De fato, tudo muito confuso...
Estamos nos referindo à experiência de fusão de Isidore com Mercer...
Aqueles animais todos (no submundo para onde Mercer foi levado) podem ser entendidos como as criaturas extintas durante a guerra terminus? Pelo menos por essa experiência os fiéis haviam passado...
Em seu retorno à superfície, Mercer deixou-os (os “animais ressuscitados”) para trás...
De fato, tudo muito confuso...
Aquele devaneio só pode ser entendido como resultado da fusão... Enquanto segurava firmemente os manetes, aquelas sensações perduraram... Elas tinham a ver também com a consciência dos outros que participavam da “jornada merceriana”...
Apesar da dor física (seu braço sangrava), relutava em largar os manetes. Mas o fim da sessão sempre ocorria... E não foi diferente dessa vez.
(...)
É claro... Realmente o braço de Isidore sangrava...
Aquele não era o primeiro e também não seria o último ferimento contraído
numa fusão com Mercer... Mas ele sabia que a situação se tornava cada vez mais
perigosa. Não eram poucos os casos de pessoas, principalmente as mais idosas,
que acabavam morrendo após ataques cardíacos durante as sessões...
J.R. pensou que talvez fosse melhor iniciar a empatia e fusão com Mercer
em locais mais habitados, pois era certo que neles havia pelo menos um médico apto
a operar “aparelho de eletrofagulhas”.
(...)
Enquanto limpava o sangue
que escorria de seu braço, Isidore ouviu um “abafado e distante” som de
televisão... Como não se tratava do aparelho em seu apartamento, entendeu que aquilo
só podia ser resultado da presença de alguém que havia resolvido se instalar no
prédio... Algum dos andares mais abaixo devia estar sendo ocupado... E isso
significava que Isidore não mais estava sozinho na imensidão do prédio
decadente.
O “cabeça de galinha”
se tornou eufórico e pensou que deveria entrar em contato imediatamente... O
que fazer para se aproximar do desconhecido? Como será que as pessoas procediam
em ocasiões como aquela em tempos anteriores à catástrofe?
Isidore resolveu que escolheria alguma coisa em sua geladeira (capenga e
sem refrigeração) para dá-la ao novo morador... Isso seria um gesto de muita
camaradagem... Mas o que poderia levar? Pensou nas “imitações” de farinha,
leite, ovos...
Decidiu-se por um tablete
de margarina... Desceu a escadaria imaginando que devia se mostrar calmo para
que o outro não percebesse que ele era um “cabeça de galinha”... Qualquer
desconfiança nesse sentido certamente significaria bloqueio à amizade.
(...)
Depois de sua conversa com o vizinho Barbour a
respeito da égua e do potrinho que nasceria em breve, Rick Deckard se dirigiu
ao trabalho... No caminho para o Palácio de Justiça pôde contemplar exemplares
expostos na fachada de uma das maiores lojas especializadas em “animais reais”...
Ele notou que muitos outros que também trafegavam estavam curiosos... Viu que a
grande atração do momento parecia ser uma avestruz posicionada numa grande
vitrine... A ave trazida de Cleveland apresentava uma etiqueta com valor que
arrefecia qualquer empolgação...
Ao perceber que não seria daquela vez que
compraria um belo “animal natural”, seguiu para o seu ofício.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2014/10/androides-sonham-com-ovelhas-eletricas.html
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto