sexta-feira, 6 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – desfecho da briga de Badú com o poldro agressivo; Francolim revela ao patrão que Silvino pretende assassinar seu rival e sugere dar ordem de prisão ao moço; João Manico e a dificuldade para encilhar o Sete-de-Ouros

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_6.html antes de ler esta postagem:

A situação ficou tensa...
Badú labutava para dominar o poldro valente enquanto os demais vaqueiros o observavam atentamente. Em segredo apostavam a sua sorte.
Também o Major Saulo assistia o rodeio imprevisto. Seus olhos verdes brilhavam e não perdiam um só lance dos rápidos movimentos do cavaleiro.
Francolim interrompeu o silêncio e denunciou que o Silvino havia assoviado no ouvido do poldro bravo. Ele podia garantir porque havia visto pessoalmente. De modo algum concordava com a malvadeza do outro e só esperava que o patrão o autorizasse a “por autoridade” na situação.
(...)
O major parecia não ouvir o que o “imediato” lhe dizia... De repente o cavalo saltou com todas as patas no ar e contorceu o corpo todo... Então o major soltou um “caiu!”
Mas não foi isso o que aconteceu... Badú perdeu os estribos, porém conseguiu dominar o animal ao apertar-lhe a cabeça com os joelhos. Na sequência puxou as rédeas e a fera empinou... Ao mesmo tempo o rapaz lhe deu golpes com o calcanhar bem servido de esporas e gritou que ele podia descer a serra (dando a entender que não desistira da contenda).
O Major Saulo sorriu ao comentar a manobra do vaqueiro... Perguntou a Francolim se ele podia acreditar no que estavam vendo.
(...)
Francolim respondeu afirmativamente e deu a entender que conhecia a competência do cavaleiro... Salientou que tinha uma denúncia a fazer e neste momento pediu que Zé Grande se afastasse, pois o assunto com o patrão era urgente e particular.
O Major Saulo fez ares de formalidades e quis saber o que o “imediato” tinha a dizer... Chamou-o “Francolim Fonseca”, mas no mesmo instante o moço o corrigiu dizendo que se chamava Francolim Ferreira. Em seguida disse que o que sabia “no certo, mas no certo mesmo” era que Silvino pretendia matar Badú naquele mesmo dia.
O major foi taxativo ao dizer que em sua fazenda ninguém matava ninguém... Depois, sugerindo que aquilo só podia ser piada de mal gosto, disse que Francolim podia dar risada do que tinha acabado de contar-lhe.
O rapaz insistiu que o caso era dos mais sérios e acrescentou que Silvino pretendia “beber o sangue” de seu rival. Ele esperava que o patrão lhe desse a ordem para “dar voz de prisão” ao Silvino assim que chegassem ao arraial.
O major não quis saber de mais conversa, disse que “não é nas pintas da vaca que se mede o leite e a espuma!” e disparou que deviam colocar a boiada na estrada de uma vez.
(...)
O major desceu a escada acompanhado por Francolim e Zé Grande...
Os três chegaram ao “esteio das argolas”, onde estavam suas montarias. Ao Francolim o patrão ordenou que puxasse o “cardão” (pois o cavalo tinha a cor da flor do cardo)... Em seguida apressou o compadre João Manico para que montasse logo o burrinho.
Só mesmo um cavalo grande como aquele cardão para suportar o peso do major... Já Sete-de-Ouros não dava mostras de que iria colaborar... João Manico andou em sua volta anunciando que em algum momento o burrico se entregaria. Mas via-se que o velho animal estava se irritando com a insistência do homem e até posicionou as orelhas na vertical... Com os olhos acompanhou os volteios do Manico a fim de dar-lhe coice certeiro.
O peão resmungou enquanto colocava a manta sobre Sete-de-Ouros... Deu uns tapinhas em sua cabeça, mas o animal se esquivou. Depois de estirar o queixo, contorceu-se até conseguir derrubar o arreio.
Só depois de muito insistir e até de implorar no pé do ouvido de Sete-de-Ouros é que João Manico conseguiu convencer a montaria a aceitar a tralha toda.
Por fim o freio foi instalado... Sete-de-Ouros arreganhou os beiços mostrando os dentes amarelados. Depois de tanto encrespar o couro e sacudir a cauda tal como espanador agitado, o burro retomou sua aparência sonolenta.
Então João Manico se viu em condições de montá-lo.
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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