sábado, 7 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – Juca Bananeira aconselha Badú a prestar mais atenção nas atitudes do Silvino; todos prontos, o momento da partida está próximo; o gado reage à trovoada e os vaqueiros antecipam que darão muito trabalho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_46.html antes de ler esta postagem:

O Major Saulo pôs-se a animar o compadre João Manico e ao mesmo tempo aproveitava para gozar da situação... Disse que tanto ele quanto o burro eram os mais velhos e valentes entre todos da expedição, e é por isso que “iam bem”. Sugeriu em tom de seriedade que seria melhor que a dupla se posicionasse atrás de todos... Só mesmo na hora de embarcar a boiada é que sua ajuda seria necessária.
Para mais animá-lo, o patrão sentenciou que o Sete-de-Ouros era mesmo velho, mas se tratava de um bom burro, “de gênio”... E mais... Será que o compadre não sabia que “um burro vale mais do que um cavalo”?
Manico concordou com o major num ponto... Para “viajar o dia inteiro, em marcha de estrada” era melhor seguir montado num burro... Mas para “tocar boiada” jamais escolheria o burro como montaria.
E o major ainda mais incentivava: “Mais coragem Manico! Sem gemer!”... “Suspiro de vaca não arranca estaca!”
Mas o patrão logo deixou de prosear com João Manico para chamar a atenção de Francolim, que insistia em prestar atenção em outro ponto do terreiro...
(...)
Ele observava Juca Bananeira mexendo nas tranças da crina do Belmonte ao mesmo tempo em que conversava com Badú.
O moço que havia acabado de domar o poldro valente ouvia o outro dizer que ele devia andar armado porque o Silvino “é onça-tigre”... Juca explicava que todos sabiam que mais cedo ou mais tarde o desafeto o atacaria.
Badú manipulava a “longa vara de ferrão”, instrumento que não faltava a nenhum vaqueiro, e ajeitava os arreios no animal aquietado... Respondeu que com ele “não tem quem tem”. E garantiu que, de sua parte, quando via Silvino, logo ficava amigo de sua faca... Todavia considerava que o tipo não passava de um medroso.
Juca Bananeira estava ali para alertá-lo... “Quem tem inimigo não dorme”... Para ele, era preciso ficar atento... Badú levava mais em consideração a “moleza de Silvino”? Pois era bom que pensasse na falsa sensação de segurança da cobra-cipó que observa a “lonjura alta”, e confortável, da acauã (falcão do sertão conhecido por se alimentar de serpentes).
(...)
Badú não deu mais atenção a Juca Bananeira, guinou sua montaria e seguiu para o local onde o major ainda proseava com o compadre Manico. Este já se encontrava montado no Sete-de-Ouros, que estava com as orelhas posicionadas para a frente.
Via-se que o burro permanecia calmo... Mas o Manico não confiava... O bicho só não estava a dar pulos porque era preguiçoso mesmo, pois conforme dava as passadas batia propositadamente com as patas no estribo direito.
O compadre observou que burro é “bicho medonho”, que jamais se deixava amansar completamente e que, em vez disso, se acostumava a certas tarefas. O Major Saulo virou-se a sorrir e encaminhou-se para junto dos demais vaqueiros, que estavam enfileirados junto à cerca do gado.
(...)
Podemos imaginar a cena... Os homens pareciam formar um batalhão de lanceiros dos exércitos antigos.
Leofredo observou o comportamento dos bois (“inquietos, olhos ansiosos, orelhas eretas”, e a bater os chifres uns contra os outros)... Ele apontou para o rebanho e sugeriu aos demais que eles sabiam que estava para reboar trovão.
Sinoca não concordou e disse que os animais já adivinhavam que estava chegando a hora de sairem pela estrada. Mas o vaqueiro nem terminou de pronunciar sua opinião e três trovões foram ouvidos.
Então o gado tornou-se um tumulto só... Uma massa enorme “refluiu para a banda oposta”... Procuravam uma saída!
Os vaqueiros observaram situações diversas em meio à boiada... Viram que teriam muito trabalho para conduzir o gado. Alguém notou um exemplar ”crioulo caraço” que parecia estar “caçando gente para arremeter”. Chamaram o Zé Grande, que era tocador de berrante dos bons, um dos melhores vaqueiros da Tampa (que era o nome da fazenda do Major Saulo).
Zé Grande sabia mesmo interpretar a movimentação do gado... Observava os bichos e conseguia adivinhar como atacariam.
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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