Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_15.html antes de ler esta postagem:
A descrição que Raimundo fez do zebu Calundú na noite em que a canguçu foi ao Recanto para atacar uma das crias do Major Saulo foi de arrepiar.
Ele acrescentou aos vaqueiros que parecia que havia certa magia na atmosfera daquela noite. A fisionomia do garrote encheu-se de ferocidade ao mesmo tempo em que adquiria uma estatura fenomenal.
Raimundo deu a entender que se um dos que o ouviam o tivessem visto diriam que ele estava chamando a onça para o combate. Com o comportamento alterado, o grandalhão podia estar transmitindo os mais feios palavrões à felina!
Neste ponto é melhor ficarmos com as palavras do contador do causo:
“a corcunda (do Calundú) ia até lá em baixo, no lombo, e, na volta, passava do lugar seu dela e vinha pôr chapéu na testa do bichão. Cruz! E até a lua começou a alumiar o Calundu mais do que as outras coisas, por respeito”...
(...)
Imaginamos
Raimundo falando apaixonadamente sobre o episódio... Seus olhos deviam brilhar!
Um dos vaqueiros
disse que quase não estava mais acreditando no que ouvia... Então Raimundo observou
que podia ter se iludido por uma visão que dominou a sua consciência... Ele
mesmo já não duvidava de nada. Na sequência disse que mais tarde ficou sabendo
que também as onças tinham um anjo da guarda.
A respeito de sua
última consideração, Raimundo ressaltou que todos ali deviam saber que o tigre
só arma o seu bote depois de verificar tudo à sua volta... O bicho deve pensar!
E nos momentos de ataque pensa todas as possibilidades e nunca deixa de pular. Mas
com a canguçu foi diferente naquela noite... Parece que estava tudo certo, mas
no último momento deve ter pensado um pouco mais e passou a dar uns passos para
trás... Fez isso rastejando por um bom pedaço. Depois disparou a correr para
muito longe sem dar um miado sequer.
O que mais Raimundo
podia dizer sobre a onça? Apenas que ela havia sido muito esperta... Os demais
vaqueiros concordaram.
(...)
Estavam chegando ao córrego...
A certa distância puderam notar que estava bem cheio... A água já atingia
a metade de um pé de ingazeiro de grande porte localizado no leito. Não se via
mais o barranco e um dos homens apostou que até à noite a água subiria ainda
mais.
Por experiência, sabiam que haveria problema no trecho... A lua não era
boa... O ano terminava em seis... A grande quantidade de folhas de buriti na
correnteza era um indicador de que a água vinha desde as cabeceiras.
Os homens pararam com os animais para observar
com atenção aquele desastre... Um deles disse que ouvira o comentário sobre as
chuvas nas nascentes que já duravam quatro dias.
Neste momento
Francolim chegou trazendo recado para o Sebastião segurar o pessoal... Deviam
esperar “e não apertarem o gado na travessia”.
Ao que tudo indica, o Bastião deu sua opinião... Disse que a situação
estava bem complicada, mas não se comparava às passagens de boiadas pelo rio
Jequitinhonha. Francolim concordou, disse que conhecia aquelas paragens e que certa
vez fizera a travessia de “seiscentas cabeças de gado da Bahia”. Sobre o
Jequitinhonha, tinha a dizer que não era a sua largura o que mais dificultava,
mas a sua correnteza brava. Então tocavam um lote de bois mais mansos e
acostumados à situação... Havia vaqueiros que alugavam bois que não tinham medo
das águas... Conseguiam isso em sítios da beira do rio. Depois os homens podiam
atravessar numa barcaça enquanto vigiavam a boiada nadar.
(...)
O major chegou e foi direto ao Sebastião. O patrão comentou que o vau (o
ponto de travessia a pé) estava bem pior do que o resto... Por isso sugeriu descerem
mais para encontrar outra travessia.
Sebastião
respondeu que não encontrariam outro lugar onde pudessem passar com
segurança... Emendou que na outra margem havia desbarrancamentos e isso seria
um problema para a saída. Então, em sua opinião, o melhor seria passarem por ali
mesmo... Pelo menos conheciam o lugar.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_16.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto