sábado, 27 de janeiro de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – o fim da narrativa sobre os últimos momentos do Rabi da Galileia; Topsius e a ideia do “nascimento da lenda inicial do cristianismo”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_26.html antes de ler esta postagem:

Como se vê, o longo e conturbado sonho de Teodorico reserva-nos uma versão conturbadora a respeito dos episódios que se seguiram à crucificação de Cristo...
A polêmica que a envolve só pode ser inaceitável pelos cristãos, e torna “A Relíquia” um dos romances mais controversos.
(...)
O companheiro de Gade que articulava o grupo dos que conduziriam o Rabi da Galileia ao oásis de Engada explicou-lhe que fizeram de tudo para salvá-Lo, mas Ele não resistiu... O homem chegou a dizer que provavelmente o ocorrido tinha a ver com “coisas mais altas”.
Gade caiu de joelhos... Foi como se tivesse perdido a razão de viver...
(...)
O misterioso homem foi se retirando... Topsius o deteve e quis que ele dissesse o que ocorreu na sequência...
Quer dizer que o Rabi havia morrido “com a cabeça sobre o peito de Nicodemo”... O alemão não deixou escapar a chance de perguntar.
O homem se dispôs a falar aos dois estrangeiros... Com todo cuidado, levou-os para junto de um dos pilares e disse que “era necessário, para bem da terra, que se cumprissem as profecias!”... Depois explicou que José de Ramata recolheu-se em oração por cerca de duas horas. Seus adeptos permaneceram em silêncio até que ele se pôs a gritar “Elias veio! Elias veio! Os tempos chegaram!"
Será que o próprio Senhor falara em segredo a José de Ramata? Isso era algo que os que estavam presentes em sua casa não podiam responder. O certo é que logo depois ele pediu que enterrassem o Rabi numa caverna que ficava logo atrás do moinho em sua propriedade.
(...)
O homem afastou-se de Topsius e Teodorico... Pegou sua lâmpada e ia se recolher quando foi interrompido por Gade mais uma vez.
O essênio ainda soluçava e voltou sua face para lhe dizer que “Grande é o Senhor, na verdade!”... Depois perguntou a respeito do primeiro túmulo, onde Ele fora deixado com os panos perfumados.
O homem parecia querer encerrar de uma vez por todas aquele assunto e já avançava em meio à escuridão quando respondeu que o outro túmulo ficou “aberto e vazio”.
(...)
Não havia mais o que fazer ali...
Topsius conduziu Teodorico arrastando-o para a saída... Os dois tropeçavam e batiam contra os pilares.
Por fim chegaram a uma porta que se abriu assim que suas travas se desprenderam... Do outro lado havia “uma praça, rodeada de pálidos arcos, triste e fria, com erva entre as fendas das lajes dessoldadas, como numa cidade abandonada”...
Topsius sentenciou que a noite terminara e que era momento de deixarem Jerusalém.
(...)
Assim terminava a “viagem ao passado”, o fim do “longo e polêmico sonho” de Teodorico.
Seus registros ainda reservaram algumas considerações sobre as últimas palavras de Topsius...
Após deixarem o sítio onde abandonaram o deprimido Gade, o pesquisador alemão deu a entender que tivera a oportunidade de conhecer como se fez “a lenda inicial do Cristianismo” que colocaria fim ao “mundo antigo”.
A cada palavra do companheiro de viagem, Teodorico se via mais apavorado... Ele notava a agitação que dominava o especialista...
Topsius prosseguiu dizendo que logo que o Sabá terminasse, as mulheres voltariam ao sepulcro de José de Ramata e o encontrariam aberto e vazio. Após se certificar do desaparecimento do Rabi, a “crente e apaixonada” Maria de Magdala sairia a gritar que Ele havia ressuscitado.
Topsius não escondeu sua ironia quando disse que o amor daquela mulher “mudaria a face do mundo e daria uma religião mais à humanidade”.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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