, que mantinha o punho sob a barba... O orador passou a falar sobre os “direitos do templo” e o pretor pôs-se a contemplar os próprios borzeguins (calçado militar) de cor escarlate.
Sareias garantiu que o templo era orgulho da nação e “morada eleita do Senhor”. Lembrou que César Augusto havia ofertado ”escudos e vasos de ouro” àquele templo. No entanto o Rabi que estava sendo julgado não demonstrara o menor respeito pelo templo... Bem ao contrário, ameaçou destruí-lo.
O representante do Sanedrim lembrou que muitos podiam testemunhar a respeito de certas palavras do Réu... Ele teria dito que derrocaria o templo e o edificaria em três dias... Essa imprudência poderia mesmo atrair a cólera de Deus... A blasfêmia era de transtornar!
(...)
As palavras de Sareias foram contundentes... Os fariseus, escribas, “netenins do templo e “escravos sórdidos” presentes na audiência passaram a sussurrar repercutindo a grave denúncia.
Enquanto isso, o Réu conservava-se imóvel... Mantinha os olhos fechados... Parecia mesmo distante. Talvez pensasse a respeito de suas propostas para aquela sociedade que o atacava...
Logo o assessor romano levantou-se... Depois de acomodar o leque sobre o banco, fez umas saudações a Pilatos e passou a se pronunciar movimentando as mãos que ostentavam uma bela joia... Também seu manto era esplêndido e chamava a atenção dos presentes.
Teodorico (não aquele que conhecia a história que ali se desenrolava) quis saber de Topsius o que homem dizia... O alemão respondeu que a autoridade forense falava “coisas infinitamente hábeis”. Em sua opinião, o tipo era pedante, mas não deixava de ter razão... Em síntese, dizia que o pretor não era judeu e que não entendia nada a respeito da religião local... Além disso não tinha interesse nos profetas locais ou em suas ofensas a Jeová.
O representante romano salientou que “a espada de César não vinga deuses que não o protegem”.
Na opinião de Topsius, o homem discursou com muita habilidade... Não podia deixar de reconhecer isso...
(...)
Encerrada a sua falação, o representante romano voltou a sentar-se. Sareias retomou a palavra, e dessa vez agitou os braços para os fariseus... Não escondeu que os chamava para fortalecer o protesto que estava fazendo.
Vociferou acusando Jesus... Mas não fez mais referências aos ataques à religião... Em vez disso, disse que Ele se apresentara como postulante a “príncipe da casa de Davi!”
Sareias garantiu que a gente em Jerusalém O havia visto entrar pela Porta de Ouro com ares triunfais... Significativa aglomeração de galileus o saudou com palmas verdes aos gritos de "Hosana ao filho de Davi, hosana ao rei de Israel!..."
Neste momento o orador foi interrompido por um grito que ecoou pelo salão... Ninguém menos do que Gade ousou manifestar que “Ele é o filho de Davi” e que viera “para nos tornar melhores!”
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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