Passepartout se interessou pela palestra. A respeito do mormonismo, a única coisa que o francês ouvira falar era a respeito da poligamia. Além dele, mais uns trinta passageiros se interessaram pela conferência e se dirigiram ao vagão 117 no horário anunciado.
Fix e Phileas Fogg não se sentiram tocados pelo proselitismo do missionário mórmon e permaneceram em seus afazeres.
(...)
Passepartout colocou-se na primeira fileira...
O elder
iniciou sua falação sentenciando que Joe Smith e seu irmão Hvram eram mártires.
Os dois profetas do mormonismo haviam sido duramente perseguidos pelo governo
da União!
Ele prosseguiu
garantindo que, do modo como a intolerância recaía sobre seus seguidores, logo
Brigham Young também se tornaria um mártir.
Contrastando
com o seu aspecto de homem calmo, o missionário vociferou perguntando se alguém
entre os presentes pensava de modo diferente.
(...)
Verne destaca que a
religião dos mórmons passava por duras provas... O governo perseguiu fanáticos
e, não sem dificuldades, colocou freio em sua insistente independência.
Acontece que os fiéis se concentravam em Utah, onde deram início à comunidade
religiosa que tinha como princípios apenas os ensinamentos de seus líderes
espirituais.
Mas o governo
conseguiu impor uma significativa baixa aos sectaristas depois de prender
Brigham Young. Desde então todos tinham de se submeter às leis civis
estabelecidas pelo governo da União.
(...)
Young fora acusado de
rebelião e poligamia.
Seus seguidores
mantiveram-se unidos e procuraram resistir às imposições do Congresso. A
militância de William Hitch deve ser entendida como resultado da resistência
mórmon... Naquele trecho da estrada de ferro, homens como ele faziam seus
discursos em defesa de seus profetas e da religião.
Na sequência o elder narrou aos viajantes ouvintes a história do
mormonismo, que se estendia desde os tempos bíblicos. Ele explicou que, já na
tribo de José, um profeta mórmon publicou textos que anunciavam a “nova
religião”. Morom, filho deste antigo profeta, cuidou do precioso documento...
Séculos mais tarde, Joseph Smith Júnior traduziu o livro.
Smith Júnior era fazendeiro em Vermont. Corria o ano de 1825 quando
começaram a vê-lo como “profeta místico”. Seus seguidores garantiam que ele
recebeu o antigo texto de um “mensageiro celeste” numa floresta iluminada. Eles
entendiam que a “nova religião” era o que Deus desejava para os homens,
portanto Smith Júnior só podia ser portador de uma mensagem divina.
(...)
Podemos notar que o discurso de William Hitch não
dava mostras de que teria um fim... Alguns ouvintes não tiveram paciência e se
retiraram do vagão onde ocorria a palestra... Outros tantos consideraram a
narrativa enfadonha e por isso também deixaram o local.
Mesmo assim o homem
deu prosseguimento à sua história do mormonismo...
Ele
seguiu explicando que Smith Júnior fundou a religião dos Santos dos últimos dias
depois de doutrinar o próprio pai e os irmãos... A eles se juntaram os
primeiros discípulos.
Logo a religião conseguiu adeptos também na Inglaterra, Alemanha e
Escandinávia. Profissionais liberais e artesãos dos mais diversos ofícios
aderiram à fé dos Santos dos últimos dias.
Uma
colônia foi fundada em Ohio... Arrecadou-se dinheiro e um grande templo foi
construído... Em Kirkland os mórmons fundaram uma cidade, e logo Smith
tornou-se banqueiro renomado. Nessa condição, adquiriu um precioso papiro
redigido por Abraão e outros “célebres egípcios”! Essa relíquia chegou às suas
mãos através de um expositor de múmias.
(...)
Não é difícil
depreender que a longa narrativa fez com que mais ouvintes desistissem da
palestra... Em pouco tempo apenas umas vinte pessoas permaneciam no vagão.
Passepartout era dos mais atentos.
O elder
entendia que aquele público bastava para que continuasse a sua história.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2017/07/a-volta-ao-mundo-em-oitenta-dias-de.html
Leia: A
Volta ao Mundo em Oitenta Dias – Coleção “Eu Leio”. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto