domingo, 30 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – final dos registros de 12 de abril de 1894; os furtos do Chico; beneficiando-se da peraltice do macaco de Siá Ritinha; o furto do terço na tarde chuvosa

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Estamos neste ponto em que Helena explicava a respeito do macaco que pertencia à Siá Ritinha.
Para ela, Chico (esse é o nome do macaco) era adestrado e tal como a dona praticava furtos pela vizinhança.
Dona Carolina reclamava que não podia deixar a porta da cozinha aberta porque o Chico entrava e surrupiava o que encontrava. A mãe de Helena admitia que só não envenenava o animal porque certamente Siá Ritinha desconfiaria.
(...)
A situação era das mais desconfortáveis. Até porque todos na casa de Helena sabiam que Siá Ritinha os tinha em alta consideração.
Há fragmentos do diário que revelam o quanto Siá Ritinha foi prestativa à família numa ocasião em que dona Carolina adoeceu. É quase certo que esses episódios não serão tratados por aqui.
(...)
Helena explica que o macaco roubava qualquer coisa. Certa vez levou um coador de café! Mas parecia ser treinado para furtar alimentos. Dona Carolina dera falta de queijo, carne e toicinho.
Então quando o Chico era avistado pelas árvores mais próximas não se podia vacilar.
Outras famílias também recebiam as visitas secretas e indesejadas. Helena registrou que certo dia um pedaço de toicinho apareceu no terreiro de sua casa. Tudo indicava que o Chico o havia subtraído de alguma casa da vizinhança. De Siá Ritinha é que não devia ser!
(...)
E não é que o Chico passou a ser útil a certos propósitos de Helena e dos seus irmãos?
Seu Alexandre possuía um pessegueiro no terreiro. A árvore encantava a todos.
Helena e os irmãos sentiam-se angustiados porque o pai não permitia que retirassem os belos frutos enquanto não estivessem totalmente maduros.
Mas as crianças experimentaram “dar ordens” ao macaco. Sempre que o viam no pessegueiro, gritavam “Chico, joga aqui um”. E não é que ele obedecia?
Foi assim que os filhos de seu Alexandre passaram a se refestelar com os deliciosos pêssegos sem que ele desse pela falta dos frutos.
(...)
Também havia umas bananeiras no quintal de mestre Joaquininha. Ela só os colhia quando as bananas estavam bem maduras.
Os fundos do terreno da casa de seu Alexandre davam para os fundos do quintal da professora. Não havia como não notar as bananas da vizinha. As crianças ficavam de olho. Era uma tentação!
Logo que perceberam que o Chico os obedecia, Helena e os irmãos pediram para ele atirar algumas.
A garota conta que foi muito bom, mas durou pouco porque mestre Joaquinhinha percebeu os furtos do macaco e passou a retirar os cachos antes que eles ficassem totalmente maduros.
(...)
Para Helena, a pior peraltice do Chico foi ter furtado um tercinho que ela conservava desde a época de sua Primeira Eucaristia.
Os registros dão conta que ela era mesmo uma menina de oração e que acompanhava a mãe aos ofícios religiosos. Ela recorria ao terço durante as chuvas mais fortes. Sempre que o tempo mudava e uma tempestade se aproximava ela o pendurava na maçaneta externa da porta.
Para ela, o terço protegia a casa e levava a chuvarada para longe. É claro que ela aprendeu essas coisas com os mais velhos e aos poucos passou a crer que isso era “mais eficiente” do que as preces dirigidas à Santa Clara.
Aconteceu que numa tarde chuvosa seu Alexandre prometeu levar os filhos a passear de cavalinhos. Como a chuva atrapalharia a diversão, Helena apelou para a sua fé no tercinho. E foi então que o Chico o surrupiou.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

domingo, 23 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – final dos registros de 27 de outubro de 1894; sonhos medonhos e sonhos agradáveis; o sonho “da última noite”; os registros de 12 de abril de 1894; sobre Siá Ritinha e sua fama de ladra

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Helena contou o sonho sobre sua ida para o Céu à Mãe Tina. Podemos imaginá-la fazendo sua narração dramática.
Certamente ela conseguiu expressar todo o seu horror e indignação. A negra explicou-lhe que aquilo se devia ao fato de a menina ter se impressionado com as narrativas que ouvira dela própria a respeito dos caminhos para o Céu, que são sempre cheios de espinhos. Bem diferente seria o “caminho limpo” que pode nos levar ao inferno.
Na opinião de Mãe Tina, a pequena havia invertido tudo em seu sonho.
(...)
Nos mesmos registros de 27 de outubro de 1894, Helena conta sobre outros sonhos que tinha com certa frequência.
Num deles ela se via assistindo à missa na igreja da Sé “em fralda de camisa”! Outro muito comum era um em que ia para a escola descalça e ficava sem ter como se esconder.
Havia também sonhos que podem ser considerados maravilhosos. Voar sem asas por sobre as casas ou em direção à Boa Vista era algo que a agradava muito. Também gostava de sonhar que estava num rico palácio “como a menina dos anõezinhos”. Ou então que passava por um canteiro com pés de amendoim que ela arrancava um a um para recolher moedas de suas raízes.
Na última noite Helena havia tido outro de seus sonhos medonhos. Ela tinha “virado macaca”! A certa altura do devaneio ela nem se importava mais com seu aspecto. O problema era o imenso rabo.
Mãe Tina já não vivia, senão a menina perguntaria o significado para ela com toda certeza.
Ao mesmo tempo Helena se arrisca a explicar o pesadelo. Aquilo só podia ter ocorrido porque no jantar do dia anterior falaram muito de um macaco de Siá Ritinha, que andava aprontando pela vizinhança.

(...)

A propósito do último sonho (em que Helena se via com aspecto de macaco de longuíssima cauda), é interessante conhecer os registros de 12 de abril de 1894, ou seja, de seis meses antes.
A menina conta que havia conversado com o padre Neves a respeito da teoria de que os homens se originaram dos macacos. Um de seus primos havia lhe dito, e ela quis saber o que o padre tinha a dizer.
O religioso respondeu que era “um grande pecado ouvir essas coisas”. Será que ela não conhecia a narrativa da Sagrada Escritura? Não conhecia a história de Adão e Eva, o Paraíso e tudo o mais criado por Deus?
Helena explica que apenas ouviu o que o senhor padre tinha a dizer. Mas na ocasião em que redigia o seu diário no referido dia argumentou que se ele conhecesse o macaco da vizinhança seria capaz de acreditar na ideia exposta pelo primo.
Como sabemos, o macaco pertencia à Siá Ritinha. E a respeito dela, Helena diz que todos a tinham por ladra que vivia a furtar galinhas.
Essa Siá Ritinha tinha muita consideração por dona Carolina e o seu Alexandre, por isso não gostava de lesá-los. Sempre que faltava uma de suas galinhas era certo que logo a Siá Ritinha os visitaria.
A negra conversava naturalmente até ouvir de dona Carolina a queixa sobre o desaparecimento da ave. Ritinha lamentava e dizia que aquilo era uma pouca-vergonha. Emendava que também haviam roubado as dela e que já não aguentava mais tantos furtos na vizinhança.
Mas sempre acontecia que, logo depois de terminada a visita, a galinha sumida voltava a aparecer.
Para Helena, Siá Ritinha devolvia porque gostava de seus pais. Se fosse de outro, já estaria no papo.
(...)
O que nos interessa é tratar do macaco da Siá Ritinha. De acordo com Helena, ela o havia treinado para furtar também.
Mas a este respeito reservamos a próxima postagem.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – os registros de 27 de outubro de 1894; Mãe Tina e a interpretação dos sonhos; pesadelos relacionados à vida de pecados; o pavoroso sonho sobre o Céu

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_21.html antes de ler esta postagem:

Helena curtiu a sua meninice, observou os afazeres dos que lhe eram próximos e entendeu que a sua formação estava vinculada a todos os que a cercavam.
É verdade que seu círculo social não era dos maiores. Familiares e os negros e negras agregados desde o fim da escravidão...
O cotidiano marcado pela vida simples dos mineiros e da gente camponesa seguia o ritmo lento, pontuado pelas festividades e rituais católicos.
(...)
Em algum momento as considerações sobre os registros de 27 de outubro de 1894 do diário de Helena Morley teriam que aparecer por aqui.
Naquele longínquo sábado a menina escreveu sobre os sonhos, seus mistérios e as interpretações que suscitavam.
No início de sua produção textual, ela faz referência à história de José do Egito, que interpretava sonhos como ninguém. Certamente não lhe saía da cabeça o modo como ele desvendou o sonho do faraó sobre as sete vacas gordas e as sete magras...
Sete anos de fartura e outros de sete de fome. Tudo se encaixava tão bem que certamente os sonhos que temos cotidianamente também têm explicações e podem ser interpretados.
Na época em que tinha bem menos idade, Helena dava ouvidos às negras que viviam na chácara. Eram elas que explicavam os sonhos e seus significados. Mas houve a ocasião em que elas a amedrontaram a respeito do “pecado de achar padre feio” (ainda trataremos a respeito do episódio de sua Primeira Comunhão, quando a polêmica ocorreu).
(...)
Mãe Tina era a negra que mais falava a respeito dos sonhos e dava conselhos.
Helena lamenta que muitos sonhos eram esquisitos e, por não os entender, angustiava-se. O tempo passou e com isso as explicações de Mãe Tina se tornaram muito simplórias para ela.
A garota lembra que sempre que contava sobre seus sonhos, Mãe Tina dizia que “sonho é a alma que não dorme como o corpo e fica pensando. Se a gente é boa e vive com Deus o sonho é bom; se está com pecado mortal o sonho é ruim”.
Helena entendia que alguns de seus sonhos eram muito ruins. Então só podia estar em “pecado mortal”! Não desejava a ninguém aquele tipo de angústia. Era contá-los à Mãe Tina e ela a colocava de joelhos para rezar.
Qual seria o seu “pecado mortal”?  Ela não podia saber. Então ficava a imaginar que talvez fosse a inveja ou gula. Pensava assim e começava a se tranquilizar ao prometer a si mesma e a Deus que iria se corrigir.
(...)
Nos mesmos registros, Helena cita os seus medos e o quanto os sonhos podiam se relacionar com eles. Sentia pavor do modo como lhe “pintavam” o inferno. Não conseguia se aquietar depois de ouvir “histórias de almas do outro mundo”! As negras sabiam de casos de lobisomem e mula sem cabeça. Coisas medonhas mesmo.
Sonhar com jabuticabas significava que alguém conhecido morreria. Evidentemente isso suscitava dúvidas! Não era tudo o que as negras falavam que dava certo!
Elas diziam que sonhar com piolhos significava que logo se ganharia algum dinheiro. Com isso Helena concordava porque ela mesma pudera confirmar algumas vezes.
(...)
Um dos sonhos mais apavorantes que Helena teve, e que não deixou de contar à Mãe Tina, foi o que ela percebeu que havia morrido e ido para o Céu. O problema é que em seu sonho o Céu era horrível. Nele se levava uma vida muito triste.
Mas o que era o Céu no sonho de Helena?
“Era um terreiro enorme e muito limpo”. Por todo lado viam-se mulheres velhas com seus pesados casacos e mantilhas na cabeça. Passavam o tempo todo a rezar sem que dessem a menor importância umas às outras.
Nada de São Pedro ou de anjos. Apenas a velharia a rezar. Quando não estavam ajoelhadas, andavam cabisbaixas de um lado para outro compenetradas em suas orações.
O maior alívio foi ter despertado desse sonho.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

sexta-feira, 21 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – procissão de cinzas; juntando os pedaços das imagens; penitentes, devotos e explicações das negras a respeito das imagens carregadas na procissão; opinião de seu Alexandre

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Os registros de 13 de março de 1893 feitos por Helena em seu diário nos dão conta de uma “Procissão de Cinzas”, algo que já fazia muito tempo que não ocorria na cidade.
O que mais a deixava admirada por ocasião desse ritual religioso era a grande quantidade de imagens carregadas pelos fiéis. Não se organizavam procissões como aquela porque a maioria das esculturas dos santos encontrava-se abandonada e com várias avarias nas sacristias das igrejas.
Seu Broa foi um dos que se animaram para organizar o evento. Helena dá a entender que foi formada uma comissão. Ela mesma ouviu do tio Joãozinho que o pessoal do seu Broa fez de tudo para remendar os santos. Assim acabaram juntando “o corpo de um com a cabeça de outro”.
Enfim a procissão saiu e pode-se dizer que isso só ocorreu porque as várias igrejas contribuíram para os arranjos.
(...)
Helena admirou-se com os resultados.
Evidentemente não entendia todos os paramentos e expressões beatas dos santos. O jeito foi perguntar aos mais velhos.
Pelo visto as imagens ficaram bem engraçadas.
São Domingos, por exemplo, “saiu com queijo e faca”. Na chácara disseram que se podia “saber se um casal é feliz quando a mulher é capaz de partir o queijo no meio certinho”.
Quem já viu um negócio desses? Helena não acreditou que esse fosse o motivo de o santo “carregar o queijo”. Todavia ninguém lhe dava outra explicação.
São José estava com o menino Jesus no braço, e Este carregava uma bola na mão. As negras da chácara disseram que “aquela bola é o mundo e se ela cair no chão o mundo arrasa”.
Em sua produção textual, Helena comenta que até podia acreditar nessas histórias quando era mais nova. Ela lembra o quanto se assustava ao ver que uma serpente se enrolava no corpo de Eva, “que tinha uma maçã na mão”.
Mas o seu modo de interpretar a realidade de toda gente havia mudado muito! Para ela os adultos expressavam várias bobagens....
(...)
Ainda sobre a procissão e as imagens...
São Roque saiu com uma grande barba. As negras da chácara disseram que nunca tinham visto este santo barbado!
Seu Broa explicou que não tinha sido fácil organizar os santos para a procissão. Juntaram muitas peças na sacristia da igreja da Luz e na confusão acabaram trocando algumas cabeças. É por isso que o resultado confundiu e espantou a muita gente.
(...)
Os santos foram carregados e posicionados à frente de todos os devotos. Logo atrás foram posicionados vários penitentes que se flagelavam com chicotadas desferidas contra as costas. Helena destaca que os chicotes foram confeccionados com palha.
O que importa é que no fim das contas ela gostou muito de tudo o que viu.
Ela não pôde deixar de registrar a opinião do pai (o seu Alexandre) que achou que a procissão mais se parecia com um carnaval.
É claro que sua mãe (dona Carolina) “achou que era um grande pecado” o marido dizer aquilo.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

quinta-feira, 20 de abril de 2017

“Minha Vida de Menina”, de Helena Morley – mais sobre os ensinamentos da tia Madge; os registros de 1º de junho de 1893; livros para a formação do caráter; com Samuel Smiles, Helena torna-se “poupadora”; dona Carolina procurou incentivar Renato a ler os mesmos livros

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/04/minha-vida-de-menina-de-helena-morley_19.html antes de ler esta postagem:

A postagem anterior apresenta informações interessantes.
Vimos que nos registros de 4 de março de 1893, Helena escreveu sobre a conversa que teve com a avó a respeito dos ensinamentos transmitidos por sua tia Madge por ocasião da visita que lhe havia feito no dia anterior.
Antes de tratar especificamente desse assunto, ela descreveu os afazeres das agregadas de dona Teodora na chácara e fez breve comentário sobre o motivo de ainda não colher os araçás maduros.
(...)
Os ensinamentos de tia Madge à Helena nos levam a pensar um pouco sobre o que se ensinava aos mais novos, particularmente às meninas. Afinal, o que os adultos esperavam que elas soubessem?
As dicas da tia inglesa revelam sua preocupação de preparar as moças para uma conduta mais educada e mais cuidadosa em relação ao desperdício.
As pessoas educadas deviam saber conversar e como se comportar à mesa. Também deviam saber como “economizar” para que não viessem a passar necessidades no futuro.
(...)
Os registros de 1º de junho de 1893 nos revelam mais a respeito das orientações de Madge. Ela era professora e desejava que Helena também terminasse o Curso Normal para que um dia pudesse exercer o mesmo ofício com inteligência e autonomia.
Não era por acaso que ela providenciava leituras específicas para a sobrinha. Podemos notar que o “embasamento teórico” dava alguns resultados. E eles eram notados por todos da família.
É a própria Helena que admite que logo que aprendeu a ler recebeu da tia (que “só achava bom o que era inglês”) “O Poder da Vontade”.
Madge a fez ler inteiro para ela. Na sequência veio “O caráter”, livro que Helena teve de estudar para depois explicar todo o conteúdo à tia. Para a garota, os dois conteúdos se resumiam a “economia, correção e força de vontade”.
Em que esses livros contribuíram para a formação de Helena? De acordo com suas palavras, eles não serviram para nada. Não adquiriu mais bondade ou força de vontade do que a que já possuía e não mudou o caráter.
É claro que temos de considerar que essas conclusões são da época anterior ao aniversário de treze anos. Mesmo assim considerava-se madura para admitir que o seu único ganho talvez tivesse sido a leitura de Samuel Smiles*. Os textos dele a ajudaram a “ser poupada” e a guardar tudo o que tinha.

                  * autor da “era Vitoriana” de fins do século XIX que escrevia sobre grandes personagens ingleses, “feitos heroicos” e virtudes. Conhecido também por seus textos de “autoajuda”.

(...)
Helena deu um exemplo de sua conduta de “poupada” (ou “poupadora”).
Explicou que em casa cada um dos filhos possuía duas ou três galinhas. Seus irmãos não tinham paciência e faziam gemada ou assavam ovos na colher logo que suas aves botavam. Mas ela adotou procedimento diferente desde que lera os livros fornecidos pela tia. Passou a juntar os ovos de suas galinhas e os vendia sempre que completava uma dúzia.
Foi dessa maneira que ela conseguiu comprar uma escova de dentes, um par de meias...
E não é só isso! Normalmente a avó os presenteava com queijos e doces feitos na chácara. No mesmo dia seus irmãos comiam toda a parte que lhes cabia. Helena guardava e comia aos poucos. Então todos notaram que ela sempre tinha um pouco para repartir com os demais.
Certa vez seu Alexandre mandou uma caixa de mangabas da Boa Vista. Os filhos repartiram e cada um ficou com o seu bocado. Mas aconteceu que os irmãos comeram as suas e passaram a furtar algumas que Helena havia guardado.
Isso a fez pensar que eles acabavam se saindo bem em todas as situações apesar de não serem precavidos como ela.
(...)
Dona Carolina gostou tanto dos procedimentos adotados por Helena que visitou a tia Madge para que ela emprestasse os mesmos livros para Renato.
O rapaz começou, mas não finalizou um capítulo sequer. A mãe insistiu com ele, pois assim ele se tornaria poupador como Helena. Renato respondeu que “os dedos das mãos não são iguais” e com isso quis dizer que não era como a irmã.
Ele comentou que Helena até parecia filha do tal Smiles. Ela leu o livro e decorou tudo! Este não era o caso dele. Ele não gostava de ler. E se gostasse não perderia tempo com Samuel Smiles!
De acordo com Helena, o irmão disse que “leria Júlio Verne, que é muito melhor e mais divertido”.
Leia: Minha Vida de Menina. Companhia das Letras.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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