segunda-feira, 12 de março de 2018

“A Relíquia”, de Eça de Queiroz – da “Biblioteca Universal” – as últimas sobre o padre Negrão, felizardo herdeiro dos bens do padre Casimiro, "cuidador" do padre Pinheiro e amante da Adélia

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/03/a-reliquia-de-eca-de-queiroz-da_12.html antes de ler esta postagem:

No dia mesmo em que Teodorico comprou a quinta do Mosteiro, quis saber do Justino a respeito do padre Negrão assim que seu agente se retirou do cartório... O tabelião deu-lhe longa resposta que, no final das contas, colocou-o a par da situação dos demais amigos da tia Patrocínio.

Justino disse que o padre Negrão andava a pechinchar bens... Explicou que o bom Casimiro não durou muito depois da morte de Dona Patrocínio e deixou-lhe tudo por herança.
Depois disso, o Negrão aproximou-se do padre Pinheiro, que também não tinha herdeiros) e, pelo visto, também andava “pelas últimas”... O afortunado Negrão o transferiu para Torres dando a entender que os novos ares o curariam. Contudo sabia-se que o adoentado empanturrava-se nos jantares promovidos por seu “benfeitor” e a cada dia se via mais esbugalhado.
Daí podia concluir-se que a melhor parte da herança do comendador Godinho passara para as mãos do padre Negrão...
Como não podia deixar de ser, Teodorico exclamou que o desafeto era uma besta. O tabelião respondeu que ele até podia expor o seu despeito, mas a verdade é que o outro possuía bela carruagem e casa em Lisboa...
Além de tudo isso, o Negrão vinha dispensando cuidados a uma bela rapariga chamada Adélia.


(...)

No mesmo instante o Raposo arregalou os olhos e quis saber mais daquela história. Então Justino disse que a fulana era “uma de boas carnes”, que por algum tempo estivera envolvida com certo Eleutério, e depois com um bacharel basbaque... A respeito desse último, o tabelião não tinha informações...
Evidentemente Teodorico sabia quem era o “bacharel basbaque”...
Na sequência, Justino disse que o Negrão estava sustentando o luxo da Adélia, com seus tapetes, cortinas de damasco e tudo o mais.
O padre estava mais gordo e corado... Justino o vira no dia anterior, quando ele retornava de uma celebração na igreja de São Roque e a queixar-se de esgotamento de tanto “dizer amabilidades a um diabo de um santo”...
(...)
Simplesmente irreconhecível...
Pelo menos Teodorico não o associaria àquele da fatídica noite no oratório da tia Patrocínio.
Para Justino, o padre Negrão era engraçado, tinha “bons amigos, lábia e influência em Torres”...
Não seria de espantar se ainda acabasse consagrado bispo.
Leia: A Relíquia – Coleção “Biblioteca Universal”. Editora Três.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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