segunda-feira, 30 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – os aimoré atacavam incessantemente a parte da casa onde se encontrava a família de d. Mariz; misterioso vento na despensa dos aventureiros; morcego golpeado; Martim Vaz encontrou uma porta trancada por dentro e uma frágil parede que dava para o interior do oratório; Loredano notou que era por ali que deveriam realizar a invasão

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri_29.html antes de ler esta postagem:

O conflito de aventureiros contra o fidalgo e seus homens foi suspenso... Os dois grupos passaram a se dedicar à defesa em relação aos temíveis aimoré... Mas Loredano mantinha vivos os seus desejos de destruir d. Antônio e Álvaro, e também o de se apoderar de Cecília.
O italiano bem sabia que não podia avançar contra o casarão porque isso o tornaria frágil aos ataques dos selvagens... Esses tinham a dificuldade de atacar a casa devido à sua “posição inexpugnável” e de acesso apenas pela escada de pedra... É por isso que d. Mariz não deixava de atacar os aimoré que se aproximavam por ali...
Loredano conjecturava sobre todas essas situações e esperava que, sem luta, o fidalgo e seu “estado maior” (Álvaro, Aires Gomes e Peri) morressem... Depois disso não seria difícil se tornar “senhor do lugar” e contar com o apoio dos demais. Restaria combater os indígenas, capturar Cecília... Seria feliz? A possibilidade era remota e o mais provável seria a sua morte... Ao menos teria “esgotado até ao meio a taça do prazer que seus lábios (nem) sequer haviam tocado”.
Para a sorte de Loredano, os aimoré atacavam a parte do casarão onde estavam d. Mariz, seus familiares e companheiros... O bandido seguia refletindo sobre o desencadeamento desses acontecimentos quando Martim Vaz se aproximou... Esse tipo havia se tornado o homem de sua confiança desde as mortes de Soeiro e Simões... Ele era o único que sabia dos segredos dele, pois Loredano desconfiava que os demais fossem suscetíveis à influência de d. Mariz.
Vaz explicou-lhe que o ataque à casa possuía um entrave que não esperavam: uma porta “pregada por dentro”... Ele estava investigando as possibilidades de um ataque aos inimigos partindo de uma sala que servia de cozinha e despensa aos aventureiros... Loredano despertou João Feio para deixá-lo de guarda enquanto seguiu com o outro até a tal porta que dava acesso à parte utilizada por d. Mariz e sua família.
Aconteceu que no momento em que passava para a sala interior, a luz que Vaz carregava se apagou... Loredano se queixou e o moço explicou que uma surpreendente corrente de vento eliminou o fogo... Enquanto Vaz saiu para providenciar outro fogo, o italiano teve a impressão de ouvir uma respiração humana. Então se armou com o seu punhal e preparou-se para atacar quem quer que fosse que por ali estivesse. Apesar de não ouvir mais nada que o incomodasse, resolveu golpear sua lâmina no ar no momento em que Martim Vaz chegava com o fogo. Para a surpresa de ambos, o punhal estava ensanguentado... Concluíram que devia haver algum inimigo escondido... Mas após uma agitação no telhado, um morcego ferido passou por eles. Isso os tranquilizou.
Após esse episódio, seguiram por uma estreita brecha que deveria dar para o interior da casa... Mais à frente chegaram a uma varanda que topava com paredes de cômodos... De um lado o abandonado quarto de Cecília, e do outro o oratório e o gabinete de armas de d. Mariz. Era na parte em que se localizava o gabinete que havia uma porta de jacarandá pregada pelo outro lado.
Loredano viu que se tratava de um obstáculo de difícil transposição... Mas se conseguissem passar por ele teria condições de assassinar os seus inimigos desprevenidos... Seus pensamentos eram só lamento até que verificou que havia uma pequena fresta no alto da parede do oratório... Ele viu que naquele local a construção era de apenas um tijolo. Então a parede fina, que tinha a função de separar o oratório da varanda (anteriormente os locais deviam se ligar pelo corredor), se apresentava ideal para o assalto que desejava realizar... Com a ponta da faca, Loredano tirou o reboco da parede e notou a viga que a sustentava. Ele calculou que em duas horas conseguiriam removê-la e, assim, invadir o ambiente de d. Mariz.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 29 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Peri elaborou um plano para enfrentar os inimigos da casa; à Cecília disse que não haveria o que temer; ao destruir suas armas, entendemos que o seu projeto era “ser vencido”; Loredano e suas reflexões sobre as chances de realização que teve e os riscos de morte que correu

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-momentos.html antes de ler esta postagem:

Mergulhado em seus pensamentos, Peri continuou sua vigília junto a sua senhora. Algo o preocupava... Depois de um bom tempo levantou-se com ares de tristeza e encaminhou-se à porta da sala... A menina despertou e o advertiu sobre a sua promessa de não se afastar... Ele respondeu que desejava salvá-la fazendo algo que tinha em seu pensamento...
É claro que Cecília não entendeu como é que ele poderia trazer alguma solução para o seu padecimento, e mais ainda de que forma ele executaria algum plano sem correr nenhum perigo. Então ela sentenciou que rejeitaria qualquer salvamento que implicasse o sacrifício do amigo. Peri entendeu que as palavras de sua senhora eram uma ameaça... Ele quis sossegá-la dizendo que não temia aos aimoré e que sabia como derrotá-los... A menina não conseguia pensar da mesma maneira porque a primeira coisa que lhe vinha à mente era a grande quantidade de inimigos a serem derrotados... No entanto Peri garantia que derrotaria a todos, aimoré e brancos, ainda que somassem mil agressores.
Neste ponto temos a oposição entre a limitada e temerosa mentalidade de Cecília e a confiança de Peri em seu pensamento (sem dúvida, uma de suas principais armas dadas por Deus)... Sua força física, destreza e inteligência no combate aos inimigos não eram desprezíveis. Mas ele mesmo sabia que elas seriam insuficientes em sua empreitada.
Cecília insistiu que a convicção de Peri era apenas uma ilusão, e que seu sacrifício resultaria em inútil... Mas a cada advertência dela, ele manifestava maior confiança. Ela quis saber de onde vinha a força necessária ao combate que travaria... Ele respondeu que apenas a sua senhora bastava-lhe para encher-lhe de energia... Destacou que ela seria a sua fonte de inspiração...
Cecília se encheu de emoção ao ouvir essas palavras... Disse que ele poderia seguir em seus planos, mas alertou-o (se morresse) que o seu sacrifício seria rejeitado por ela. A palavra final de Peri era de animação... De sua parte, sentenciou que o sol que se levantaria no dia seguinte seria o último para todos os inimigos de Ceci, que poderia sorrir como dantes, e ficar alegre e contente.
Ele disse isso e se retirou... Na esplanada observou o céu e viu que as estrelas já estavam desaparecendo... Neste ponto do texto não temos a menor ideia sobre qual era o projeto do personagem... Percebemos apenas que ele demonstrava muita confiança... Depois de passar pelo jardim, entrou no abandona do quarto de Cecília. Ali pegou cada uma de suas armas e as beijou. Colocou-as no chão e retirou as penas de suas flechas. Na sequência depositou a pluma de seu cocar por cima delas. Quebrou o seu arco e juntou ao monte que se formou... Despediu-se de suas armas selvagens e pronunciou algo referente à eficiência que elas lhe proporcionavam no combate aos inimigos...
Mas a sua ideia era “ser vencido”... O “guerreiro goitacá, nunca vencido” iria sucumbir na guerra... Sua arma (o arco de Ararê) não deveria vê-lo “pedir a vida ao inimigo”.
Peri abraçou suas armas, despedindo-se delas... Depois quebrou a axorca (uma espécie de pulseira) feita de pequenos cocos que levava na perna... Ele pegou dois coquinhos e os partiu “sem separar as cascas”... Fechou-os na mão, levantou o braço e saiu do quarto.
(...)
Enquanto Peri definia seus rituais de entrega ao conflito aberto contra uma quantidade colossal de inimigos, Loredano estava do outro lado da esplanada a caminhar e a refletir sobre os seus últimos dias... Por diversos dias estivera prestes a morrer... E por outras imaginou que a sorte, poder e felicidade estivessem ao seu alcance... Mas pelo visto, enquanto a morte o respeitava, a realização material se desfizera como um sonho que se vai ao despertarmos...
O bandido pensava no ataque iniciado a d. Mariz (que certamente resultaria na destruição de seus inimigos) frustrado pelo ataque aimoré. Decididamente, não fosse aquilo, a situação de momento seria bem diferente e favorável a ele.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Mestres do Renascimento – Obras-primas italianas – Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo

Hoje é o último dia para quem deseja apreciar Mestres do Renascimento “obras-primas italianas”, que está no Centro Cultural Banco do Brasil desde 13 de julho. Mais de 50 obras (há esculturas também) podem ser contempladas... A entrada é franca.
O Centro Cultural, que se situa à Rua Álvares Penteado, 112, está promovendo a “Virada Renascentista” e desde as 7:00 de ontem até as 22:00 de hoje o funcionamento é ininterrupto. Certamente as filas estarão mais aliviadas. Na manhã deste último sábado a espera era de duas horas... E é claro que valeu a pena.
A visitação tem início no quarto andar do prédio e prossegue até o subsolo. Cada pavimento foi organizado de modo a proporcionar uma viagem pelos principais centros renascentistas.
Não por acaso o primeiro ambiente destaca Florença, pois a cidade marca o início do Renascimento. Neste pavimento exposição destaca, entre outros, obras de Botticelli (Santo Agostinho escrevendo; Anunciação); Rafael Sanzio (Cristo Abençoando); Michelangelo (um Estudo de fortificação para a Porta al Prato).
O terceiro andar está reservado para Roma. Outro Estudo de Portal, de Michelangelo, pode ser apreciado aí. De Andrea di Cristoforo Bregno há duas peças em mármore (Cabeça de menino; Cabeça feminina); de Mino di Giovanni há o Penitência e estudo de São Jerônimo, entre várias outras obras.
Veneza, Ferrara, Milão e Urbino são destacadas no segundo andar... Retrato de Elisabetta Gonzaga, obra de Rafael Sanzio em Urbino, está instalada aí, bem como A flagelação de Cristo (de Girolamo Sellari - Ferrara), Anunciação (de Giovanni Bellini – Veneza), Retrato de um cavalheiro flautista (de Giovanni Girolamo Savoldo – Milão) e Leda e o cisne (de Leonardo da Vinci – Milão)...
No primeiro andar há painéis didáticos que apresentam a cronologia renascentista, reproduzem importantes obras, como a Última Ceia, de Leonardo da Vinci.
As cidades, os museus, palácios, igrejas e capelas com suas esculturas e afrescos são apresentados na Sala de vídeo instalada no subsolo. As imagens e narrativas complementam a exposição visitada. Vale a pena conferir.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – momentos de prostração na casa; Álvaro e Isabel conversam sobre seus sentimentos; revelações, desalento, compromissos e esperança

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-tregua-nao.html antes de ler esta postagem:

Vimos que os agregados de d. Mariz suportavam aos ataques aimoré como podiam... Notamos também que, apesar da altivez que procuravam demonstrar, a esperança era minguada.
(...)
D. Antônio saiu para render Álvaro... Pouco depois o moço entrou, e via-se que o seu gibão havia sido rasgado por uma flecha que quase o atingiu. Como o forro de seu casaco era escarlate, a impressão que se tinha era que o rapaz estivesse sangrando... Imediatamente Isabel aproximou-se dele para prestar socorro. Ele explicou-lhe o que havia se passado enquanto era conduzido pela mão dela até o local onde estava instalada (próximo à janela) há um bom tempo.
É certo que ele tentava se desvencilhar sua mão das dela, mas era verdade que a precária condição em que estavam vivendo havia aproximado os seus corações... Olhares e palavras eram trocados entre eles mais do que nos tempos de paz. Álvaro percebia que os seus sentimentos em relação à moça estavam alterados. Ele a amava, mas a sua “ética fidalga” forçava-o a manter-se fiel à promessa que selara junto a d. Mariz... O moço vivia o conflito entre esse amor e a necessidade de anulá-lo. Intimamente não queria exigir que Isabel desistisse de seus sentimentos, pois ele também estava apaixonado...
Era uma luta em que ele sabia que estava sendo derrotado. Se o encontro que tiveram por ocasião do passeio se repetisse, certamente Álvaro cairia aos pés de Isabel... Doía-lhe notar que a moça não mais o perseguia, mantendo-se reservada e sem esperanças de ser correspondida.
Mas as circunstâncias permitiam a aproximação dos dois. Ele quis saber o que ela queria... Isabel, que era só encanto, respondeu que desejava apenas olhá-lo mais calmamente porque não tinha certeza se teria outra chance... Álvaro pediu-lhe que não alimentasse pensamentos tristes. Sobre isso, ela revelou que o observava pela fresta da janela e viu quando ele quase foi atingido... O rapaz espantou-se com a imprudência da menina, pois a fresta aberta, e já crivada de flechas, se tornava um alvo para os guerreiros aimoré...
Isabel ouviu as advertências do amado e respondeu que sua vida nada valia, pois nada a prendia além de poder acompanhá-lo “com os olhos e o pensamento”. Álvaro deixou escapar que a tristeza manifestada por Isabel partia-lhe a alma. Ela lamentou que até naquela situação o fizesse sofrer, pois via que ele procurava manter-se apartado dela para evitar que Cecília pensasse algo relacionado a algum sentimento que ele pudesse nutrir por ela... O rapaz respondeu que o seu medo era o de realmente amar Isabel.
Os dois se comoveram com as palavras que trocaram... Principalmente porque Álvaro deixou escapar o seu segredo de amor... Para evitar maiores complicações, o moço completou dizendo que ela não sabia que ele havia prometido a d. Mariz tornar-se marido de Cecília. Como que a se desculpar, falou que estava obrigado a cumprir o que havia prometido, a menos que a própria Cecília o rejeitasse... Enquanto isso não ocorresse se sentiria um “homem desleal” no caso de amar outra mulher.
Ao seu modo, Isabel compreendia a situação do amado... Ela se identificava como “aquela que ama sem ter esperança”, e mais, ao conhecer o “compromisso moral” de Álvaro, seu sentimento se tornava um martírio para o amado... Concluiu que só a morte poderia libertar o coração de um “primeiro e santo amor”. O rapaz pediu a ela que não pensasse daquela forma e disse que aquela loucura que acabara anunciar poderia ser justificada pela desonra...
Após breve reflexão, Isabel respondeu que a felicidade da pessoa amada também justificaria um ato extremo como a morte... Evidentemente Álvaro ficou sem entender o que ela quis dizer... A moça explicou que reconhecer-se como a razão do sofrimento da pessoa amada pode levar-nos à anulação da própria vida para permitir que o amado se realize... Disse isso e destacou que passava a ter medo de ser amada...
Álvaro tomou-lhe as mãos e suplicou-lhe que, se era fato que nutria afeição por ele, não desejava que ela o recusasse. Pediu-lhe com sinceridade que eliminasse aqueles pensamentos negativos de suas reflexões... Isabel se emocionou com as palavras do amado, e ponderou dizendo que a vida que ele pedia para conservar era a que ele mesmo desprezava... Arrematou essa consideração com uma ousada proposta: se ele aceitasse a sua vida como propriedade não haveria motivos para suplicar-lhe.
O cavalheiro retirou-se da sala, mas não sem dizer “sim”, aceitando a sugestão da amada.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – trégua não negociada; mudanças nos humores da casa após o início dos ataques; dedicação de d. Mariz; devotamento de Peri; recolhimento de Cecília; orações de d. Lauriana; vigilância de Aires Gomes; riscos assumidos por Isabel

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/09/o-guarani-de-jose-de-alencar-misteriosa.html antes de ler esta postagem:

Os aimoré chegaram e seus ataques foram incessantes... Nuvens de flechas passavam desde a sua posição (do lado de onde estava a escadaria) até o casarão. Os aventureiros se retiraram ao ambiente ao qual estavam acostumados a se acomodarem. Pode-se dizer que entre eles e d. Mariz, e os de sua parte, houve uma espécie de trégua não negociada, pois todos passaram a combater o feroz inimigo comum.
(...)
Dois dias se passaram e no casarão se instalou toda a família... Na sequência vamos observar um pouco dos procedimentos de cada um durante as horas de desespero.
(...)
O ambiente havia se transformado completamente. A vivacidade deu lugar à tensão e à tristeza... Cecília, por exemplo, teve de abandonar o seu quarto aconchegante (o aposento tornou-se lugar dos “recursos bélicos” de Peri). As janelas da casa permaneciam fechadas...
D. Mariz se esmerava na defesa daqueles que mais amava na vida. Esperava garantir que nada de muito pior do que já vinha ocorrendo acontecesse aos seus... Contava mesmo ser o último a morrer para assegurar o respeito aos entes queridos.
À noite via-se o fidalgo exausto por ter passado horas combatendo aos aimoré. Sentado na cadeira de espaldar não conseguia dormir, pois sua atenção voltava-se constantemente à melancólica sala... Refletia sobre o futuro sem esperança de reverter a situação. Observava Cecília acomodada no sofá e a menina lhe parecia completamente modificada, como que desfalecida. Dos descorados lábios da donzela notava o murmúrio de preces... De joelhos, próximo a ela, estava Peri sempre a zelar por sua segurança.
O índio não a deixava de modo algum. E durante aqueles dois dias de lutas ele enfrentou as mais complexas situações que colocaram em risco a sua vida... Assim havia sido quando se lançou contra um selvagem que, aos gritos, trazia pânico à sua senhora... Também quando a menina mostrou-se amuada e recusando alimentação, Peri retirou-se da casa, enfrentou as flechas lançadas pelos inimigos e penetrou a floresta unicamente para conseguir algum “fruto delicado, um favo de mel envolto em flores”... A tanta extravagância ele se dispunha para amenizar o sofrimento de Cecília, que ela se viu obrigada a proibi-lo de sair de perto...
Apesar de muito debilitada, ela percebia que o amigo corria riscos demais. Certamente não suportaria perdê-lo... Além disso, entendia que se houvesse alguma chance contra os invasores, ela só poderia se concretizar com as inteligentes iniciativas de Peri... Tudo isso à parte, garantir que ele sobrevivesse era apenas uma forma de retribuir toda bondade que ele sempre dedicou a ela.
Isabel permanecia próxima à janela... Ela abriu uma pequena fresta e por ali observava as manobras de defesa do casarão. É claro que só tinha olhos para Álvaro e era com ele que se preocupava. A moça corria um sério risco ao permanecer junto à fresta, que se tornava alvo das flechas aimoré, mas sua aflição em relação aos perigos que o amado corria era muito maior... Apavorava-se ao notar as setas que passavam próximas ao rapaz. O seu desejo era ampará-lo, morrer em seu lugar, ou com ele...
D. Lauriana passava boa parte das horas a rezar. Por aqueles dias revelou toda a sua nobreza e coragem... Com muita calma, e animada por sua fé, contribuía encorajando as meninas, providenciando socorro aos feridos e dirigindo a casa.
Aires Gomes mantinha-se à porta do gabinete. Ali se posicionou desde que tivera a conversa à parte com d. Mariz. O escudeiro dormia em pé, mas o menor movimento no ambiente o despertava. Ele mantinha a mão sobre o fecho da porta e a arma em punho pronta para a ação... Só se retirava quando o fidalgo se sentava na cadeira junto à porta...
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – misteriosa conversa entre d. Mariz e Aires Gomes; quatro aventureiros pedem perdão; d. Lauriana e as meninas oram; combate desigual, Loredano conta com mais aliados; o assalto ao casarão foi adiado, os aimoré chegam apavorando e ferindo de morte a um dos rebeldes

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D. Mariz caminhou sossegadamente entre os aventureiros rebelados e dirigiu-se à saída. Ali proferiu outra ameaça manifestando que se algum daqueles homens descumprisse as suas ordens não sairia dali com vida... Nesse mesmo instante apareceu Álvaro querendo saber, entre aqueles tipos, quem ousava desafiar d. Mariz... Mas o fidalgo solicitou ao jovem que não se ocupasse daquele entrevero por se tratar de um nobre e que, além disso, ele mesmo, sendo de superior estirpe, jamais se ofenderia por atos injuriosos que partissem daqueles canalhas... Disparou que ali havia culpados e executores, e que o ambiente não era digno da presença de cavalheiros.
Os dois seguiram para a sala da casa. D. Antônio, porém, retirou-se ao gabinete reservadamente com o seu escudeiro. Ali conversaram por cerca de meia hora, e ninguém soube do que falaram... É certo que, quando a porta se abriu, Álvaro viu o fidalgo pensativo, e Aires Gomes “lívido como um morto”.
Peri instalou-se no jardim e preparou-se para defender a sua senhora...
Quatro dos aventureiros que estiveram presentes no episódio em que os subordinados investiram contra d. Mariz no alpendre, chegaram à entrada da sala... O fidalgo pediu que eles se aproximassem... Os tipos choravam e estavam visivelmente arrependidos. Estavam se entregando e explicaram que os demais se preparavam para atacá-lo. Disseram que resolveram chegar até o patrão porque estavam dispostos a lutar junto a ele e que, embora fossem merecedores de punição, esperavam a graça de morrer em sua defesa... Os quatro se ajoelharam e d. Antônio viu naquele gesto similaridade aos de antigos companheiros de armas em Portugal. Então ele pediu aos aventureiros que se levantassem, pois os perdoava e não mais seriam vistos como traidores.
(...)
Logo que d. Antônio e Álvaro deixaram o alpendre, Loredano posicionou-se altivamente... Levantou-se da queda imposta por d. Mariz e voltou a inflamar o ódio dos demais aventureiros sempre envolvendo o nome de Peri e o fanatismo que a família nutria por ele.
(...)
Depois que amanheceu, Peri avistou o cadáver de Rui Soeiro... E foi para que a sua senhora não sofresse com a triste cena que ele resolveu levá-lo ao pátio. Então os insubordinados se tornaram ainda mais indignados e desejosos de vingança... Apenas os quatro que se apresentaram a d. Mariz rejeitaram participar da sedição... João Feio se dispôs a anunciar ao patrão a condição beligerante dos companheiros. Talvez eles esperassem que o fidalgo lhes entregasse Peri, porém ele disse ao porta-voz dos rebeldes que não discutia condições com condenados.
D. Antônio organizou a defesa contra os bandidos. Ao todo contava quatorze combatentes: ele próprio, Álvaro, Peri, Aires Gomes, mestre Nunes e seus companheiros, além dos quatro perdoados... O pessoal de Loredano somava mais de vinte.
Via-se que o combate seria difícil para d. Mariz e os seus... D. Lauriana e as meninas retiraram-se para as orações junto ao oratório... Elas podiam sentir que a situação era das mais desesperadoras, pois os movimentos de Loredano e de seus homens eram percebidos na casa... Eles se dirigiam contra a casa dispostos a um violento assalto.
Enquanto os tipos seguiam em sua marcha, um “som rouco” como o de um trovão ecoou da floresta... Peri dirigiu-se à beira da esplanada esperando pelo pior... Eram os aimoré que chegavam para o ataque... A uma não tão grande distância seus guerreiros podiam ser notados... E a luz do sol que nascia fazia brilhar as cores vivas de seus armamentos...
O texto apresenta um quadro assustador: “homens quase nus, de estatura gigantesca e aspecto feroz; cobertos de peles de animais e penas amarelas e escarlates, armados de grossas clavas e arcos enormes, avançavam soltando gritos medonhos”.
Também os rebeldes aventureiros perceberam a chegada dos selvagens, já que o primeiro a tombar traspassado por uma flecha foi um deles que estava em meio à marcha contra o casarão. Assustados, os demais tiveram de retroceder.
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Um abraço,
Prof.Gilberto

terça-feira, 24 de setembro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – Aires Gomes ouviu a trama dos aventureiros; conseguiu sair de seu aposento e falou sobre a sedição a d. Mariz; Loredano tomou a frente no ataque ao fidalgo e se deu mal

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Peri entendeu que era momento de esclarecer d. Antônio sobre tudo o que havia ocorrido e se dirigiu até ele. Sabemos também que enquanto os aventureiros protestavam, inflamados por Loredano, sobre a sua condição na propriedade do Paquequer, o fidalgo apareceu entre eles...
(...)
D. Mariz ficou a par dos episódios graças aos esclarecimentos prestados por Peri... Ele conseguiu alinhavar outras informações que lhe foram passadas por Álvaro e também por Aires Gomes...
O escudeiro dormiu depois da conversa regada a vinho com o mestre Nunes... Ele foi despertado pela movimentação e gritaria dos aventureiros que se levantaram por causa da inundação... Então constatou que a porta de seu aposento estava trancada por fora. Despertou Nunes para saber se ele conhecia as razões daquilo. De repente ouviram a voz de Loredano e entenderam que o bandido devia estar por trás da trama... Foi com a ajuda de mestre Nunes que Aires Gomes conseguiu subir ao telhado e, de lá, dirigir-se até d. Antônio para comunicar-lhe sobre a insurgência.
O fidalgo relacionou as denúncias que ouviu de Peri com as de seu escudeiro. Comunicou-lhes que iria ter com os aventureiros para resolver pessoalmente, e sem perturbar o sossego da casa. Solicitou que o aguardassem. Álvaro, que quis segui-lo, foi impedido com a argumentação de que a presença dos três era necessária ali para garantir a proteção das mulheres.
(...)
D. Antônio quis saber dos aventureiros o que pretendiam dele e garantiu que se fosse “de justiça” iria satisfazê-los, mas se estivessem em alguma “falta” seriam punidos... Aconteceu que ninguém teve coragem de se pronunciar... O patrão perguntou se não estavam tramando algo que escondiam dele... Então Loredano se adiantou aos demais para se pronunciar em nome de todos... Ele disse que ali eram tratados como cães, que estavam sendo sacrificados um a um e que, por isso, reivindicavam “os seus foros de homens e cristãos”. Ao dizer isso, recebeu o apoio dos demais, que disseram que não eram escravos e que valiam mais do que um herege... O fidalgo ouviu pacientemente, mas quando a gritaria aumentou, exigiu silêncio, chamou-os de vilões e, na sequência, de traidores infames.
Obviamente os aventureiros se irritaram com as palavras de d. Mariz... Loredano aproveitou o momento para gritar e invocá-los à ação... Perguntou-lhes se aceitariam os insultos e o desprezo... Em resposta eles também gritaram que “não”, empunharam os seus punhais, cercaram o fidalgo e o ameaçaram... D. Antônio permaneceu altivo e, em vez de ameaçado, parecia “senhor da situação”.
Assim ficaram por um bom tempo porque os aventureiros não ousaram investir sobre d. Antônio... É certo que, se alguém desse início ao massacre, os demais avançariam. Loredano notou que a situação permaneceria indefinida se ele mesmo não partisse para cima de seu rival... Então, com a mão firme em seu punhal, aprontou-se para o golpe. D. Antônio “com um gesto nobre” desvencilhou-se enquanto dominava a cabeça do italiano com a mão fechada. O bandido ficou com os dedos paralisados e recebeu um golpe na fronte... O fidalgo derrubou-o com a ponta do pé.
Os demais aventureiros ficaram como que congelados e ouviram d. Antônio exigir que baixassem as armas... Ele proclamou que sua vida honrada chegaria ao fim apenas por “morte justa e gloriosa” reservada por Deus... Os tipos retrocederam e recolheram os punhais... Enquanto isso o inclemente d. Mariz anunciava que os castigaria rigorosamente... Quatro dentre eles seriam executados pelos demais... Na sequência apontou para o Loredano estirado ao chão e explicou que depois de uma hora ele seria executado à frente de todos. Ele morreria como o cão “sentenciado pelo seu dono”... O italiano seria entregue ao “baraço (a corda destinada aos que são condenados à forca) e ao cutelo”...
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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