Por que iniciei este texto?
Porque gostaria de escrever um pouco mais sobre o louco mundo imaginado por PKD...
Infelizmente a vontade é maior do que a competência... Paciência também com essa parte II.
(...)
E aquela fusão com Mercer?
Esse
ritual é descrito no livro, mas não faz parte do filme.
Para
nós o exercício da fusão é algo bem confuso... Se considerarmos a época em que
PKD escreveu o romance, somos levados a crer que sua imaginação era excêntrica...
Ao pensarmos na atualidade, e nos vários jogos interativos e nos equipamentos que
proporcionam “realidades virtuais”, notamos que a ideia não é de todo absurda.
(...)
O
mercerismo era uma farsa? Pelo menos é o que a equipe do apresentador andy,
Buster Gente Fina, conseguiu comprovar...
O
velho Wilbur Mercer era o “porto seguro” para os desalentados humanos... Seus
ensinamentos transmitiam a certeza de que “é preciso prosseguir”... Enquanto
existimos temos de escalar a colina e sofrer os ataques dos maus... Mas não
chegamos ao fim, e nem sabemos o que há no fim... A cada nova fusão, nova
escalada...
É
como o que ocorre com o condenado Sísifo que tem a missão de conduzir grande
rocha até o alto da montanha. O cansaço o vence e a pedra sempre rola para o
ponto inicial.
(...)
J.R.
Isidore confiava em Mercer... Como sabemos, ele era um tipo “especial” que
seguia o mercerismo fervorosamente...
Iran, a esposa de Deckard, era assídua nos exercícios
junto à caixa de fusão...
Deckard, o caçador de androides, era relapso...
(...)
Podemos pensar que, por
despeito, os andys quisessem “desqualificar o mercerismo” e inventaram aquela
situação que foi ao ar no programa do Gente Fina.
Embora saibamos que eles
realizassem de modo mais que satisfatório as tarefas que para os humanos eram
delicadas e difíceis (o exemplo da cantora lírica andy, Luba Luft, é
emblemático), eles não tinham como se igualar aos humanos... Não sentiam
empatia e não tinham capacidade de se fundir com Mercer.
(...)
Após a apresentação
“bombástica” do programa do Buster Gente Fina:
Isidore
ficou muito decepcionado ao saber que o mestre era resultado da interpretação
de um velho ator (Al Jarry) em estúdio de quinta categoria... Pior que isso foi
constatar que aquele tipo era um beberrão...
Foi o próprio Mercer/Al
Jarry que esclareceu ao cabeça de galinha que não se tratava de nenhum modelo moral
que merecesse ser seguido.
Iran
parece ter aceitado que todos haviam sido enganados... Mercer era uma farsa e
não havia o que pudesse ser feito a esse respeito.
Vimos
que Deckard incorporou Mercer na distante colina da fronteira com o Oregon...
Os conselhos que recebera por ocasião do confronto final com os Nexus-6 de sua
lista haviam sido de suma importância... Então ele passou a entender o
mercerismo de modo diferenciado e não aceitou a tese de fraude.
Concluímos que, com Mercer,
Deckard aprendeu que, mesmo sem a desejada convicção a cada passo dado, “é
preciso prosseguir”...
(...)
Dotados
de unidade cerebral privilegiada, os Nexus-6 se insubordinaram, assassinaram
seus senhores humanos e vieram para a Terra...
Em Androides sonham com ovelhas elétricas?
notamos que, apesar de avançados tecnologicamente, os liderados por Roy Baty
eram limitados (e até previsíveis) por não sentirem empatia... Dessa forma, não
se importavam com a sorte de seu semelhante e se resignavam diante da própria
eliminação.
Podemos
adiantar que o filme de Ridley Scott apresenta-nos androides rebelados que
vieram para a Terra exigir (dos engenheiros genéticos que os criaram)
mais tempo de vida.
Mas
ainda não é momento de tratarmos de Blade
Runner por aqui.
(...)
O Rick Deckard de Androides
sonham com ovelhas elétricas? entra em depressão porque começa a sentir
empatia por andys femininos... Ele reflete sobre a sua miserável condição...
Vive com a esposa amargurada, de quem pouco se pode esperar... Dono de uma
ovelha elétrica, sua maior ambição é conseguir dinheiro suficiente para comprar
um animal verdadeiro.
Seu vizinho Barbour é o
felizardo proprietário da égua Judy... A prosperidade deste causa-lhe inveja...
A oportunidade de conseguir
dinheiro surge com o trabalho de substituição ao experiente Dave Holden,
gravemente ferido por um andy.
A captura dos Nexus-6
não é fácil... Eles estavam muito bem organizados, possuíam o “Departamento de
Polícia paralelo”, Rachael e o pessoal da Rosen para auxiliá-los e protegê-los.
É
no contato com os andys dotados de habilidades extraordinárias que Deckard
mergulha em reflexões sobre sua condição e também sobre a deles... Para Phil
Resch, que é outro caçador de androides, não deve haver vacilações.
Deckard não queria se
tornar o “policial de mãos sujas” como Iran pensava a seu respeito... Resch
queria fazê-lo entender que os andys “desajustados” eram apenas “coisas
nocivas” à sociedade humana e, por isso, deviam ser eliminadas.
Mas
para Deckard aquelas imitações (tão parecidas com humanos) confundiam-lhe a cabeça...
Também elas chegariam à condição de empatia? Complexos sistemas que eram, chegaria
o momento em que sonhariam com ovelhas elétricas?
(...)
Sinceramente
não estou satisfeito com o texto final dessas “outras considerações”... Penso
sobre várias outras situações provocativas do texto... Sinto que não
“rabiscarei” mais nenhuma linha sobre elas...
Por
outro lado, é para tanto?
P.S.: Ganhei de presente outro livro de Philip
K. Dick: Fluam, minhas lágrimas, Disse o
Policial (também da Editora Aleph).
Leia: Androides sonham com ovelhas elétricas? Editora Aleph.
Um abraço,
Prof.Gilberto