A situação ficou tensa...
Badú labutava para dominar o poldro valente enquanto os demais vaqueiros o observavam atentamente. Em segredo apostavam a sua sorte.
Também o Major Saulo assistia o rodeio imprevisto. Seus olhos verdes brilhavam e não perdiam um só lance dos rápidos movimentos do cavaleiro.
Francolim interrompeu o silêncio e denunciou que o Silvino havia assoviado no ouvido do poldro bravo. Ele podia garantir porque havia visto pessoalmente. De modo algum concordava com a malvadeza do outro e só esperava que o patrão o autorizasse a “por autoridade” na situação.
(...)
O major parecia não
ouvir o que o “imediato” lhe dizia... De repente o cavalo saltou com todas as
patas no ar e contorceu o corpo todo... Então o major soltou um “caiu!”
Mas
não foi isso o que aconteceu... Badú perdeu os estribos, porém conseguiu
dominar o animal ao apertar-lhe a cabeça com os joelhos. Na sequência puxou as
rédeas e a fera empinou... Ao mesmo tempo o rapaz lhe deu golpes com o
calcanhar bem servido de esporas e gritou que ele podia descer a serra (dando a
entender que não desistira da contenda).
O Major Saulo sorriu
ao comentar a manobra do vaqueiro... Perguntou a Francolim se ele podia
acreditar no que estavam vendo.
(...)
Francolim respondeu
afirmativamente e deu a entender que conhecia a competência do cavaleiro...
Salientou que tinha uma denúncia a fazer e neste momento pediu que Zé Grande se
afastasse, pois o assunto com o patrão era urgente e particular.
O Major Saulo fez
ares de formalidades e quis saber o que o “imediato” tinha a dizer... Chamou-o “Francolim
Fonseca”, mas no mesmo instante o moço o corrigiu dizendo que se chamava
Francolim Ferreira. Em seguida disse que o que sabia “no certo, mas no certo mesmo”
era que Silvino pretendia matar Badú naquele mesmo dia.
O major foi taxativo
ao dizer que em sua fazenda ninguém matava ninguém... Depois, sugerindo que
aquilo só podia ser piada de mal gosto, disse que Francolim podia dar risada do
que tinha acabado de contar-lhe.
O rapaz insistiu que o caso era dos mais sérios e acrescentou que
Silvino pretendia “beber o sangue” de seu rival. Ele esperava que o patrão lhe
desse a ordem para “dar voz de prisão” ao Silvino assim que chegassem ao
arraial.
O major não quis saber de mais conversa, disse que “não é nas pintas da
vaca que se mede o leite e a espuma!” e disparou que deviam colocar a boiada na
estrada de uma vez.
(...)
O major desceu a escada acompanhado por Francolim
e Zé Grande...
Os três chegaram ao “esteio
das argolas”, onde estavam suas montarias. Ao Francolim o patrão ordenou que
puxasse o “cardão” (pois o cavalo tinha a cor da flor do cardo)... Em seguida
apressou o compadre João Manico para que montasse logo o burrinho.
Só mesmo um cavalo grande como aquele cardão para suportar o peso do
major... Já Sete-de-Ouros não dava mostras de que iria colaborar... João Manico
andou em sua volta anunciando que em algum momento o burrico se entregaria. Mas
via-se que o velho animal estava se irritando com a insistência do homem e até
posicionou as orelhas na vertical... Com os olhos acompanhou os volteios do Manico
a fim de dar-lhe coice certeiro.
O
peão resmungou enquanto colocava a manta sobre Sete-de-Ouros... Deu uns
tapinhas em sua cabeça, mas o animal se esquivou. Depois de estirar o queixo,
contorceu-se até conseguir derrubar o arreio.
Só depois de muito insistir
e até de implorar no pé do ouvido de Sete-de-Ouros é que João Manico conseguiu
convencer a montaria a aceitar a tralha toda.
Por fim o freio foi
instalado... Sete-de-Ouros arreganhou os beiços mostrando os dentes amarelados.
Depois de tanto encrespar o couro e sacudir a cauda tal como espanador agitado,
o burro retomou sua aparência sonolenta.
Então
João Manico se viu em condições de montá-lo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_7.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto