domingo, 8 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – Tote narra o caso em que ele e Josias enfrentaram a vaca enfurecida no curral; Zé Grande explica ao patrão as condições da boiada para a viagem e aconselha a substituição de quatro mais trabalhosos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_7.html antes de ler esta postagem:

Os vaqueiros não podiam deixar de observar as manifestações do gado e o tumulto provocado pela trovoada...
A tensão os levava a notar mais detalhadamente os que certamente dariam trabalho... Era muito “boi pesado”... Alguém comentou que “os de Fortaleza”, ariscos, “curraleiros elevantados” estavam para a resistência. Outro observou uma “aratanha araçá” e mostrou que a vaca empurrava os que estavam à sua volta... A bicha parecia querer se isolar, mas as condições eram as piores para ela, daí sua irritação.
O comportamento da vaca chamou tanto a atenção dos vaqueiros que um deles se lembrou de um caso em que Josias e Tote foram atacados por uma que tinha dado cria fazia pouco tempo...
(...)

Não era a primeira vez que Tote se via na situação de ter de falar a respeito do que havia acontecido... Começou a se justificar que já jurara em outras ocasiões que não fora o culpado... Depois explicou que a “vaca fumaça” se posicionara bem no meio do curral com a sua cria.
Quem a visse saberia que estava pronta para afrontar os que se aproximassem... Todos ali sabiam que esse comportamento é comum entre as parideiras e as que acabaram de parir. Mas aquela vaca parecia investir até contra o vento!
O rapaz explicou que o companheiro Josias sugeriu-lhe desafiá-la com uma topada... Tote contou que, se sua parte, aceitou a brincadeira, mas aconselhou que deviam agir com prudência.
Neste ponto da narrativa, o moço explicou que os dois se esqueceram de combinar “quem esperava e quem tirava”. Então aconteceu que cada um se dirigiu para um ponto do cercado e os dois decidiram entrar por conta própria. No mesmo instante em que colocaram os pés no chão, a fera investiu com sua grande cabeça dotada de chifres enormes.
Nesse momento os dois se movimentaram com a intenção de “tirar”... Nenhum deles pensou em “escorar” (com as varas)... Foi por isso que em seu primeiro golpe ela já conseguiu desarmá-los das varas... Depois foi só a questão de escolher um para investir com os chifres.
Josias foi atacado na barriga... Na sequência a vaca endoidecida virou-se para Tote. Ele contou que sentiu a baba do animal encher-lhe a cara e só teve tempo de sair em disparada. Conforme corria podia ver o quanto Josias estava sofrendo com o pisoteio e as chifradas da “mostra”.
A sorte do Tote foi que, na confusão, a cria se assustou e colocou-se entre ele e a fera. Mesmo assim, no momento de pular a cerca, foi alcançado e atirado por cima da cerca. Caiu sobre umas toras de aroeira.
Por fim Tote perguntou aos companheiros se tivera culpa... Ele mesmo respondeu que havia sido uma ocasião de “má-sorte”, pois aquele “não era dia dele”...
Nem do Josias.

(...)
Um dos homens disse que era bom pararem de falar de coisas tristes porque o Major Saulo não aprovava... Salientou que o patrão estava chegando com Zé Grande, Sebastião e Francolim de sua volta pelos currais.
O homem vinha perguntando ao Zé Grande o que ele achava do comportamento do gado e da expedição que iniciariam mesmo com a ameaça da chuva.
Zé Grande respondeu ao patrão que achava que “a boiada vai bem”... Boi “Pé-duro” havia bem poucos... Não acreditava que dariam trabalho porque os bois estavam bem gordos e preguiçosos para as desordens... Salientou que no meio da manada havia uns bravos, mas o major podia ficar sossegado que os vaqueiros sabiam lidar com eles.
Zé Grande era da opinião de que alguns deviam ser separados do bando que seria levado para os trens... Citou como exemplo um de garrote proeminente, da cor alaranjada e que procurava a beirada do cercado a todo instante... Falou de outro (um “marruaz crioulo”), de comportamento assustado e que se apavorava até com o chacoalhar da caminhada.
O vaqueiro insistiu que os dois exemplares escapariam do bando na primeira oportunidade que encontrassem... O perigo estava no fato de os demais “estourarem atrás”.
Zé Grande falou ainda sobre um boi camurça e uma vaca traiçoeira... O boi estava cego de um olho e os demais o agrediam do lado que ele não enxergava. Devia ser separado porque até chegarem ao arraial o bicho estaria muito machucado... A vaca moura estava judiando dos demais e também precisava ser retirada do bando.
Major Saulo concordou com o que ouviu... Chamou Sinoca e Tote para que providenciassem a retirada dos quatro. Depois teriam de ir ao curral menor para pegar outros em substituição.
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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