quarta-feira, 31 de outubro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – o autômato “assinou” o desenho que fez; tia Jeanne se emociona e se preocupa ao ver o desenho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_27.html antes de ler esta postagem:

Então Hugo e Isabelle viram que o autômato produziu um desenho. Algo maravilhoso de se observar. O menino Cabret se emocionou porque tinha certeza de que aquilo só podia ser alguma mensagem deixada por seu pai... É claro... Mas o que ela significava? Isabelle nada dizia... Os dois estavam silenciados e quando imaginavam que o trabalho do boneco já havia finalizado, ele realizou ainda alguns últimos movimentos de adicionar tinta à pena... Ele assinou sua obra escrevendo Georges Méliès.
Isabelle tornou-se agitada ao reconhecer o nome do próprio tio. Ela passou a discutir com o amigo porque concluiu que o caderno com os desenhos (e a própria máquina) não podiam ser do pai de Hugo, como ele afirmara... Assim, tudo deveria pertencer ao seu tio... Hugo só podia ter roubado... Isso explicava, em parte, porque ele pegou a chave dela. A menina protestou indignada enquanto ele se defendia dizendo ter certeza de que os desenhos haviam sido feitos por seu pai... Isabelle pegou o caderno, a chave e o desenho feito pelo autômato. Cabret quis evitar, mas ela alegou que a “assinatura” era do tio Georges... Cada um segurou a folha de tal forma que o desenho se partiu em dois... Isabelle guardou a parte que ficou em sua mão e foi se retirando.
Hugo perseguiu a garota. Ela disse que ia para casa saber de tia Jeanne o que tudo aquilo significava. Com a sua metade do desenho no bolso, Hugo saiu em seu encalço... Já era bem tarde... A loja de brinquedos ainda não havia fechado. De sua parte, Hugo seguia preocupado porque deveria ter guardado o boneco e fazer sua inspeção pelos relógios da estação, mas decidiu que deveria seguir Isabelle...
Os dois passaram rapidamente pelo cemitério... Hugo gritava querendo saber onde ela havia conseguido a chave... Isabelle caminhava sem querer responder... Ele quis saber se a chave havia sido presente de alguém... Ela disse que não e, depois, pediu que a deixasse em paz. À porta do prédio onde Isabelle morava, Hugo insistiu mais uma vez em saber a verdade, mas a garota entrou e quis trancar a porta com violência... Então aconteceu que ela esmagou os dedos do menino. Foi uma dor terrível e seu grito chamou a atenção de tia Jeanne que, do alto da escada, perguntou sobre o que estava acontecendo.
Isabelle lamentou ter ferido o menino... Então não pôde evitar e acabou permitindo a sua entrada. Exigiu que entrasse descalço no apartamento. Pediu também que não falasse nada sobre o autômato ou a chave... A tia Jeanne quis saber quem era o menino, Isabelle disse o seu nome e ela concluiu que ele fosse o garoto que trabalhava na loja de brinquedos. Quis saber o que ele estava fazendo ali... Ao perceber o machucado nos dedos de Hugo, Jeanne levou-o a um quarto e providenciou gelo envolvido num guardanapo. O menino estava sofrendo de dor na mão direita e sentia raiva de Isabelle porque, além de ela ter roubado o caderno, machucou-o na porta... Tia Jeanne falou que esperava que Isabelle retornasse para casa com o tio Georges e não entendia porque as duas crianças estavam ali... Hugo decidiu tirar a metade do desenho que havia ficado com ele e mostrou à mulher. Isabelle protestou dizendo que ainda não era o momento, mas Jeanne já observava o desenho...
Tia Jeanne espantou-se com o que viu... Hugo pediu que Isabelle também entregasse a sua parte. A mulher pôs-se a chorar e mais uma vez disse que não podia entender... Hugo falou que tinha o “homem mecânico”. Isabelle cortou-lhe a palavra dizendo que ele havia roubado. Então o menino explicou sobre o incêndio no museu, que tinha recuperado o boneco com as várias peças de brinquedo que pegava na loja... E que ele funcionou com a chave de Isabelle... Jeanne quis saber que chave era essa.
Isabelle mostrou a chave que trazia presa à correntinha e tia Jeanne revelou que pertencia a ela... Imaginou que a tivesse perdido... Hugo concluiu que sua amiga havia roubado de sua própria madrinha. A garota começou a chorar e disse que era a única coisa que havia pegado... Pediu que a tia não ficasse brava com ela... Entristecida, tia Jeanne desabafou dizendo-se cercada por ladrões... Ela soltou as duas partes do desenho e Hugo as pegou imediatamente... A senhora pediu para ele levar as folhas para bem longe dali... Disse ainda que “o passado não pode ser desenterrado"... Para Isabelle, ela recomendou que escondesse e cuidasse muito bem da chave.
Hugo quis saber o que tudo aquilo significava. Mas a única coisa que Jeanne disse  foi que precisava proteger o marido. Pediu que nunca mais falassem sobre aquele assunto.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian.html
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Filme: Quanto Vale ou é por Quilo? – inauguração de sala de informática em ambiente carente; parceria entre políticos, grupos de assistência e a “Stiner”

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/09/filme-quanto-vale-ou-e-por-quilo-dona.html antes de ler esta postagem:

Marco Aurélio (Herson Capri) era aquele que acertava a publicidade para grupos envolvidos com projetos sociais (como era o caso de dom Elísio em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/filme-quanto-vale-ou-e-por-quilo_23.html). Ele era dono da Stiner, empresa que cuidava de equipar as instituições de caridade. Vemos esse Marco Aurélio com o seu assistente, Ricardo... Eles esperam o elevador que dá acesso aos escritórios...
Quem apareceu foi tia Judite... Ela não conhecia a entrada dos funcionários, mas estava ali também para cumprimentá-lo e agradecer a oportunidade de emprego como faxineira na empresa... A velha senhora disse que estava precisando do trabalho porque o filho está preso... Justificou ter necessidade de dinheiro para visitá-lo... Notamos o desconforto de Marco Aurélio com a presença da mulher que insistia em agradecer e, ao mesmo tempo, demonstrar que se tratava de uma pessoa muito necessitada... Tivera um derrame cerebral recentemente, mas cuidaria das tarefas com zelo... É Lurdes quem a tira dali ensinando-lhe por onde deve entrar.
A sós com o assistente, ele conclui que a mulher não tem a menor condição de trabalhar... Perguntado se a miséria à porta da empresa o incomodou, fez referência ao braço da outra e lamentou... Disse que possui valores e não podia admitir que ela trabalhasse naquelas condições... Sintetizou com um “até que ponto o ser humano chega”... Ricardo fez provocações ao dizer que o chefe suporta ver as crianças miseráveis, mas ver idosos sofrerem incomodava a sua consciência...
Depois a cena é a de um interior de automóvel... Marco Aurélio dirige e ao seu lado está o assistente... Atrás há um tipo loquaz, o vereador Solis... Estão se dirigindo a uma inauguração... O tipo diz que o governador estará presente, que o lugar é pobre e que eles não precisam se preocupar porque serão bem tratados... O risonho assistente fala que se trata de um projeto de “inclusão digital”... Os pobres receberiam um ambiente informatizado com joguinhos para as crianças e acesso à internet...
O carro saiu do asfalto e iniciou a subida de uma ladeira típica dos morros povoados por comunidades que residem em barracos... À frente se deparam com uma cena violenta... Um tipo jazia ensanguentado enquanto outros estavam fortemente armados ao seu redor... Um deles, que parecia ser o líder do bando, gritou e exigiu a retirada do defunto... Ricardo se desesperou e pediu para o chefe retirá-los dali imediatamente... Mas a manobra sucedeu em desastrosa e o carro ficou atolado numa vala por onde descia uma água fétida de esgoto... O vereador falante aparentava calma, pediu para os dois permanecerem no carro e ele mesmo desceu para falar com os tipos armados.
Ele argumentou com os rapazes e explicou que estavam ali para trazer melhorias, mas de repente o carro atolou... Para desespero do assistente, Marco Aurélio tirou gravata e paletó e também saiu do carro (colocou as mãos sobre o teto do carro dando a impressão de que estava pronto para ser assaltado)... Havia uma mulher que chorava o sobre o cadáver... Os que estavam armados circundaram Solis, que passou a negociar uma ajuda para tirarem o carro dali... O grupo seguiu até o carro e o “negociador” tranquilizou Marco Aurélio dizendo que vieram ajudá-los a tirar o carro do atolamento... Os moços fizeram comentários sobre o veículo, sobre o dinheiro que ganhariam pela ajuda que davam... Deram um jeito de tirar cadáver do meio da estreita passagem e (com muitos palavrões) começaram a empurrar o carro... A passagem ficou desimpedida e Marco Aurélio acelerou morro acima.
No ambiente inaugurado fizeram vários discursos... Aquele que parecia ser o governador agradeceu a parceria com a empresa de Marco Aurélio... Falou do modo como a comunidade acolheu o projeto... O ambiente estava repleto, mas as pessoas pouco se interessavam pelo que era dito, a cena apresenta adolescentes atirando papéis amassados uns nos outros e nas autoridades... Marco Aurélio e seu assistente aparentam cansaço e perplexidade... Ele cortou a fita e a sala onde os computadores estavam instalados foi invadida... Por pouco as autoridades não foram derrubadas... Os equipamentos estavam desligados e aparentavam não funcionar...
Computadores foram tomados por crianças e adolescentes, entre eles estava Arminda tentando controlar a fúria da meninada... Ela não conseguiu evitar o tratamento violento que dispensavam aos equipamentos (o monitor de um deles foi atirado ao chão)... Em meio à gritaria, ela também gritou perguntando se eles eram loucos... Outras crianças interferiram e criticaram aquele que causou a agressão extremada.
Indicação (14 anos)
Continua em https://aulasprofgilberto.blogspot.com/2012/11/filme-quanto-vale-ou-e-por-quilo.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir – uma reunião na casa de Claudie; Anne conhece novos tipos e ouve Lucie Belhomme falar sobre Paule; entende que Marie-Ange sugere-lhe diversões para uma noite mais prolongada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_23.html antes de ler esta postagem:

Anne ainda não havia falado sobre a carta de Romieux com Nadine... Ela andava refletindo sobre a viagem aos Estados Unidos... De certa forma, a garota percebia ares de mudança na mãe. Alguns dias depois do encontro com Paule, Anne teve uma conversa daquelas em que a filha sempre fazia questão de ferir sua autoestima... Sem se importar com o que a mãe pudesse estar passando, Nadine revelou que havia encontrado “o homem de sua vida”... O “verdadeiro”... Amigo de Lachaume, um autêntico militante chamado Joly. A garota estava fascinada e contou a Anne que o rapaz se mostrava surpreso por ela ainda não ter ingressado no Partido... Anne disse que concordava que filha devia mesmo passar por experiências daquele tipo... Acabou ouvindo que não se tratava bem disso... Para Nadine (e Joly), “experiências” como a mãe e os especialistas diziam ao se referirem aos engajamentos juvenis eram meras classificações, perdas de tempo. Para eles o que contava era a atuação. Por alguns dias Anne viu Nadine entre empolgada e frustrada diante de volumes de Química e de O Capital... Os gestos de Anne passaram a ser analisados pela filha “à luz do materialismo histórico”.
(...)
Claudie era um tipo rico que, durante a guerra, teve condições de enviar algum auxílio aos amigos menos favorecidos e aos engajados na Resistência. No pós-guerra as coisas iam se ajeitando e a moça realizava encontros para coquetéis em sua mansão às quintas-feiras... Normalmente o encontro contava com diversas de suas amigas para conversas e “bebericagens”. Conforme havia indicado a Paule, Anne decidiu comparecer a uma dessas reuniões... E aconteceu numa “tarde de neve no mês de maio”.
Anne chegou de bicicleta e foi recepcionada por Laure Marva, que foi logo esclarecendo que todas as presentes ficaram encantadas com sua chegada... Um milagre! Laure disse que nem ousavam convidá-la porque Anne estava sempre muito ocupada... De fato, aquele tipo de reunião dizia bem pouco a Anne e Robert... O casal considerava aquilo muito entediante... Os que ali se encontravam viam o casal Dubreuilh como orgulhoso...
Claudie perguntou por Robert e elogiou seu artigo em Vigilance... Perlène, pintor amante de Claudie, participou dizendo que a publicação da revista era um feito considerável... Outra que quis falar sobre Robert foi Guite Ventadour (segundo a própria Anne, essa aí era uma “escritora de romances inteligentes”), que se referiu a ele como amante da arte pura, mas mesmo assim apaixonado pelas mazelas humanas do “mundo atual”... Claudie quis saber se Anne escrevia um diário sobre as atividades do marido... Obviamente ela respondeu que não tinha tempo para isso. Huguette Volange comentou com admiração que, mesmo vivendo com um homem do porte de Robert, Anne ainda se envolvia em afazeres profissionais... Algo que para ela seria impossível, pois seu marido demandava seu tempo integralmente...
Anne sentia que olhavam para ela e a enchiam de questões como se o marido já houvesse morrido... Ela pensou e levou em conta o quanto Robert era disputado por essas pessoas, mas não gostaria que a enxergassem como testemunha ou herdeira dele.
Foi Guite quem, talvez percebendo o mal-estar de Anne, retirou-a do meio das convivas para servir-lhe algo. Então comentou que não havia ali outra mulher inteligente além delas duas. Sugeriu que um dia Anne e Robert a visitassem para conversar e jantar... Ponderou que apenas homens seriam convidados, declarando que a companhia de mulheres não rendia boas conversas. Anne observou que se entendia muito bem com as mulheres... Guite não compartilhava dessa opinião e perguntou se aquilo era normal... Anne respondeu que quase todas as mulheres preferiam a companhia masculina... Guite voltou-se para Huguette, com quem passou a conversar...
Novamente Claudie se aproximou de Anne e apresentou-lhe Lucie Belhomme, uma estilista morena e alta que também conhecia Paule... Sobre ela, Lucie foi dizendo que não possuía estilo, ou ainda não havia encontrado o seu próprio (como Anne queria fazer crer). A moça também disse que ”vestiu” Paule gratuitamente para gerar publicidade para a sua Casa Amaryllis. Comentou também que, em sua opinião, Paule nunca soube tirar bom proveito de suas atribuições... Nem mesmo de sua bela voz... Falou sobre a oportunidade que a outra teve de cantar no Brasil e sobre como passou a se devotar a uma paixão (sabia do “caso” sem conhecer Henri)... Lucie quis saber de Anne se era verdade que Paule estava sendo abandonada... Anne desmentiu com veemência...
Novamente sozinha, Anne passou a refletir sobre o ódio que Lucie expressou em relação a Paule, que considerava uma “prostituta cantora” preguiçosa que vivia a aguardar alguém que a protegesse... Anne pensou sobre isso e sobre o fato de a amiga nunca ter falado sobre seus primeiros anos em Paris... Algo intrigante... De repente quem chega perto dela é ninguém menos que Marie-Ange, a repórter que se fez passar por doméstica. Iniciaram conversa amistosa e Anne dizia que a desculpava, pois "era a mais velha de seis irmãos"... A outra revelou em tom de brincadeira que havia mentido também sobre isso, pois tinha apenas um irmão... Anne quis saber o que fazia ali e Marie-Ange disse que apreciava coquetéis e gostava de ser vista... Acabava ouvindo as novidades... Anne perguntou sobre o que ela poderia informar a respeito de Guite Ventadour, mas Marie nada sabia da escritora, "que não falava de si"... Mas em relação à Lucie Belhomme descarregou que já era um tipo de idade considerável, que possuía três amantes... Antes da guerra ganhou muito dinheiro... Agora estava numa fase de recuperação dos negócios, embora manifestasse certo enjoo e por isso se revelava má...
Marie-Ange disse que os “tipos chatos” tinham se retirado da casa e, então podiam se divertir... Anne deu a desculpa de que tinha coisas a resolver... Claudie insistiu para que ficasse para a ceia, que seria servida em mesas separadas... Queria apresentá-la a pessoas ricas e importantes, que pagariam bem pelas consultas em seu consultório... Anne respondeu que já possuía muitos pacientes, mas ouviu de Claudie que nem todos pagavam adequadamente, sendo assim, um só novo cliente poderia economizar-lhe o tempo que dispensava a dez... Anne respondeu que poderiam voltar a falar sobre o assunto, mas notou que Claudie só entendia o trabalho como meio de prosperar e se enriquecer... Definitivamente Anne não via o trabalho da mesma forma...
Depois as mulheres se acomodaram e iniciaram um “jogo da verdade”... Anne quis mostrar que não gostava do jogo em que as pessoas só diziam mentiras sem revelar “o mistério que habita” dentro delas... Huguette perguntou a Guite qual a sua flor preferida... Para Claudie, perguntou quantos amantes ela já teve... A anfitriã ficou sem saber se 25 ou 26 e, “para dizer a verdade”, foi até o banheiro onde mantinha uma lista... Ao retornar, gritou em triunfo que eram 27.
Então Huguette perguntou a Anne em quê pensava naquele momento... Ela respondeu que deveria estar em outra parte porque tinha serviço urgente... Sob protestos foi se retirando... Marie-Ange a seguiu e lamentou profundamente que Anne tivesse de ir, pois poderiam jantar juntas... Mas não teve jeito, Anne pegou sua bicicleta e saiu... Seguiu pensando sobre esse tipinho que bem provavelmente pretendia oferecer seu coração e corpinho a ela...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sábado, 27 de outubro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – o autômato funcionou; fez rabiscos no papel; Hugo reconheceu o desenho

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_24.html antes de ler esta postagem:

No dia seguinte após os episódios do cinema e da correria pela estação, Hugo chegou atrasado para o trabalho na loja de brinquedos. O velho Georges largou as cartas de baralho e seguiu em sua direção... Estava furioso e logo disparou que o garoto devia devolver-lhe o caderno. Falou que Hugo teve a ousadia de entrar em sua casa para descobrir onde o caderno estava para roubá-lo. É claro que o menino Cabret não tinha nada a ver com aquilo, mas intimamente sabia que Isabelle conseguira o que havia prometido... Ao mesmo tempo em que demonstrava irritação, Georges lamentava ao dizer que iria devolver o caderno e que até tinha alguma afeição por Hugo... Não entendia como é que o menino teve coragem de reaparecer na loja.
Hugo nada podia falar e viu Isabelle aparecer atrás do tio... Ele notou que ela estava com o caderno. Enquanto Georges exigia que ele se retirasse dali, o menino insistiu que ao menos poderia abraçar a amiga... E foi isso o que fez. Ao aproximar-se dela, deu-lhe um abraço enquanto ouviu-a perguntar sobre os desenhos do caderno... Ele protestou e disse que ela não poderia olhar as páginas. A menina guardou o caderno no bolso no mesmo momento em que ele saiu em fuga pelo corredor, pois percebeu que o velho Georges já estava bem perto dele.
A verdade é que, enquanto abraçava Isabelle, Hugo conseguiu tirar a correntinha dela com a chave que tanto o intrigou no dia anterior... Fez o seu caminho em direção ao quarto, apressou-se em iluminá-lo com velas e posicionou o autômato...
Depois de tantos dias de trabalho no boneco, podia-se dizer que ele estava bem modificado... Mecanismos polidos e lubrificados... Até mesmo uma roupa Hugo havia providenciado para a máquina... Nas costas do boneco Hugo via a abertura em forma de coração... Ele tinha certeza quase plena de que a chave de Isabelle se encaixaria ali... A habilidade com as mãos (herança paterna) havia sido fundamental para concluir o trabalho até então... Mas suas mãos tremiam... Sua expectativa era imensa.
Ele sabia que ao encaixar a chave que trazia poderia acontecer qualquer coisa... Inclusive nada ocorrer... Lembrou-se que quando resgatou o autômato do prédio incendiado, nenhuma chave foi encontrada... Sendo assim, a original estava perdida... Algo lhe dizia que aquela que pertencia a Isabelle poderia fazer funcionar o mecanismo...
No instante mesmo em que encaixou a chave para girá-la, Isabelle escancarou a porta do alojamento... Ela foi para cima dele e exigiu que devolvesse a chave... Hugo se debatia para se defender dos golpes da garota e pedia que ela se fosse...
A menina lutava e perguntava sobre que lugar era aquele... Hugo respondia que era segredo... Ela dizia que, estando ali, já não havia segredo... Ele falou que vivia ali e isso era tudo, então ela podia deixá-lo... Só depois de algum tempo é que ela notou o boneco instalado e reconheceu que o desenho do caderno representava aquela máquina. Quis saber o que estava acontecendo...
Hugo explicou que o pai havia feito o objeto para ele (mentiu para acabar com o assunto)... Isabelle mostrou indignação ao dizer que não fazia sentido crer que sua chave daria funcionamento à máquina... Nem o próprio Hugo conseguiu arranjar explicação para aquilo... Ela falou que ele não precisava roubar a chave, pois se ele a pedisse, ela emprestaria... Curiosa como ficou, Isabelle quis que ele funcionasse a máquina, mas Hugo disse que queria estar sozinho quando “desse a partida” no boneco.
Antes que ele pudesse evitar, Isabelle dirigiu-se à chave e girou-a várias vezes. O menino ainda argumentou que não havia tinta... Então ele mesmo pegou um pequeno frasco e despejou um pouco no tinteiro da escrivaninha. E não é que o mecanismo começou a funcionar?
Na sequência vemos uma ilustração de duas páginas... A fisionomia das crianças é de espanto ao observar os movimentos do autômato... O boneco tinha o tinteiro na mão esquerda, e na direita segurava uma pena... As várias peças (uma corda, engrenagens, discos, varetas, peças em formato de martelo) entraram em ação e os dois viram ombro e pescoço do boneco girarem; cotovelo e punhos foram ativados... A mão da máquina começou a se movimentar... O boneco realizava os movimentos como se estivesse escrevendo... Nova série de ilustrações e vemos o boneco fazer rabiscos aparentemente desconexos.
Hugo desesperou-se... Quase que aos berros, pediu o caderno para conferir os desenhos do pai... Mas estava tudo certo... E então entendeu que a ideia de dar prosseguimento ao projeto talvez fosse perda de tempo... Não haveria mensagem alguma deixada por seu pai... O menino se instalou num canto do quarto, cabisbaixo, concluía que não havia mais nada a ser feito. Enquanto isso, Isabelle permanecia atenta aos rabiscos do boneco... De repente ela notou que, em vez de um texto, o boneco produzia um desenho. De tão admirada, não conseguiu soltar a voz.
Hugo chegou perto dela e viu o desenho que surgia no papel a partir da pena movimentada pelo autômato... Os dois viram o desenho da Lua, entre nuvens e estrelas, com uma fisionomia afetada em seu olho direito por uma espaçonave... Hugo reconheceu a ilustração... Imediatamente soube que se tratava de uma cena de filme que ficara na memória de seu pai (que havia assistido quando era ainda um garoto)... Na ocasião em que conheceu Etienne e foi convidado para uma sessão (ver http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_21.html) lembrou-se de como o pai falava-lhe daquela cena que parecia ter sido tirada de um sonho.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_31.html
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

“O Queijo e os Vermes”, de Carlo Ginzburg – livros aos quais Menocchio teve algum acesso; o Friuli e seu círculo de leitores

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg_22.html antes de ler esta postagem:

Menocchio andou dizendo que se quisessem que ele ensinasse a “estrada verdadeira”, deveriam “trilhar o caminho” de seus (dele) antecessores e “seguir o que a Santa Madre Igreja ordena”. Isso é o que declararam em depoimentos por ocasião ainda do primeiro processo... Mas ele não procedia conforme a máxima que “ensinava”. Bem o contrário era o que se verificava, pois dele seus contemporâneos verificavam o afastamento da fé, a recusa das pregações do pároco e doutrina da Igreja. As questões que Ginzburg nos leva a refletir são de “ordem epistemológica”: O que o tornava tão seguro de suas convicções? Em nome do quê falava?
Um levantamento das explicações, que ele mesmo deu quando interrogado pelos inquisidores, permite verificar que num primeiro momento ele creditou à tentação de “espírito maligno” que o levava a crer “naquelas coisas”... Depois declarou não saber se sua inspiração vinha de Deus ou do demônio... E ainda que “o diabo ou outra coisa qualquer o tentava”... Finalmente, talvez tentando definir melhor o que poderia ser essa “outra coisa”, assumiu que suas opiniões saíam de sua própria cabeça.
Ginzburg destaca que neste ponto Menocchio diferenciava-se de outros que (entre o fim do século XIV e início do XV) falavam sobre assuntos religiosos, procedimentos eclesiásticos e até de “revelações” que ostentavam conhecer graças à “iluminação” que recebiam... O livro cita o caso de um ex-beneditino, Giorgio Siculo que em 1550 pretendia apresentar “verdades” (transmitidas a ele pelo próprio Cristo em pessoa) aos padres reunidos em Trento... Esse não era o caso de Menocchio... A afirmação de que as opiniões “saíam de sua própria cabeça” confere-lhe “racionalidade”.
E havia também, produto dessa racionalidade, a inspiração em determinados textos a que teve acesso. O Queijo e os Vermes apresenta o exemplo em que ele relata ter conversado com o padre de Barcis sobre a virgindade de Maria... Na ocasião, ele justificava suas indagações a partir da reflexão sobre não conhecer nenhum nascimento que tenha ocorrido de mulher virgem... Argumentava que havia lido em Fioretto della Bibbia “que a Gloriosa Virgem se casara com São José” (...) que “chamava Nosso Senhor Jesus Cristo de filhinho.”
O vigário-geral mandou revistar a casa de Menocchio para apreender livros proibidos, mas os volumes que encontraram não eram condenados. O Queijo e os Vermes apresenta uma lista de livros com os quais ele deve ter feito algum contato e leitura (foram citados em seu primeiro processo). São eles: * a Bíblia em vulgar; * Fioretto della Bibbia (“crônica medieval catalã”, composta pela mistura de várias fontes, como a Vulgata, o Chronicon de Isidoro, o Elucidarium de Honório d’Autum, e evangelhos apócrifos... Teve grande circulação entre os séculos XIV e XV, com cerca de vinte edições); * Il Lucidário (ou Rosário? Conforme o próprio Ginzburg) della Madonna – de considerável circulação durante o século XVI; * Il Lucendario (o correto, ainda segundo o autor, seria Legendario de Santi, de Jacopo da Varagine); * Historia del Giudicio (“poeminha anônimo” do século XV); * Il cavallier Zuanne de Mandavilla (reimpresso até o final do século XV, livro de viagem atribuído ao fantasmagórico sir John Mandeville); * Il sogno dil Caravia (que Menocchio conhecia como Zampollo).
Do segundo processo: * Il supplimento dele cronache (uma tradução em vulgar da crônica escrita pelo ermitão bergamasco Jacopo Filippo Foresti); * Lunario al modo di Italia calculato composto nella città di Pesaro dal eccmo dottore Marino Camilo de Leonardis; * uma edição censurada do Decameron de Boccacio; um livro sem definições específicas que Ginzburg supôs ser o Alcorão (em 1547 havia saído uma tradução italiana).
Depois da apresentação dessa lista, O queijo e os Vermes trata de como os livros teriam chegado até o moleiro. O Fioretto della Bibbia é o único que ele comprou. Tomaso Mero da Malmins presenteou-o com oSupplementum... Historia Del Giudicio, Lunario e aquele que Ginzburg supôs ser o Corão eram materiais que não se sabe como Menocchio tomou conhecimento... Os demais livros (num total de seis) chegaram a ele através de empréstimos de pessoas comuns da aldeia e locais onde viveu... O Lucidario (ou Rosário?) foi emprestado por Anna de Cecho durante o exílio em Arba (1564). O filho dela, Giorgio Capel foi chamado a depor no caso Menocchio e declarou possuir La vita de santi; vários outros títulos que possuía foram confiscados pelo pároco de Arba e recebeu apenas dois ou três de volta, pois os demais seriam queimados pela Igreja. Domenico Gerbas, tio de Menocchio, o emprestou a Bíblia e o Legendario de santi... O Legendario desapareceu depois de molhado... Bastian Scandella, primo de Menocchio, ficou com a Bíblia por algum tempo e a emprestou para ele em algumas ocasiões, mas aconteceu de Fior (mulher de Bastian) se apropriar do livro para queimá-lo... O moleiro lamentou o ocorrido, e isso merece destaque porque sabemos de outra opinião sua em que considerava a Bíblia como um livro de batalhas como outro qualquer.
Mandavilla foi livro que chegou a Menocchio através do padre Andrea Bomina, de Montereale... O religioso havia conseguido este texto em Maniago... Por ocasião de seus depoimentos, o padre afirmou que o moleiro havia recebido o livro por empréstimo de Vincenzo Lombardo (que poderia ter pegado de sua casa). Il sogno dil Caravia foi emprestado por Nicola da Porcia (de Melchiori?). Também de Nicola, por intermédio de Lunardo della Minussa, Menocchio teve acesso ao Decameron... Sabe-se que ele emprestou o seu Fioretto a um moço de Barcis, Tita Coradina... Este aí queimou o livro por ouvir do pároco local que se tratava de livro proibido.
Ginzburg destaca o fato de notar que havia mesmo um círculo de leitura na pequena Portoreale e proximidades. Conta que em Udine foi criada uma escola (sob a orientação de Gerolamo Amaseo) que ensinava a todos sem discriminação e sem cobrar nada... Pouco se sabe sobre das condições econômicas dos leitores, mas é certo que graças ao censo de 1596 pode-se afirmar que Bastian Scandella possuía muitos terrenos... Sobre Nicola da Porcia, O Queijo e os Vermes fez algumas considerações, mas a maioria que aparece nos processos são apenas nomes... Os livros, pelo menos na região, era objeto muito comum também entre camponeses... Os livros eram frágeis (podiam desaparecer se fossem molhados) e podiam ser objeto de violenta perseguição.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/11/o-queijo-e-os-vermes-de-carlo-ginzburg.html
Leia: O Queijo e os Vermes. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

“A invenção de Hugo Cabret”, de Brian Selznick – Hugo faz progressos no conserto do autômato; ele e Isabelle vão ao cinema e assistem “O Milhão”; a menina fala sobre o cinema da década de 1930; o menino mostra por interesse por uma chave que ela possui

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_21.html antes de ler esta postagem:

Depois de ter feito a inspeção nos relógios, Hugo passou a noite lendo o livro de mágica que havia adquirido honestamente graças a Etienne. O assunto o interessava tanto que o esgotou em pouco tempo. Conforme lia, treinava os truques com o seu baralho... Parou de ler para pensar em Isabelle, recordou que ela o chamara de amigo quando fez sua apresentação a Etienne. Ficou pensando nisso e na intenção dela em ajudá-lo a recuperar o caderno... Concluiu que não poderia ser amigo dela porque guardava segredos, e com os antigos amigos da escola (Antoine e Louis) não era assim.
Depois o menino Cabret retirou o boneco mecânico do esconderijo na parede e o colocou no centro do quarto. Observou com atenção um pequeno detalhe do braço, verificou algumas peças e notou que podia fazer um encaixe... Era como um quebra-cabeça... Fez ajustes com suas ferramentas e conseguiu montar o acessório. Gostou do resultado e notou que havia feito tudo sem a ajuda dos desenhos do caderno. Então, pensou, talvez conseguisse fazer o autômato funcionar sem precisar da colaboração de Isabelle... Talvez nem precisasse se submeter às tarefas na loja de Georges... Talvez o caderno nem existisse mais... Estava juntando algumas pequenas peças que recolhia na loja, então deveria continuar tentando!
A semana inteira foi de muito trabalho para ele, ainda mais porque depois de suas tarefas ordinárias nos relógios e na loja, mantinha-se acordado até quase o amanhecer trabalhando no boneco... Enfim chegou o dia de encontrar-se com Isabelle e Etienne para a sessão de cinema. Conseguiu a permissão de Georges para uma saída e seguiu para os fundos do prédio onde funcionava o cinema. Isabelle já se encontrava ali... Tiveram tempo para uma conversa em que Hugo ficou sabendo que a menina desconfiava saber de um lugar onde o tio poderia ter escondido o caderno... Ele quis saber por que o velho não a deixava ir ao cinema e ela respondeu que talvez ele imaginasse que aquilo fosse “perda de tempo”... Isabelle fez uma referência à sua família destacando, de passagem, não ter pai e mãe, mas Hugo não se mostrou disposto a falar sobre isso... A garota disse que os pais morreram quando ela era ainda bebê e o tio Georges e a tia Jeanne, que eram seus padrinhos, a criaram.
Como Etienne não aparecia, Hugo foi para a frente do cinema e o gerente logo perguntou-lhe o que queria ali. Sem saber o que dizer, o menino Cabret respondeu que estava à procura de Etienne, e foi descrevendo-o e dando detalhes de seu tapa-olho... O gerente disse que tinha acabado de demitir o moço porque ele permitia a entrada de crianças escondidas no cinema. Hugo voltou rapidamente para junto de Isabelle e contou o que havia ouvido. A garota decidiu que os dois entrariam na sala de qualquer forma... Com um grampo para cabelos conseguiu abrir a fechadura da porta de acesso. O menino ficou espantado com a destreza da outra, que afirmou ter aprendido o truque em livros. Entraram e observaram cartazes informativos sobre os filmes e rapidamente se acomodaram em cadeiras da sala porque notaram que o gerente podia pegá-los no saguão.
Na sequência vemos algumas ilustrações que mostram o início da projeção... A escuridão, uma grande cortina se abre e, enfim, luz... Antes do filme, foi exibido um noticiário no qual se destacava a depressão econômica que tivera início nos Estados Unidos há pouco tempo; uma exposição internacional que se iniciaria em Paris; e matéria sobre a situação política na Alemanha... Depois foi a vez de um desenho animado chamado A relojoaria... Hugo divertiu-se e lembrou-se do pai ao assistir à animação que começava com um velho acendendo lampiões de uma rua... Ao som de música clássica, relógios dançavam na relojoaria... A música se tornava mais agitada e, com ela, o “ânimo” dos relógios. Dois despertadores se confrontavam até o encerramento do desenho... Novamente as cortinas se fecharam e o menino conseguia deduzir os movimentos do projecionista trocando os rolos... Então assistiram ao filme O milhão, do diretor René Clair. A síntese apresentada no livro revela uma trama que envolve “um artista, um bilhete de loteria perdido, um criminoso, um casaco emprestado e um cantor de ópera”... A empolgação de Hugo ficou por conta das cenas de perseguição...
O filme terminou, as pessoas se retiraram, mas as duas crianças permaneceram extasiadas em suas cadeiras. Então foram facilmente flagradas pelo gerente que, irritadíssimo, agarrou-as pelos colarinhos e as arrastou até atirá-las para fora do cinema... Os dois correram para longe, passaram a caminhar e conversaram mais sobre cinema... Isabelle falou de suas preferências e destacou o ator Tom Mix, dos filmes de caubói... Também Louise Brooks era uma de suas atrizes preferidas... Tanto é que cortava o cabelo para imitá-la. A garota conseguia falar de muitos assuntos porque os filmes que assistira até então haviam sido marcantes para ela... Então seguiu falando de Charlie Chaplin, Jean Renoir e Buster Keaton. Ela sabia tanto sobre filmes que o menino Cabret se acanhou e nada falou, apenas ouviu.
Na estação, Hugo puxou o braço de Isabelle na intenção de se esconderem... É que ele havia avistado o inspetor concentrado na observação do relógio principal e fazendo registros num bloco de notas... Várias preocupações vieram à sua mente, principalmente a possibilidade de ele ter descoberto que o tio Claude não estava em serviço, ou que havia algo de errado com os relógios... Imaginou que sua ida ao cinema teria prejudicado a vistoria dos equipamentos. É claro que a menina quis saber por que ele havia mudado tão bruscamente o seu comportamento, mas, absorto em seus pensamentos, ele procurava se afastar da posição onde o inspetor se encontrava... Enquanto concluía que deveria voltar ao seu quarto e verificar os relógios, Isabella perguntava sobre onde ele morava e quem eram os seus pais... Reclamava que ele sabia tudo sobre ela... De repente Hugo largou-a e saiu em disparada pela estação em meio ao movimento dos usuários.
Uma série de ilustrações nos levam a entender que a menina tentou alcançá-lo, mas, desnorteada, chocou-se contra as pessoas e caiu. Aparentemente bateu a cabeça contra uma coluna. À distância o menino Cabret viu o esforço de Isabelle... As ilustrações destacam uma chave que a menina trazia como se fosse um pingente  preso a uma correntinha... O menino voltou para socorrê-la e observou com muita atenção a chave, que ela tratou de esconder sob o vestido... Ele quis saber onde ela a conseguiu; ela quis saber onde ele morava... Nada disseram a respeito disso... Isabelle saiu em disparada e Hugo a seguiu até o café... Os dois se acomodaram. Isabelle perguntou por que ele se interessou pela chave... Em vez de responder, perguntou (mais uma vez) onde ela havia conseguido. Nenhum dos dois respondeu... O apito de uma locomotiva tomou conta do ambiente e as crianças foram expulsas do café... Cada uma tomou o seu rumo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/a-invencao-de-hugo-cabret-de-brian_27.html
Leia: A invenção de Hugo Cabret. Edições SM.
Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 23 de outubro de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir - conversa de Anne com Paule; manifestações e incoerências de um tipo que insistia em existir apenas em função da outro

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir.html antes de ler esta postagem:

Anne admitia que pretendesse viajar... Talvez apenas não estivesse pronta para se confrontar com desejos e lembranças que aquela mudança de rotina despertava... No dia seguinte ela nem foi trabalhar... Como sabemos, decidiu-se por uma visita a Paule... Enquanto caminhava pensava na amiga sem entender como ela podia permanecer fechada, sem nada fazer e sem manter contato com os outros e, ainda assim, não se enfastiar... Para Anne, o fato de ela insistir em manter a relação com Henri era algo incompreensível. Sabia que um dia o inevitável rompimento ocorreria, então as pessoas próximas de Paule (como era o seu caso) teriam de dar-lhe motivações para prosseguir... Quais motivações?
Anne segue a narrativa descrevendo o ambiente onde se localiza o estúdio... E descreve também o modo como Paule se apresenta naquele dia... O seu cotidiano era simples e modesto (alternativo) era o seu trajar... Vestido caseiro e sapatos abertos, de saltos altos e tiras que davam voltas em torno das pernas... Anne não aprovava o visual...
Paule quis saber dela como estavam os seus dias... Anne comentou que sem a “ração cotidiana de horror”, as pessoas recomeçavam em suas torturas (existenciais)... Isso resultava em grande demanda às clínicas como a sua... De sua parte, retomando os assuntos conversados na noite de Natal, disse a Paule que ela deveria se esforçar em praticar o canto e voltar a se apresentar... Sabemos que a moça possuía decisão formada e respeito disso e que essa conversa não era de seu agrado...
Anne, como que querendo aconselhar, disse que nada impediria Paule manter-se devotada a Henri ao mesmo tempo em que desenvolvesse um trabalho com a música... Paule respondeu o que vivia repetindo a si mesma, a Henri e aos amigos, ou seja, afirmou que o seu devotamento a “um grande amor” não propiciava tempos a outros engajamentos. Obviamente Anne não conseguia entender a determinação de Paule e considerava exagero e “perda de tempo”, pois em sua opinião a outra poderia trabalhar... Completou dizendo que ela se sentiria bem melhor... Mas Paule insistia que havia renunciado ao canto há uns dez anos, desde que compreendera que Henri desejava a sua companhia em tempo integral... Anne lembrou que Perron havia sugerido que ela retomasse o trabalho, mas até essa observação era desprezada por Paule...
O que a moça almejaria então? Apenas o sucesso da pessoa amada contava para ela? Anne não entendia como Paule se dispunha a se anular daquela maneira... Paule respondeu que havia “outra coisa em jogo”... É claro que Anne quis saber do que se tratava, mas Paule desconversou e ofereceu um vinho quente... Retirou-se para a cozinha. Enquanto esteve sozinha, Anne ficou observando pela janela o cair da noite... Viu um tipo mal vestido conduzindo um cão dinamarquês, e do outro lado da rua observou um macaco de uma loja (de animais) especializada em aves raras... Talvez pretendesse “enxergar a realidade” com o olhar de Paule, mas desistiu por constatar ser impossível “vestir a pelo do outro”.
Paule retornou com as jarras fumegantes... Então, enquanto sorviam do vinho, retomaram a conversa. Paule explicou que estava preocupada com Henri, chegou a murmurar um “pobre Henri!” Anne quis saber o que ela tinha para revelar e ouviu da outra que Perron estava em crise, mas Anne não concordou porque entendia que ele vinha publicando artigos cada vez melhores. A isso Paule respondeu que antigamente ele não queria se envolver com jornalismo ou política. Anne tentou mostrar que as circunstâncias haviam mudado... Mas para a amiga isso não devia acontecer com o seu amado. Paule argumentou que Henri estava se desviando de uma missão e só ela poderia recolocá-lo no "rumo correto". É por isso, concluía, que não pensava em ocupar-se consigo mesma. Paule o divinizava e não aceitava que Henri fosse definido como um escritor igual aos demais.
Anne via muitas incoerências nas palavras de Paule e sinceramente pensava que Henri ficaria irritado se ouvisse aquilo. Paule desconsiderava a passagem do tempo e as mudanças que todos sofrem. Em vez disso, ela mantinha um Henri idealizado e congelado no tempo, da mesma maneira que vemos eternizados em telas gênios da literatura como Rimbaud, Baudelaire, Stendhal... Anne sentenciou que a amiga deveria permitir a Henri decidir por si mesmo o que deveria fazer. Paule mais uma vez discordou e disse à amiga que ela e Henri constituíam um só ser.
Anne se surpreendia de não recordar que Paule visse em Henri o tipo que despertasse tanto sentimento apaixonado antes de ele se destacar como intelectual da Resistência... Uma dúvida sobre aquele amor devotado pairou em suas reflexões... Mas o encontro foi finalizado e ela parece ter preferido não provocar novas manifestações de euforia na outra.
Então Anne perguntou se Paule não gostaria de visitar Claudie na quinta-feira... Ela disse que não, e soltou uma gargalhada ao dizer que Scriassine estava instalado na casa dela. Comentaram sobre isso e se despediram. No caminho de volta, Anne pensou não ter contribuído para melhorar a condição da amiga... Ela própria tinha suas dúvidas sobre si mesma. Refletiu sobre sua insegurança em relação à viagem para o Congresso em Nova Iorque.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-uma.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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