Raimundo estava mesmo interessado em continuar a falar sobre o Calundú...
Tanto é que sugeriu encostarem os cavalos e “trancar o gado”... A ideia era a de se acomodarem “de mamparra”, ou seja, fingiriam que estavam trabalhando normalmente em suas montarias enquanto que as ações se voltariam toda para o grupo que estava do outro lado.
Raimundo era mesmo muito experiente e os que o acompanhavam ficaram admirados com sua estratégia...
(...)
Por
um tempo puderam conversar sossegadamente.
Certamente entre os
que o ouviam estava Badú, Juca Bananeira e Silvino. Um deles perguntou se o
Calundú havia matado alguém. Ele respondeu que depois contaria a respeito de
detalhes que mais interessavam aos rapazes. Primeiro pretendia falar sobre o
caso que ocorrera no Retiro.
Raimundo
começou a dizer que fora ao Retiro para buscar uma vaca que havia parido na
beira da lagoa... Mas aconteceu que um jacaré capturou e devorou a cria. A vaca
se tornou arredia e passou a correr loucamente atrás de qualquer barulho que
ouvia.
O animal pertencia à
filha do Major Saulo, que deu ordens para que o vaqueiro o resgatasse o quanto
antes. Mas o trabalho não foi nada fácil.
A vaca arremetia logo
que se percebia vigiada! Raimundo contou que, sem sucesso em suas primeiras
tentativas, teve de dormir no ranchinho perto do coqueiral.
Lembrou que aquela
noite foi iluminada por grande lua que evidenciava “até passeio de pulga no
chão”.
Com ele estava a
cachorrinha Zeferina, que sempre o acompanhava e que era conhecida por não parar
quieta. É por isso que Raimundo pensou que naquela noite ela havia decidido
incomodar algum “tatu rabo-mole” nas imediações... E foi por isso que decidiu
conferir.
(...)
Neste momento de sua
narrativa um grande “boi fumaça” avançou para a orelha do poldro montado pelo
Badú... Raimundo teve de interromper a história.
Badú, que já se mostrara excelente peão na contenda com montarias
destreinadas, puxou o poldro para trás e quase caiu... Equilibrou-se o mais que
pôde para não cair do lado onde a boiada seguia o curso em disparada... Cair debaixo
daqueles cascos seria fatal. Mas o moço esforçou-se magistralmente e reverteu a
situação. Foi assim que passou para o outro lado e voltou à sela.
Os outros o olhavam admirados... Ele disse apenas que “Foi nada” e disse
que o Raimundão podia prosseguir com o causo.
(...)
É claro que os vaqueiros tinham estranhado o
nome da cachorra de Raimundo... Zeferina! Então ele teve de explicar que o
havia escolhido por vingança desde que sua mulher (que tinha este nome) o largara.
Voltando ao causo,
disse que enquanto procurava a cadela chegou a uma baixada de pasto e logo a
encontrou.
A claridade proporcionada pela grande lua permitiu que os dois avançassem
na direção das vacas. De repente ele notou que havia certa agitação entre os
animais.
Havia
uma movimentação estranha... A cadela começou a latir e deu o que fazer para
que se calasse. Foi possível notar que as vacas se juntavam e formavam um
aglomerado só... Na movimentação, colocavam suas crias no meio do bolo. Elas
faziam movimentos giratórios e aos poucos tornavam o aglomerado bem comprimido.
(...)
Alguém observou que pelo
visto a chuva desceria o morro... E ela vinha fina, trazendo “cheiro novidade”
e de terra molhada.
Mas
o que aquela história toda das vacas tinha a ver com o Calundú?
Raimundo observou que
o zebu era o garrote delas... Ele estava entre elas! A luz do luar fazia com
que ele aparentasse uma estatura ainda maior do que tinha na realidade.
O bicho rodeava o aglomerado
das vacas mantendo as costas para elas... Sua cabeça erguida indicava que
estava atencioso para algo nos arredores.
O
peão contou que apurou os ouvidos e escutou um miado... Era algo distante, mas
ele se lembrou que uma onça preta vinha causando estragos no rebanho do
fazendeiro Quilitano, “nas Lages, e no Saco-da-Grota”. A onça tinha fama e dizia-se
que era colossal. Só podia ser ela!
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_15.html
Leia: O
Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto