quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – a vista desde o quarto do hotel; acomodando os dois embrulhos; Pote conta as novidades; “Retiro do Sinai” e possibilidade de diversão; Topsius fala sobre importante descoberta relacionada à “Bela Porta” do antigo templo; desabafo de Teodorico

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_31.html antes de ler esta postagem:

Instalaram-se no Hotel Mediterrâneo, na área católica de Jerusalém...
Teodorico esclarece que o quarto que contrataram era claro e que possuía um tabique com ramagens azuis...
Assim que entrou no aposento, recordou-se por um momento da grande sala dotada de candelabros de ouro e da escultura do imperador romano... Aquela em que, no sonho, Pilatos apareceu para ouvir as queixas de Rabi Robã e seu séquito em relação à punição que esperavam para Jesus (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/12/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_28.html).
Evidentemente não havia como comparar os ambientes... Dirigindo-se à janela, o rapaz teve vontade de ver um pouco mais da Jerusalém de seu tempo. Viu o grande convento com as janelas verdes fechadas... Viu que, na encosta, uma série de escadas dava acesso a áreas mais altas, planas e ajardinadas... Frades franciscanos e judeus de vestes amarrotadas iam e vinham...
(...)
O quarto era bem arejado e isso compensava o cansaço da “ardida viagem” pela Samaria... Teodorico conferiu a maciez do colchão e gostou do que viu... Abriu o armário de mogno e acariciou o embrulho “redondo e gracioso com o seu nastro vermelho” que guardava a camisa de Mary. Com todo cuidado o ajeitou entre seus pares de meias.
No mesmo instante, Pote chegou trazendo o outro precioso embrulho... Aquele que continha a relíquia reservada para a Titi... O pacote era “redondo e nítido com o seu nastro vermelho”.
O guia havia passado no salão do “barbeiro da Via-Dolorosa”, e de lá trazia as novidades... Então foi contando que, desde Constantinopla, um firman (decreto das autoridades islâmicas daquela cidade) obrigava certo patriarca grego a exilar-se em Jerusalém. O velho era conhecido pela caridade que fazia aos mais pobres e por sofrer de males hepáticos...
Pote prosseguiu dizendo que estivera “na loja de relíquias da Rua Armênia”... Ali ficou sabendo de uma confusão entre religiosos franciscanos e uma missão protestante... Os que se envolveram chegaram a trocar socos! O próprio Cônsul Damiani, da Itália, garantiu que antes mesmo do “dia de Reis” o seu país entraria em conflito armado contra a Alemanha...
Outra notícia apreendida pelo alegre guia foi a da confusão que havia ocorrido na Igreja da Natividade, em Belém... Ele contou que no momento em que benzia hóstias, um padre latino “rachou a cabeça de um padre copta com uma tocha de cera”...
Pote deixou para o fim a novidade que julgava a mais interessante... Disse que, nas proximidades da porta de Herodes, tendo como vista o Vale de Josafate, inauguraram o “Retiro do Sinai”, nada mais nada menos do que “um café com bilhares”!
(...)
De fato, essa última notícia animou Teodorico... O rapaz pareceu retornar à modernidade. Saltou sobre o ladrilho e soltou um “Viva!” ao Retiro... Emendou que estava pronto para divertir-se, inclusive com mulheres.
Pediu que Pote acomodasse o embrulho da coroa de espinhos. Orientou que a tratasse com todo cuidado porque ela lhe renderia muito...  Explicou que o pacote devia ser colocado sobre a cômoda, “entre os castiçais”. Disse que sua Titi ficaria encantada.
Pote entendeu que, após o jantar, o rapaz seguiria direto ao “Retiro do Sinai”. Talvez ele mesmo pudesse se refestelar com aquele inesperado programa!
(...)
Mas aconteceu que Topsius entrou naquele mesmo instante. Ele estava muito animado e foi dizendo que a “Comissão de Escavações Bíblicas” havia encontrado uma valiosa lápide de mármore que, com base nos escritos de Josefo, Fílon e dos talmudes, só podia ter pertencido à “Bela Porta”, que proibia entrada aos estrangeiros...
O alemão estava agitado e quase perdeu o fôlego ao sugerir que, após tomarem da sopa, deviam seguir imediatamente ao encontro daquela maravilha.
Teodorico ainda teve tempo de “visualizar em pensamento” a bela, “preciosa e triunfal” porta e “os seus quatorze degraus de mármore verde de Numídia” que conhecera no sonho (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/01/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_7.html), antes de disparar que de modo algum o seguiria.
Agitou os braços e vociferou que estava farto de todas aquelas expedições. E mais! Acrescentou que não mais sairia atrás de qualquer “pedregulho” ou qualquer outro “sítio de religião”.
Topsius o ouviu e nada disse. Na sequência retirou-se para o seu erudito compromisso.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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