O autor escreveu “Mayombe” no início da década de 1970, época em que atuava como guerrilheiro do Movimento Popular de Libertação de Angola.
O romance tem como contexto a guerrilha articulada no país contra a exploração colonial dos portugueses.
O Mayombe é uma vasta região localizada na África ocidental. Sua vasta floresta é rica em espécies animais e vegetais.
Além de Angola, o Mayombe atinge parte do Congo e do Gabão.
(...)
Logo no começo de “A
Missão”, capítulo I de “Mayombe”, vemos que o grupo de dezesseis guerrilheiros
vinha percorrendo a floresta a alguns dias. O guerrilheiro Teoria (cujo
codinome se devia ao fato de ser professor “na vida civil”) havia escorregado numa
das pedras do rio Lombe e estava com o joelho muito comprometido.
O Comandante orientou
Teoria a retornar à Base. Sem Medo (este era o codinome do comandante) explicou
que outro guerrilheiro poderia acompanhá-lo. Mas no mesmo instante o professor
fez uma careta e manifestou que dessa forma o grupamento ficaria desfalcado de
dois homens. Sendo assim restariam apenas quatorze para as ações planejadas.
O rapaz não deixava de ter
razão, mas Sem Medo havia notado que sua lesão não era tão simples e por isso
entendia que o esforço traria complicações a todos. Foi a contragosto que
ordenou o avanço.
Como não podia deixar de ser, Teoria seguiu com dificuldade e na
retaguarda do grupo. Atrás dele ia um dos camaradas. O Comandante continuou
preocupado e de vez em quando se aproximava para ver como ele estava se
sentindo. O professor se esforçava para mostrar que podia continuar, mas seu
sorriso era forçado e ele não conseguia disfarçar seu sofrimento.
A certa altura o Comandante deu ordem para montarem acampamento. Boa
parte dos homens se engajou na busca de lenha... Enquanto o Comando se reuniu, Pangu-A-Kitina,
que também servia de enfermeiro, tratou de fazer um curativo no joelho inchado
de Teoria. Pangu-A-Kitina viu que era só com muito esforço que o professor conseguiria
avançar.
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Jantaram arroz e corned-beef enlatado.
A noite sempre caía muito
cedo no Mayombe, e por volta das seis da tarde tudo se escureceu na densa
floresta.
Logo os homens silenciaram e tudo o que se pôde ver eram as velhas e
gigantescas árvores e os grossos cipós alumiados pelo clarão das fogueiras.
O trecho destaca que “só o
fumo podia libertar-se do Mayombe e subir, por entre as folhas e as lianas
(cipós), dispersando-se rapidamente no alto, como água precipitada por cascata
estreita que se espalha num lago”.
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O texto de Pepetela segue
fácil de ser entendido.
Há trechos específicos em
que os personagens centrais se apresentam. Esclarecem suas origens, dramas
pessoais e opiniões em relação à vivência na floresta, desencadear das ações e
suas consequências.
É como se cada guerrilheiro
tivesse a oportunidade de se isolar do grupo para se desabafar. Como veremos
mais adiante, eles expressarão também sua visão sobre o prolongado conflito e
suas divergências em relação às decisões do Comando.
(...)
Teoria explica ao leitor
que nasceu em Gabela (cidade que é sede do município de Amboim; historicamente
marcada por episódios de resistências à dominação portuguesa e conhecida pela
produção cafeeira).
Mestiço de mãe nativa e pai
português, o professor trazia a insegurança do “inconciliável”. Sentia que não
o viam nem como negro nem como branco. E isso lhe era pesado porque o cotidiano
das pessoas é marcado por posições bem definidas: ou se é “sim”, ou se é “não”;
ou se é “branco”, ou se é “negro”... Então ele se classificava como o “talvez”,
e é por isso que trazia dentro de si a marca dos vivem inseguros em relação ao
que os outros pensam.
Era angustiante saber que
passara a vida entre homens que não aceitavam “combinações”... Será que era ele
quem deveria assumir a condição de “sim” ou de “não”?
As pessoas que conhecera desde a infância não carregavam o estigma da
indefinição... A sua vivência passada o levou a classificar os viventes em
“maniqueístas” e “os outros”.
Sua
experiência o credenciara a garantir que “o Mundo é geralmente maniqueísta”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2018/05/mayombe-de-pepetela-teoria-defendeu-sua.html
Leia: Mayombe. Editora Leya.
Um abraço,
Prof.Gilberto