quinta-feira, 31 de março de 2011

Texto de Luis Fernando Veríssimo - Racismo - Proposto para exercício

Para hoje estou postando este texto de Luis Fernando Veríssimo que foi proposto ao grupo de formação do qual fazia parte. O texto chama-se Racismo e é de 14 de maio de 1975. Para as próximas postagens colarei aqui a questão proposta e alguns registros que                       
                                           elaborei na ocasião:           

- Escuta aqui, ó criolo...
- O que foi?
- Você andou dizendo por aí que no Brasil existe racismo.
- E não existe?
- Isso é negrice sua. E eu que sempre te considerei um negro de alma branca... É, não adianta. Negro quando não faz na entrada...
- Mas aqui existe racismo.
- Existe nada. Vocês têm toda a liberdade, têm tudo o que gostam. Têm carnaval, têm futebol, têm melancia... E emprego é o que não falta. Lá em casa, por exemplo, estão precisando de empregada. Pra ser lixeiro, pra abrir buraco, ninguém se habilita.
Agora, pra uma cachacinha e um baile estão sempre prontos. Raça de safados! E ainda se queixam!
- Eu insisto, aqui tem racismo.
- Então prova, Beiçola. Prova. Eu alguma vez te virei a cara? Naquela vez que te encontrei conversando com a minha irmã, não te pedi com toda a educação que não aparecesse mais na nossa rua? Hein, tição? Quem apanhou de toda a família foi a minha irmã. Vais dizer que nós temos preconceito contra branco?
- Não, mas...
- Eu expliquei lá em casa que você não fez por mal, que não tinha confundido a menina com alguma empregadoza de cabelo ruim, não, que foi só um engano porque negro é burro mesmo. Fui teu amigão. Isso é racismo?
- Eu sei, mas...
- Onde é que está o racismo, então? Fala, Macaco.
- É que outro dia eu quis entrar de sócio num clube e não me deixaram.
- Bom, mas pera um pouquinho. Aí também já é demais. Vocês não têm clubes de vocês? Vão querer entrar nos nossos também? Pera um pouquinho.
- Mas isso é racismo.
- Racismo coisa nenhuma! Racismo é quando a gente faz diferença entre as pessoas por causa da cor da pele, como nos Estados Unidos. É uma coisa completamente diferente. Nós estamos falando do crioléu começar a frequentar clube de branco, assim sem mais nem menos. Nadar na mesma piscina e tudo.
- Sim, mas...
- Não senhor. Eu, por acaso, quero entrar nos clubes de vocês? Deus me livre.
- Pois é, mas...
- Não, tem paciência. Eu não faço diferença entre negro e branco, pra mim é tudo igual. Agora, eles lá e eu aqui. Quer dizer, há um limite.
- Pois então. O ...
- Você precisa aprender qual é o seu lugar, só isso.
- Mas...
- E digo mais. É por isso que não existe racismo no Brasil. Porque aqui o negro conhece o lugar dele.
- É, mas...
- E enquanto o negro conhecer o lugar dele, nunca vai haver racismo no Brasil. Está entendendo? Nunca. Aqui existe o diálogo.
- Sim, mas...
- E agora chega, você está ficando impertinente. Bate um samba aí que é isso que tu faz bem. 

Luis Fernando Veríssimo.

leia também:
http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/04/um-exercicio-sobre-o-texto-racismo-de.html
e
http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/04/outro-exercicio-sobre-o-texto-racismo.html

Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 27 de março de 2011

Um pequeno recorte do fórum de opiniões do blog da EMEF Teodomiro sobre as discussões em torno do Grêmio Estudantil e sua implantação na escola.

Resolvi colar neste blog algumas opiniões que foram postadas nos fóruns da escola. De certa forma elas ilustram as considerações que fiz em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/03/semana-de-eleicoes-na-emef-teodomiro.html. Tomei a liberdade de fazer pequenos acertos/correções nos textos originais preservando os autores.

“Novamente parabéns querido Gilberto, por dedicar seu tempo na orientação e acompanhamento desses alunos, para que esse movimento ganhe força em nossa escola. Muito bom saber que contamos com o apoio de nossos gestores, porque sem dúvida esse grêmio será um sucesso: alunos empenhados e professores envolvidos é o segredo do sucesso!
Abraço fraterno,
Prof.D.
“Finalmente conseguimos um grêmio no Teodomiro .”
S.F.V. 8ªf


“Eu achei esse assunto interessante porque é importante para toda a escola, é possível fazer muitas melhorias.”
L.
“O grêmio é muito bom para a escola ficar cada vez melhor.”
A.

“Com o grêmio a escola terá grandes melhorias. Pois os alunos terão mais interesse em vir à escola, porque podem dar opiniões na melhoria dela.
I. U.

“Demorô... Mas agora temos um grêmio na escola.”
M.

“Parabéns, o grêmio está crescendo cada vez mais. Essa é uma oportunidade dos alunos participarem um pouco mais sobre a vida escolar e colocarem suas opiniões em prática.
G. S. N.

“Adorei a iniciativa, achei muito importante para nós alunos, pois teremos a chance de nos expressar. Espero que a chapa vencedora consiga nos representar muito bem.
S. C.

“Muito legal, meus parabéns a todos que colaboram e colaboraram para que a escola Teodomiro seja a melhor do bairro...
E. & K

“É muito bom ter Grêmio na escola, porque nós podemos ir atrás dos nossos direitos.”
M. C. & L. G.

“O grêmio é uma iniciativa para os jovens pensarem mais no futuro e também nas outras pessoas, pois o grêmio tem como finalidade não só de dar o primeiro passo do jovem na carreira política, mas também a finalidade de os jovens se expressarem, falar o que pensam e o que estão sentindo, porque muitas vezes ele não tem a oportunidade de se sentar no canto com seu professor ou com seus pais para falar suas necessidades e dizer o que pensa e o que está sentindo.
Eu estou participando do grêmio, sou candidato. Ganhando ou perdendo (claro que eu quero ganhar... Lógico) não tem nada porque o que vale é participar, e quando sair dessa escola vou ter o maior orgulho de falar que estudei na EMEF DES. TEODOMIRO TOLEDO PIZA, pois aqui estou aprendendo muitas coisa com o grêmio e também com meus professores. E mesmo que perca eu já estou sendo um vencedor, pois tive a coragem de participar do grêmio... E tem muitas pessoas que não tem essa coragem de participar.
Por isso eu digo: “todos os eventos que tiver em sua escola, participe. Pois com o passar de alguns tempos você vai querer participar e vai ser tarde”. Mas também existe aquele ditado "nunca é tarde para estudar".
G. K

"Hoje eu participo da chapa do Guilherme. Eu e os meu amigos fomos ter uma pequena reuniãozinha e nós pensamos: vamos passar em outras salas falando para votar no 40, pegar as condições da escola e falar para eles dizendo quais são as melhoras se votarem na gente.
Então pessoal, meu nome é V. L. M., eu participo da chapa do Guilherme."

Um abraço,
Prof.Gilberto

Semana de eleições na EMEF Teodomiro

Há uma grande expectativa em nossa escola municipal.

Desde o final do ano passado uma comissão de alunos decidiu formar o Grêmio Estudantil. Fui convidado para as reuniões como apoiador. É claro que não poderia recusar o convite.


Formou-se uma Comissão Pró Grêmio, que passou a discutir sobre Estatuto, integrantes e competências de uma diretoria, além dos trabalhos que um Grêmio pode realizar.

Foram realizadas plenárias para alunos do 5º ano (antiga 4ª série) até os de 8º ano (antiga 7ª série). Nessas plenárias a Comissão apresentou slides, explicou o funcionamento e a importância de um Grêmio Estudantil... Tirou dúvidas do pessoal.

Organizaram-se chapas para concorrer a eleições ainda no final do ano passado. A chapa vencedora instituiria o Grêmio e conduziria o processo eleitoral no início deste ano. Porém o calendário escolar foi muito carregado e novas discussões e decisões ficaram para o começo deste 2011.

Neste ano a Comissão se reuniu e discutiu o Edital das Eleições. Foram definidas as datas para as inscrições e três chapas se habilitaram. Seus representantes decidiram uma série de encaminhamentos, como data e normas de Campanha, número identificador de cada chapa, função dos apoiadores de chapa, data das eleições (30 e 31/março), operacionalidade das urnas, apuração, fiscais... Tanta coisa.

A semana passada foi de Campanha Eleitoral. Posso afirmar que nunca vi nossos alunos tão envolvidos em um assunto (só deles) como nesses dias. Uma das chapas (37) não conseguiu articular seus membros na busca de votos, então todos percebem que há certa bipolarização entre a chapa 40 e a 18, que foram as que mais investiram na Campanha.
Os alunos eleitores se posicionaram e defendem suas chapas, pedem os votos... Alguns mais exaltados andaram sabotando cartazes dos outros. Houve até troca de acusações e denúncias... Recorreram a mim e a outros professores. De minha parte, procurei mostrar que eles deveriam esclarecer melhor os seus apoiadores que, provavelmente, não estavam devidamente inteirados das regras que as lideranças haviam combinado.

Sei de colegas professores que aproveitaram os debates em sala para construir uma aula muito interessante sobre Cidadania, valorização de nossa Diversidade Cultural... Mas eu fico encantado mesmo é com a estudantada. A cada dia eles me surpreendem com sua dedicação, sugestões e vontade de fazer mais pela escola e pela própria formação. Vocês acreditam que eles planejaram “urna eletrônica”, debate entre os candidatos à presidência, e até um telão que exibiria as chapas e suas propostas no pátio escolar em horários de intervalo? Os mais novos estão tão animados e envolvidos que isso reforça as nossas esperanças de que o Grêmio deve seguir sua trilha neste e nos próximos anos.

Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre a Independência do Brasil - um antigo texto didático

Para hoje estou deixando este texto didático que elaborei há muito tempo... Estou retomando para traçar um paralelo com a leitura do 1822. É claro que ele tem algumas incorreções, e peca um pouco pelo "caráter engajado". Assim, D. Pedro aparece apenas como líder interesseiro; José Bonifácio sequer é citado, e os liberais portugueses (apenas) como representantes da antiga exploração colonial.
Segue o texto:


Todos sabemos que o dia 7 de setembro é feriado. Nesse dia comemora-se a Independência do Brasil. Oficialmente aconteceu a 7 de setembro de 1822. O acontecimento que marca a data é “o grito” de “Independência ou morte!” dado por D. Pedro I. É importante entendermos o que ocorreu naquela época para não acharmos que apenas um ato como o de “dar o grito” já tornou o Brasil independente.


Sabemos que D. João teve mesmo de retornar a Portugal após a Revolução do Porto. No Brasil ficou o seu filho, D. Pedro, como príncipe regente, já que o Brasil era reino unido a Portugal. O fato é que em Portugal muitos portugueses pretendiam forçar o retorno (também) de D. Pedro. Assim facilitariam a recolonização do Brasil.


Muitos ricos proprietários brasileiros não queriam que D. João retornasse para Portugal. Estavam muito satisfeitos com as várias transformações e conseguiam prosperar. Por isso, depois de 1821, esses ricos proprietários passaram a agradar a D. Pedro e querer que ele permanecesse por aqui. Em janeiro de 1822 coletaram oito mil assinaturas de pessoas favoráveis à sua autoridade.


Um ano antes (março de 1821) foram eleitos 72 representantes brasileiros que deveriam partir para Lisboa, onde discutiriam as leis que os portugueses queriam fazer o rei assinar. Como o Brasil era um reino unido a Portugal devia mandar representantes para ajudar na elaboração das leis, só que menos de 50 viajaram.


Entre eles, Cipriano Barata e Antônio Carlos de Andrada, antigos revoltosos de 1817 em Pernambuco. Eles defendiam a independência do Brasil, mas perceberam claramente os interesses de recolonização dos portugueses.


Alguns jornais do Brasil defendiam a independência do Brasil. Entre eles podemos citar “A Malagueta”, “O Correio do Rio de Janeiro”, “O Espelho” e “O Conciliador do Rio de Janeiro”. As pessoas que defendiam essas idéias, em geral grandes proprietários e comerciantes, procuravam envolver o nome do príncipe regente com as propostas de separação.


Os representantes brasileiros retornaram da Portugal com a certeza de que o que os portugueses queriam mesmo era explorar novamente o Brasil. Perceberam isso através das leis que lá eram discutidas e aprovadas. As leis faziam, aos poucos, o Brasil voltar a fazer comércio apenas com a antiga metrópole. As leis enfraqueciam o poder do regente que ficou no Brasil. Transferiam tropas do Brasil para Portugal, garantindo que os mais fiéis a D. Pedro voltassem para a Europa. Entre os brasileiros mais exaltados estava Gonçalves Ledo (eu tinha umas antigas publicações maçônicas), que queria que o Brasil começasse a organizar uma lei separada da lei de Portugal. Ledo gostaria que o povo brasileiro pudesse escolher os seus representantes. Essa ideia não foi aceita, alguns setores foram contra. Porém, como o próprio D. Pedro tinha interesses de permanecer no Brasil, acabou proclamando a independência. Mas até que isso acontecesse muitas pressões foram feitas. Inúmeras cartas, exigindo a sua volta, eram enviadas de Portugal. Tropas portuguesas foram instaladas no litoral do Brasil para forçá-lo a retornar.


O “grito do Ipiranga” não significou a imediata independência. Em várias partes do Brasil as tropas fiéis ao governo português resolveram impedir a independência. Foram os brasileiros mais simples que tiveram de lutar para defender a liberdade. Isso aparece muito pouco nos livros. Na Bahia, por exemplo, um ano depois do “grito”, a população ainda lutava contra os que eram inimigos da independência. Infelizmente o “grito” não significou as transformações necessárias, que pudessem melhorar a vida da maioria dos brasileiros pobres.



Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 24 de março de 2011

Considerações sobre Pedro I e o "1822", de Laurentino Gomes

 Há várias polêmicas em torno da personagem D. Pedro I. Discute-se se deve ou não ser homenageado... Herói de comportamento exemplar? Vilão, aproveitador das súditas e escravas? Deve ou não ser considerado o libertador do Brasil em relação a Portugal? Autoritário ou liberal?


De certa forma, sem cair na defesa apaixonada, Laurentino Gomes (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/03/1822-de-laurentino-gomes.html) resgata um pouco a imagem de Pedro de Alcântara. Apresenta-nos mais uma versão... Bem diferente do que já lemos no passado em que já foi “endeusado”, ou num outro em que foi “demonizado”.


Bom, a polêmica do “grito do Ipiranga” está bem trabalhada no 1822. Aquela situação, que inclusive serve de piada a muita gente, sobre o episódio congelado no quadro de Pedro Américo e no filme de 1972 (Independência ou Morte!), parece bem resolvida... De fato, o então regente montava uma mula, que era o animal mais indicado para o tipo de viagem que vinha fazendo: a subida da Serra do Mar. Mas para dar um “ar de mais imponência” Pedro Américo, inspirado em estudos de outras telas, retratou o episódio da maneira que todos conhecem. Diversos documentos confirmam que Pedro de Alcântara estava mesmo passando por dificuldades intestinais. Não é improvável que tenha recebido as mensagens de José Bonifácio e de Dona Leopoldina (sobre o agravamento da situação com as Cortes) num momento de “alívio”.

D. Pedro sofria ataques epilépticos, fato que causava pânico em alguns e sentimentos de piedade em outros. Apesar disso, ele se demonstrava “insaciável” sexualmente. Relacionou-se com muitas mulheres... Não se importava de ser visto em casas de prostituição. Engravidou a Marquesa de Santos (Domitila de Castro), sua esposa D. Leopoldina e a irmã da marquesa num mesmo ano. Também teve casos com uma madre religiosa e uma bailarina francesa... E com muitas, muitas anônimas. Há quem diga que esse apetite todo ele herdou da mãe, Carlota Joaquina.
A Maçonaria teve grande importância nos acontecimentos que se referem à Independência Política do Brasil (isso não é um “privilégio” de nossa História, já que essa instituição foi decisiva em várias outras partes do mundo). D. Pedro freqüentava a Maçonaria e via com bons olhos a ideia de mantê-lo como monarca constitucional no país que estava surgindo... Havia os maçons mais radicais, que pretendiam a República. Após a Independência, D. Pedro recebeu apoio dos maçons, mas ele sofreu a oposição da Maçonaria ao demonstrar-se arbitrário. A Abdicação de 1831 deve-se em muito às pressões (que o imperador sofreu) articuladas pelos maçons.


O nosso personagem mostrou-se muito firme na defesa da independência, que foi seriamente ameaçada por militares portugueses e por comerciantes que, por interesses particulares, não aceitavam o fim do Reino Unido. As dificuldades eram imensas naquele princípio de país. Ao retornar para Portugal, Dom João VI havia zerado os cofres públicos... Por aqui faltava tudo: embarcações, armas, munições, homens treinados... O povo brasileiro mais simples derramou seu sangue em defesa da liberdade... D. Pedro minou os cofres do Tesouro Brasileiro contratando mercenários... O novo país nascia com uma dívida externa estrondosa. Laurentino Gomes destaca que D. Pedro cortou o próprio salário e conteve despesas domésticas.


Apesar de ter imposto à nação a primeira Constituição de nossa história, D. Pedro é reconhecido como “liberal” e a sua Carta Outorgada como uma Lei avançada para a época. Essa característica se evidencia mais quando ele é comparado ao absolutista irmão. D. Miguel. O confronto que os dois travaram em Portugal (após a morte de D. João VI e a abdicação de 1831) também atestou o desprendimento e determinação de Pedro I em relação aos seus ideais. D. Pedro venceu o irmão e seus aliados absolutistas em condições muito precárias.





Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 22 de março de 2011

1822, de Laurentino Gomes

Recentemente citei Laurentino Gomes em uma postagem (http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/03/consideracoes-sobre-os-best-sellers-com.html).


Este seu livro tem o título 1822 porque faz referências aos episódios da Independência Política de nosso país. É interessante notar que Laurentino Gomes destaca as datas nos títulos... Já havia feito isso com o 1808, que tem a ver com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil ao tempo dos conflitos que ficaram conhecidos como Guerras Napoleônicas e ao Período Joanino, que ocorreu até 1821. É claro que o 1822 traz várias referências ao texto anterior, é uma continuação, e não deixa de tratar das personagens que mais são discutidas quando falamos da data nacional de nosso país, o 7 de setembro, e das polêmicas em torno delas.


Em poucas palavras, podemos dizer que o livro apresenta (de modo mais que satisfatório) tópicos relevantes para a compreensão do tema e traz detalhes importantes para elucidar certas questões polêmicas, como a da Maçonaria. Essas questões problematizam as interpretações que fazemos sobre os episódios próximos ao “brado” às margens do Ipiranga. E sobre personagens como D. João, D. Pedro, José Bonifácio, Francisco Gomes da Silva (o “Chalaça”), D. Leopoldina, Domitila de Castro, D. Amélia, Lorde Cochrane, Frei Caneca e D. Miguel.


Vamos ver se para as próximas postagens escrevo algo sobre alguns dos episódios e personagens tratados em 1822.
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/03/consideracoes-sobre-pedro-i-e-o-1822-de.html
Leia: 1822. Editora Nova Fronteira.



Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 21 de março de 2011

L’immagine di Sant’Antonio (del pittore Nino Gregori)

Este desenho foi elaborado no dia 29 de dezembro de 1998. Ele é baseado em L’immagine di Sant’Antonio (del pittore Nino Gregori). A confecção destes rabiscos está relacionada ao que foi relatado em http://aulasprofgilberto.blogspot.com/2011/03/sao-vicente-de-paulo-desenho-partir-de.html.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 20 de março de 2011

Considerações (a partir da entrevista de Elias Thomé Saliba) sobre best-sellers com temática histórica.

O professor Elias Thomé Saliba, do Departamento de História da USP, autor de Raízes do Riso, concedeu entrevista à Revista História Viva nº 90. Falou sobre questões referentes aos lançamentos editoriais com temáticas da História que se tornam campeões de venda (esse é o caso do seu Raízes do Riso, que aparece colado aqui).

Publicações de Eduardo Bueno e de Laurentino Gomes são os exemplos mais destacados de autores de títulos Best-Sellers com essa temática.



Eduardo Bueno vem fazendo sucesso desde a época do Brasil 500 e as festividades que ocorreram em comemoração aos 500 anos do “descobrimento”. Desse autor tenho um História do Brasil, lançado por ocasião daquelas festividades. Li os três volumes que Bueno lançou pela Objetiva: A viagem do descobrimento; Náufragos, traficantes e degredados;Capitães do Brasil. Seus textos destacam-se pela leitura que flui facilmente... O próprio autor justifica que livro de História não tem de ser entediante.


Já Laurentino Gomes está sendo comentado pelos seus 1808 e 1822. Li os dois e gostei muito. Se tivesse de escolher entre os dois autores citados na entrevista, escolheria as produções deste último.


A questão que se levanta é sobre a consistência desses materiais. Muito se comenta que os textos não são produções de historiadores, mas de jornalistas... É claro que os textos dos historiadores são mais densos, “pesadões” e cheios de citações das fontes de pesquisa... Já as “obras de divulgação” são leves, de fácil leitura e não levantam grandes problematizações. O que talvez atraia o público seja mesmo o fato de não suscitarem grandes dúvidas, de se apresentarem como sínteses dos temas a que se propõem.


Como o próprio Saliba afirma, a produção do conhecimento histórico não é monopólio dos historiadores. Esses livros podem proporcionar novos interesses por pesquisas, e isso é um mérito. Porém ele nos alerta sobre a “lógica reducionista” como princípio organizador desses textos... O entrevistado também adverte sobre as produções que buscam suas fontes principalmente na internet... Este parece ser o caso de um livro que ainda não li: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, de Leandro Narloch.



Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 18 de março de 2011

Filme: Crash - No Limite

Indicação (14 anos)

E esse filme Crash - No Limite?
Acabei assistindo. Não tinha aqui a intenção de contar o que é a história escrita e dirigida por Paul Haggis (Oscar de melhor filme em 2006)... Acho que ele dá um panorama do que é a geleia geral da sociedade norte-americana.  E acho que faz isso muito bem. Mas, você sabe, não é fácil tecer comentários sem entrar nos detalhes. Há quem critique o filme, mas acho que ele tem potencial interessante para pensarmos um trabalho com os alunos.

O Crash é o contato, o “encontrão” das pessoas caminhando pelas calçadas, umas sem falar com as outras... Elas mal se olham.

Pois é, mas estão todos ali se misturando, sem saberem quem é quem... Isso é bem o que ocorre nas grandes cidades do mundo, como São Paulo ou Los Angeles (onde as tramas de Crash ocorrem).

Conforme o filme se desenvolve, assistimos ao entrelaçamento “não espontâneo” de diversos tipos que têm de conviver... São negros, asiáticos, latinos, miscigenados e brancos endinheirados (ou não). Cada um segue com sua “visão de mundo”... Em geral uns não aceitam aos outros... O outro é o “estrangeiro”, o “diferente”, o “pobre”... Essa relação é complicada porque parece que as pessoas vão permitindo crescer o preconceito, o racismo e a intolerância, e ao mesmo tempo se vêem sufocadas por tudo isso. Viver torna-se difícil demais.

Sandra Bullock vive a esposa, dona de casa, de um bem sucedido promotor. É uma das que se vêem nessa situação. O rico casal foi vítima de assalto à mão armada. Ela não consegue deixar de descarregar todo o seu ódio contra os negros que violentamente levaram o carro do casal. Mas ao mesmo tempo sabe que o marido procura aceitação na comunidade negra para obter votos, enquanto ele faz de tudo para se mostrar popular, a troca das travas da porta de casa gera preocupações para ela porque é um negro que faz o serviço... Sua empregada é latina e só isso já basta para que a milionária descarregue contra ela todas as suas insatisfações...

Há o segmento da família libanesa, proprietária de um mercadinho, alvo de tentativas de assalto... O velho libanês quer defender os negócios e a família, então quer adquirir uma arma. Para este fim conta com o auxílio de sua filha que é médica legista. O episódio na loja de armas mostra uma comunicação repleta de preconceitos entre o negociante americano e o libanês. Como não se faz entender com facilidade, o vendedor de armas e munições o destrata, qualificando-o de terrorista... Vê-se que a identidade do estrangeiro é abalada, “desconsertada”.

Esse episódio é interessante também porque após a discussão entre os dois, é a filha do libanês que escolhe a caixa de munição (isso determina o desfecho de uma das tragédias). O mesmo “chaveiro” que fez o serviço na casa dos ricaços aparece no estabelecimento do libanês... De fato o moço é competente e se mostra honesto com o comerciante ao afirmar que não é de seus serviços que eles estão precisando, mas sim de alguém para trocar a porta, que se apresenta vulnerável aos arrombamentos... Mais uma vez notamos dificuldades na comunicação entre os “diferentes”... A noite seguinte foi marcada pelo arrombamento do mercadinho, que apareceu com pichações grosseiras contra os “proprietários árabes” (!). O pobre imigrante quer fazer justiça com as próprias mãos, mas em sua interpretação o culpado é o “chaveiro”. 

Os carros que a dupla assaltante (lá do início do filme) conseguia tinham um destino certo. Os diálogos que mantinham enquanto dirigiam também revelam que os dois jovens não compartilham totalmente as mesmas ideias sobre o Movimento Negro ou sobre o racismo em seu país... No percurso atropelam um oriental, logo identificado por eles como “chinês” (mais ou menos como aconteceu com o libanês confundido com um árabe)... Despacham o carrão subtraído dos milionários... Mais tarde o mais exaltado dos rapazes leva a Van do oriental atropelado...

Pois é... A esposa desse oriental (que foi parar no hospital) havia se envolvido em um acidente de trânsito e discutiu com uma latina (isso é logo no começo do filme)... Essa é uma policial que trabalha com o investigador negro, Grahan Waters. O relacionamento dos dois policiais ultrapassa os “do ofício”... Ela é cotidianamente identificada como “branca”, “mexicana”... Embora sua origem seja porto-riquenha... Grahan Waters (Don Cheadle) também tem seus dramas pessoais. Sua mãe é viciada em drogas pesadas e vive, em condições degradantes, à espera do filho mais novo... Este é simplesmente o assaltante que forma dupla com aquele mais exaltado. Waters procura tranquilizar a mãe dizendo que encontrará o irmão.

Há dois outros policiais, os oficiais Hansen e Ryan (Matt Dillon). Ryan é o mais vivido na corporação, passa por situações bem complicadas. Seu velho pai enfrenta graves problemas urológicos e o Plano de Saúde não garante um tratamento digno ao paciente... Ryan parece descarregar sua ira nos cidadãos de bem que “cruza” nas ruas e estabelecimentos de L. A. Isso ocorre quando ele conversa com a enfermeira Shaniqua Johnson, que é quem responde pelo Seguro. O policial despeja uma série de ofensas à mulher, mais uma negra... Ryan não se conforma que o destino de seu pai, um contribuinte branco, esteja nas mãos dela.

Há o episódio em que a viatura de Ryan obriga Cameron a parar o seu veículo para checagem de documentos e outras indagações... Cameron é um diretor de TV e está acompanhado pela esposa, Christine (Thandie Newton), que na ocasião é molestada por Ryan. Este não esconde seu agressivo racismo. Cameron se mostra um negro “adaptado à cordialidade e modo branco de viver” e, assim, procura não provocar maiores complicações com a situação provocada pelo policial... Mas o ocorrido deixou traumas em Christine, que esperava outra reação do marido.

Hansen, o outro policial, se mostrou indignado com a atitude do parceiro e solicita mudança de dupla. Ryan disse a ele algo como “o ofício o fará mudar o modo de encarar a realidade”.

Dupla desfeita, e não é que os destinos se cruzam novamente? O “mais irado” dos jovens assaltantes do início atua sozinho e quer roubar ninguém menos que o nosso diretor de TV, que anda decepcionado com a vida depois dos últimos acontecimentos... Os dois discutem e Cameron tem uma arma apontada contra o corpo... O carro segue em disparada e passa a ser perseguido por veículos policiais, entre os tiras está o policial Hansen. É ele que, reconhecendo-o da última ocorrência, acaba evitando confusões maiores para Cameron.

Cameron também acabou protegendo o rapaz assaltante, que permaneceu no interior do veículo. O diretor de TV o deixa numa calçada... Cada um segue o seu caminho... Christine se envolveu em um sério acidente... O carro dela capotou e está prestes a explodir. A mulher é salva pelo policial Ryan, não sem antes demonstrar desespero e indignação ao vê-lo.

O mais jovem dos delinquentes, irmão do investigador Grahan Waters, pede carona na estrada, pois pretende assistir a uma partida de hóquei no gelo. Hansen está à paisana e é o motorista que decide fazer a gentileza... Os dois trocam algumas ideias e Hansen, em pouco tempo, imagina que o rapaz pode atentar contra sua vida. Um mal entendido leva o policial a assassiná-lo... O garoto fez um movimento para retirar uma estatueta de São Cristóvão (idêntica à do painel do carro de Hansen) do bolso e isso apavorou Hansen... Desesperado, o policial abandona o cadáver à beira da estrada e incendeia o próprio veículo. A neve começa a cair... Há uns tipos que se aquecem ao calor do carro queimando... Cameron chega e também se aquece... Telefona para Christine... Melodrama.

O investigador Waters chega ao local onde está o cadáver do próprio irmão... Ao reconhecê-lo, sabe que fracassou... A mãe não o perdoa. O corpo está aos cuidados da filha do libanês...

O pai da legista está encantado porque acredita que um milagre o impediu de assassinar a filha do “chaveiro”. A garotinha colocou-se nos braços do pai no momento em que o revoltado libanês disparava sua arma... Mas ele não sabia que a munição era festim. A legista parecia prever que o pai poderia se envolver em alguma confusão...

O rapaz mais radical (parceiro do jovem assassinado) levou a Van do oriental atropelado... No local de receptação do veículo roubado ficou sabendo que ela estava repleta de imigrantes ilegais... O atropelado traficava esse pessoal (tailandês, chinês, vietnamita?). O rapaz que havia passado por tantas situações conflituosas (também em relação aos seus conceitos) resolve deixá-los (livres) num bairro oriental...

E a esposa (Bullock) do candidato? Percebe que é uma solitária infeliz e que a pessoa em que mais pode confiar é a empregada Maria, a latina.

O policial Ryan? Prossegue confortando o velho pai nas noites mal dormidas...

Mais um crash, o derradeiro do filme... Shaniqua Johnson, a enfermeira negra que se mostrou indignada com as ofensas do policial branco, salta do carro despejando impropérios contra o outro motorista... Mais um latino. A vida segue na grande cidade com seus encontros e desencontros.


Um abraço,
Prof.Gilberto

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