sábado, 20 de outubro de 2012

"Os Mandarins", de Simone de Beauvoir - diálogos a respeito dos manuscritos entregues à ”Vigilance”; Nadine e Robert discordam sobre o posicionamento dos comunistas em relação ao “SRL”; Anne vê o marido em condição de vulnerabilidade ante os ataques políticos; é incentivada por Robert a participar do Congresso de Psicanalistas

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-anne.html antes de ler esta postagem:

Anne chega ao escritório quando o expediente se expirava... Encontrou Nadine dispensando as últimas pessoas que estavam ali para apresentar seus textos... A moça ria-se de Minha Vida, volumosos maços manuscritos depositados numa maleta deixada por certa Joséphine Mièrre, de 60 anos, residente em Aurillac. Um “documento vivo”... É como a própria autora queria fazer-se conhecer... Robert avaliou que aquilo talvez “nem se aproximasse do ridículo”... Nadine sugeria que os escritos da mulher poderiam conter trechos obscenos... Por um instante, pai e filha conversaram se valeria a pena investir naquele material... Para Nadine os papéis deviam ser devolvidos, mas Dubreuilh disse para esperar mais uns “cinco minutos”.
Robert demonstrou contentamento ao ver a esposa por ali... Anne observou a mesa de Nadine e viu que muitos escritores enviavam textos na esperança de vê-los publicados... Abriu um de capa negra em que se lia Poemas Escolhidos... Verificou o conteúdo e constatou recortes plagiados de autores clássicos diversos (Apollinaire, Rimbaud, Baudelaire...). Nadine explicou à mãe que Sézenac topava receber dinheiro em troca desse tipo de infração... Ele mesmo fornecia o material, mas depois, evidentemente, o infrator ficava sabendo das consequências (o impostor que se reconhecia ludibriado)... Sem que Robert ouvisse, Nadine disse à mãe que aquela era a forma que alguns encontravam para ganhar dinheiro... Quer dizer, o tipo em questão, certo Doce René, esperava sobreviver da venda daquele material que assinava como sendo de sua autoria.
Os três decidiram continuar a conversa num café em frente ao escritório... Depois de acomodados, Anne e a filha falaram cada uma sobre sua condição no trabalho... Nadine queria se autoafirmar (isso não é mais novidade) mostrando que dava conta do serviço de secretária... Disse que talvez não tivesse oportunidade de despontar executando algo se atuasse como repórter, cujo campo de trabalho era muito masculinizado... Sobre a condição de Anne, Nadine fez questão de provocá-la dizendo que era aceitável sua tarefa com os clientes, “mas jamais chegaria a Freud”... Anne defendeu-se dizendo que entre o “nada ser” e “ser Freud” havia muitas outras “condições de ser”... Ela sabia bem que a filha gostava de contrariá-los.
De sua parte, Nadine completou dizendo que, sendo secretária, “estava realizando algo”... Robert interferiu, como que lamentando e criticando ao mesmo tempo, e disse que o principal era estar satisfeito com o que se desenvolvia... A moça falou que o destino das pessoas tinha pouca importância, principalmente por aqueles tempos... Robert respondeu que o destino dela  interessava muito a ele... De modo amargo, Nadine quis esclarecer que o seu destino não dependia nem dele nem dela mesma... É por isso que ria muito daqueles que “pretendiam ser alguém”.
Ainda em tom provocativo, Nadine comentou que se tivesse coragem de fazer algo complicado ingressaria na política... Robert perguntou, então, por que (desde já) a filha não participava do SRL... Ela respondeu que não aceitava o grupo político do pai porque este não se entendia com os comunistas. Dubreuilh quis convencê-la de que a situação não era bem essa... Nadine tinha amigos no partido e insistiu dizendo, inclusive, que Lafaurie iria pedir que o meeting não se realizasse... Falou ainda que Lachaume dissera a ela que, para os comunistas, o SRL havia tomado um caminho errado... O próprio Lafaurie estava disposto a falar com Robert, pois para ele o meeting era uma ação contrária à unidade e (em particular) aos comunistas... A esquerda estava se dividindo por causa de Robert Dubreuilh... Era por todos esses motivos, ainda segundo Nadine, que os comunistas iniciariam uma campanha contra o pai.
É claro que Robert discordou de todas essas opiniões e ironizou o fato de os comunistas serem centralizadores e pretenderem o SRL sob sua órbita... Essas suas opiniões nós já conhecemos de http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/08/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_15.html, onde lemos a narrativa de Henri acerca desses mesmos eventos... A moça mostrava-se afinada com os amigos do partido e falou que tudo o que o pai pensava a respeito deles se aplicava a ele próprio... Robert falou sobre a ideia da Frente Nacional, que agregava pessoas e grupos, mantendo unidade de ação, embora tivessem opiniões diferentes... Uma vez que a moça insistia em contrariá-lo, Dubreuilh disse que ela poderia ou não “meter-se em política”, mas o que não devia de modo algum era prestar-se ao papel de “papagaio”... Completou dizendo que se ela pensasse um pouco notaria que a política do partido era “catastrófica”.
Nadine quis ainda justificar a postura dos companheiros. Defendeu-os dizendo que se tentassem tomar o poder, “a América interviria imediatamente”... Para Robert isso era compreensível, mas salientou que eles podiam se comportar de modo diferente... Explicou que desde que a SFIO (Seção Francesa da Internacional Operária – partido do qual Jean Jaurès havia sido líder) havia se extinguido, os comunistas se viam obrigados a representar várias tendências (esquerda da esquerda; direita da esquerda)... Explicou que, até por isso, deveriam aceitar a existência de outro partido... Nadine retirou-se nervosamente e negando que os companheiros aceitassem uma proposta daquelas.
Anne e o marido seguiram a pé pelo cais. Robert falava sobre o que faria... Telefonaria a Lafaurie... Angustiado e enraivecido, Dubreuilh seguia falando sobre o que refletia da situação política. Anne apenas ouvia e pensava que deveria permanecer ao seu lado. De certo modo, apesar de tudo o que o marido representava para a sociedade, ela notava a sua vulnerabilidade em meio aos ataques dos opositores.
Depois de algum tempo caminhando, Anne decidiu mostrar a Robert o convite que recebera de Romieux (é para isso que ela havia ido ao escritório). Dubreuilh festejou a novidade e quis saber por que ela ainda não havia contado. Ela disse que não se afastaria por três meses e argumentou que tinha muito a fazer em Paris... Robert não aceitou a resposta e falou que em alguns meses ela ajeitaria tudo, além disso, não havia motivos para se preocupar com ele ou Nadine, que “sabiam se virar sozinhos”... Anne prosseguiu dando desculpas insignificantes, e Robert insistindo e “adivinhando” que, interiormente, ela sabia que o Congresso e a viagem eram muito importantes para ela. Neste ponto ele estava com razão.
O relato de Anne segue esclarecendo que ela ainda se preocupava com a situação política que Robert e Henri enfrentavam junto aos comunistas... Sua dúvida (aceitar ou não o convite para o Congresso de Psicanálise em Nova Iorque) permanecia... Decidiu que no dia seguinte visitaria Paule.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2012/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir_23.html...
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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