O patrão e seu compadre João Manico não perderam um lance sequer da topada da qual o vaqueiro Badú saiu-se com maestria...
À distância, acenderam cigarros e puseram-se a refletir sobre o ocorrido ao mesmo tempo em que contemplavam a paisagem... Praticamente a mesma em que, no ano anterior, os vaqueiros tiveram o problema com a “vaca traiçoeira”.
Um alívio para o Sete-de-Ouros, que ainda se recuperava da última carreira.
(...)
Quem
se aproximou às carreiras foi Francolim... Ele havia acompanhado os demais
vaqueiros até certo ponto, mas retornou.
O rapaz chegou
espavorido e dizendo que o Seu Major teria de tomar uma providência “de
autoridade” e com urgência.
O
major o interrompeu pedindo-lhe que tomasse fôlego... Depois ordenou que
trocasse de montaria com João Manico. Era essa a surpresa que o Major Saulo
estava reservando para o compadre.
João Manico agradeceu
por ter de deixar o burro e logo recebeu ordem para alcançar o vaqueiro Raimundo,
pois o patrão queria ter com ele.
(...)
Francolim ficou sem
jeito... Segurou o burrico pelos arreios fazendo pouco caso... É claro que o
major devia estar achando muita graça, mas não a expressou com as costumeiras risadas.
Disse apenas que o “imediato” devia montar logo o Sete-de-Ouros e cavalgar sem
esporá-lo porque o bicho era de estimação.
O moço não tinha como
desobedecer... Disse que o fazia só mesmo pelo respeito que tinha ao patrão.
Este respondeu que ele era de sua confiança e que tinha “mais responsabilidade”
de ajudá-lo.
Francolim gostou do
que ouviu e disse que, pelo patrão, até carregava pedras... Mas emendou que
gostaria muito que o major destrocasse as montarias na entrada do arraial... E
justificou que, como ajudante principal, se sentiria desmoralizado se fosse
visto pelo povo montado no burrinho. Salientou que não queria se mostrar
ofensivo, pois sabia que o animal era de sua estimação.
O major prometeu devolver-lhe o cavalo e fazer João Manico voltar a
montar o Sete-de-Ouros. Depois observou que o “imediato” perdeu a pressa de
contar o que havia começado.
Francolim retomou o assunto dizendo que não estava brincando e que tinha
visto “tudo” desde o começo. Então explicou que o que tinha a dizer era sobre o
episódio da briga de Badú mais o boi bravo.
(...)
O Major Saulo deu a entender que não havia o que
ser dito porque “todo mundo viu” o ocorrido. Então Francolim redarguiu que ele
tinha visto desde o começo.
Contou que Badú
desceu do poldro para apertar a cilha, e nisso deu as costas para a boiada. O
patrão observou que a atitude não foi prudente, pois “vaqueiro de verdade não
faz isso”.
Francolim defendeu o rapaz salientando que ele quis fazer do modo
correto, mas o poldro “desinquieto” pôs a dar volteios. Major Saulo fez que
entendia o comportamento da montaria rebelde e disse que ainda era um animal
novo que não gostava de olhar para os bois.
O
que Francolim quis dizer era que Badú estava trabalhando na cilha ao mesmo
tempo em que tinha de encontrar posição para ficar livre dos coices de sua
montaria. O que ele não esperava era o Silvino atiçar o marruaz, o de porte
mais avantajado de todos!
E como Silvino fez
isso? O imediato explicou que ele “sacudiu lenço vermelho”... Isso deu uma
atrapalhada na boiada. O Raimundo foi rápido e reorganizou os animais...
Ninguém viu o Silvino galopar na direção do Badú... O marruaz seguiu logo atrás
e na vontade de desmontar alguém.
No
entendimento de Francolim, Silvino tinha agido de propósito e de modo criminoso.
Desviou logo que se aproximou de seu desafeto para que o monstro o atacasse.
(...)
O Major Saulo cortou
o assunto... Disse que conhecia o resto da história. Observou que os dois
vaqueiros não brigaram e que tudo acabou bem, do jeito mesmo que ele gostava.
Francolim insistiu
que a controvérsia ainda não estava resolvida e salientou que achava que a
confusão entre os dois vaqueiros estava apenas começando. Em sua opinião, “alguma
energia” devia ser empregada... O caso era que Silvino podia matar Badú ainda
naquele dia.
Então
o patrão devolveu outra possibilidade: “E se o Badú matar Silvino?”
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_3.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto