Os homens se apressaram nos preparativos.
Por todo lado via-se a correria. Os animais, parecendo pressentir que partiriam conduzidos pelos cavaleiros, também mais se agitavam nos cercados.
Uma voz apressava os demais garantindo que “quem vai na frente bebe a água limpa!”... O Raymundão protestava com Sinoca ao garantir que era sua a macia pele que o outro acomodava sobre a sela... Sinoca, conhecido entre os demais pelo passado de estabilidade na família, discutia com Leofredo que parecia não se importar com sua montaria que estorvava a do rapaz... Em vez de prestar atenção nos demais, Leofredo (que era um tipo de espantosa magreza) se organizava cantando “Eu vou dar a despedida, como deu o bem-te-vi...”
De comportamento diferente era o Tote, um tipo mais sisudo. Ele era irmão (os dois tinham a mesma mãe) de Silvino, mais dado ainda ao temperamento explosivo. Tote ajeitava sua montaria e resmungava com Bastião (Sebastião, o capataz) a respeito dos arreios muito longos. O Silvino tinha mesmo uma fisionomia de mau, sem comunicar-se com os demais dedicava-se a dar um nó no rabo de seu belo cavalo da cor de café-com-leite.
(...)
O anteriormente
citado Sebastião montava Rio-Grande, cavalo da fazenda de passadas largas e
macias. Outros peões que integrariam o grupo de vaqueiros eram Zé Grande, que
montava o Cata-Brasa, e Benevides que montava o veloz e bem tratado Cabiúna.
Sobre Benevides, o
texto destaca que se tratava de um “Baiano importante” de “dentes limados em
ponta” e que trajava três peças de roupa de couro além do chapéu (diferentemente
dos demais que, de couro, usavam apenas o chapelão).
(...)
Como vimos, os
vaqueiros participariam da empreitada de tocar o gado do Major Saulo por quatro
léguas desde a fazenda... Até aqui foram citados: João Manico, Raymundão,
Sinoca, Leofredo, Tote, Silvino, Bastião, Zé grande e Benevides.
Eles acertavam os
últimos detalhes para a partida... Sinoca montava o Amor-Perfeito, cavalo de
Dona Maricota, e fazia graça ao dizer que “Cavalo manso de moça só se encosta
em tamborete”.
O cavalo “do menino da casa” era conhecido por Belmonte e estava
servindo de montaria para Juca Bananeira... Este chegou apressando os demais e
querendo saber onde estava o Badú.
Major Saulo caminhou de um lado para outro chamando o Francolim, pois
este devia saber do paradeiro do vaqueiro que faltava para que o grupo
estivesse completo.
O baiano Benevides quis auxiliar, respondeu que
Francolim também não estava, então, montado em seu cavalo, gritou por ele: “Ooó,
Francolim!”
(...)
Todos começaram a
gritar os nomes dos ausentes... Em meio à movimentação dos cavaleiros, as vacas
procuraram proteger seus bezerros e saíram em disparada para os fundos do
terreiro.
A cadelinha Sua-Cara não suportou a carreira dos cavalos em círculos e
começou a latir no alto da escada.
Juca
Bananeira insistia em gritar por Badú... Até que alguém anunciou que o rapaz
estava chegando, e que o atraso só podia ser porque estivera se despedindo da
namorada.
Logo depois foi a vez
de Francolim aparecer... Ele chegou mastigando algo e com a desculpa de que teve
de conferir se “lá por dentro” (provavelmente estivera na cozinha) estava tudo
em ordem. O Major Saulo sentenciou que “joá com flor formosa não garante terra
boa” e o chamou para mais perto.
Na sequência pediu
para o moço observar mais uma vez os currais... De onde estavam ele podia ver
que estavam cheios... O patrão pronunciou umas palavras de espanto a respeito
do rebanho... Citou que o gado havia sido submetido ao “meloso” por menos de
dois meses e por vinte dias ao “jaraguá”... Apesar do curto período, tinham ali
excelentes exemplares.
Francolim respondeu
que ali era tudo “gordura honesta de bois”... Depois falou a respeito do
fazendeiro vizinho, certo seu Ernesto, que encaminhou seu rebanho na semana
anterior e que em suas terras era comum darem sal com enxofre aos animais para
ganharem peso em menos tempo...
O
rapaz garantiu que aquilo era só “inchação”, “gordura de mentira”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_6.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto