sábado, 28 de abril de 2018

“O Burrinho Pedrês” – conto de “Sagarana” – de João Guimarães Rosa – entrada no arraial, cuidados das mulheres com as crianças e embarque festivo; descanso para os animais, comida e aguardente para os vaqueiros; ao atrasado e embriagado Badú restou o Sete-de-Ouros como montaria para o retorno à Tampa

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/04/o-burrinho-pedres-conto-de-sagarana-de_28.html antes de ler esta postagem:

Os vaqueiros colocaram-se em meio à manada em movimento... Faltava pouco para concluírem a jornada e não podiam permitir que embolassem ou que um ou outro animal se desviasse... Por isso formaram blocos bem definidos.
A lama era espirrada para todos os lados e as passadas firmes levaram vaqueiros e manada à principal rua do arraial. Quatro peões posicionaram-se à frente para cadenciar o avanço e alertar os moradores a retirarem suas criações e filhos da passagem.
Imediatamente as mulheres puxaram as crianças para casa. Ouvia-se aqui e ali o bater de portas... Trancavam-se, mas logo abriam as janelas para assistir à passagem dos vaqueiros que se colocavam “garbosos e aprumados” sobre suas montarias, “aboiando com maior rompante”.
Alguns porcos, galinhas e cabritos esquecidos por seus donos se dispersaram para evitar o pisoteio. Também os cavalos estacionados à frente das vendas procuraram se afastar da movimentação, mas estes não conseguiam se livrar das amarras.
Por fim o toque do berrante conduziu a boiada para a estrada de ferro e os vagões reservados para o transporte. O modo como os bois se espalharam lembrava laranjas sendo despejadas de um balaio... O chuvisco não impediu que muitos moradores se aglomerassem para assistir ao espetáculo a uma distância segura.
(...)
Então ficamos sabendo por que o gado foi dividido em “blocos bem definidos” (conforme citado no primeiro parágrafo desta postagem).
Cada “bloco” era direcionado a um dos vagões dos dois trens especiais. Conforme os animais embarcavam, as pessoas vibravam e aplaudiam a movimentação e destreza dos vaqueiros.
(...)
O embarque durou uns trinta minutos. Os homens que trabalhavam para o Major Saulo cumpriram sua missão.
Encharcados e com as roupas enlameadas, os vaqueiros estavam também com muita fome... Por isso não se demoraram na busca dos locais onde podiam comer e beber da aguardente... O costume de beberem a cachaça subtraía-lhes parte considerável do dinheiro que recebiam como paga, mas jamais o abandonavam porque entendiam que a bebida os enchia de força.
E força era o que precisavam para se recuperarem da exaustão e também para suportar o entardecer tristonho e gelado.
(...)
Os homens comeram e beberam...
As montarias foram acomodadas “na coberta do Reynéro”. Também aqueles cavalos mereciam descanso e o terem as tiras afrouxadas em suas barrigas. Protegidos pelo telhado, tinham também uma bela porção de capim.
Sete-de-Ouros foi colocado à parte num canto mais escurecido... Solitário, permaneceu sereno no cumprimento da sua obrigação de esperar que o buscassem novamente.
Mais tarde os vaqueiros apareceram... Cada um chegou à montaria mesma que o trouxera ao arraial... Foram montando e se retirando. Silvino pegou o “amarilho crinudo”... Depois dele foi a vez de João Manico, que tomou posse do “poldro pampa” que tanto trabalho dera ao Badú... Os dois vaqueiros falavam e riam alto.
(...)
O galpão se esvaziou... Restou apenas o burrinho pedrês no canto escuro. Depois de algum tempo, o último vaqueiro apareceu... Talvez entendendo que teria de voltar a servir de montaria, Sete-de-Ouros “abriu bem os olhos, e avançou os beiços num derradeiro molho de capim”.
O vaqueiro que chegava era Badú... Estava em lastimável estado de embriaguez. É de se admirar que o homem ainda pudesse caminhar e tomar decisões naquela condição!
Badú reconheceu que haviam levado o poldro... Olhando ao redor viu o burro e desabafou um protesto... Restara para ele apenas aquele “burro desgraçado”? E tudo porque ele havia perdido mais tempo do que os outros porque decidira comprar uma lembrancinha para sua noiva!
Ele se aproximou do Sete-de-Ouros e disse-lhe algo a respeito de como os dois combinavam. Depois o tirou do cocho...
O burrico apressou-se na mastigação do capim enquanto Badú ajeitava-lhe o freio. Por fim o trôpego vaqueiro fez os ajustes finais lembrando à montaria que a maltrataria se lhe desferisse um coice.
Leia: O Burrinho Pedrês – conto de Sagarana. Editora José Olympio.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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