Ocorreu a exumação dos cadáveres de d. Pedro I,
dona Leopoldina e de dona Amélia. Algo que os especialistas tiveram de
responder foi a respeito da importância do projeto e seus resultados... O texto
da historiadora Isabel Lustosa para O
Estado de São Paulo (O imperador e
suas duas mulheres, caderno Aliás
do último dia 24 de fevereiro) destaca que o saldo final é a confirmação do que
pesquisas importantes já haviam revelado... Alguns poderiam dizer que, assim
sendo, de pouco proveito resultou a investigação.
Há que se levar em conta, no
mínimo, que a biografia de Pedro I elaborada por Otávio Tarquínio de Sousa
(José Olympio, 1952) é produção completa... Seus três volumes são referência
quando o assunto é Primeiro Reinado (1822-1831) e a vida do imperador...
Lustosa leva em consideração o fato de biografias posteriores terem o mérito de
apresentar “novos olhares” em relação aos personagens e sobre os
posicionamentos que tomaram nos contextos em que foram atores... O trabalho de pesquisa
de Carlos Oberacker, que resultou em biografia de dona Leopoldina (Conselho
Federal de Cultura, 1973), constitui-se no que podemos chamar de “maior volume
já elaborado a respeito da primeira esposa de Pedro I”... Sobre dona Amélia não
há muito material disponível, sobretudo porque, a respeito de sua vida, pouco se
escreveu... É claro que o fato de ter permanecido no Brasil por breve período
(1829-1831) explica os poucos testemunhos ao seu respeito. Há uma importante biografia
dela, escrita por Maria Junqueira Schmidt, publicada em 1927.
Sobre dona Leopoldina:
Causou expectativa a
exumação de dona Leopoldina, já que muitos esperavam encontrar o “fêmur
fraturado”, produto de agressão do imperador Pedro I... Mas isso não se
confirmou e, de acordo com Lustosa, para os que conhecem a pesquisa de
Oberacker, a maior surpresa foi mesmo a “hipótese de fratura” que sugeriram
antes da investigação. É que o historiador debruçou-se sobre ampla
documentação, inclusive os boletins médicos... Lustosa acrescenta que os
registros do médico que atendeu dona Leopoldina, o barão de Inhomirim, apontou “inchação
erisipelatosa de toda a coxa, perna e pé”, mas nada de fratura...
Para muitos a agressão de
Pedro I teria provocado o aborto de a esposa sofreu, pois esta teria recebido
um chute no ventre... Mas a relação entre os dois episódios (agressão de
20/11/1826; aborto em 1-2/12/1826) aparece descartada no texto porque ocorreram
em ocasiões bem separadas pelo tempo...
O fim do Primeiro
Reinado foi marcado por muitas crises e críticas ao monarca. Muitos comentavam
sobre o seu comportamento em relação à esposa real, que era prestigiada por
grande parte da população... Falava-se que ele a maltratava com agressões de
violência extremada... Após a abdicação (7 de abril de 1831) os rumores
cresceram ainda mais.
Muitos boatos davam conta
da infidelidade e agressividade de Pedro I em relação à dona Leopoldina... Por
esses e outros motivos (destacados em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2011/04/consideracoes-sobre-princesa-leopoldina.html) a esposa real entrou em terrível depressão... O
monarca sabia que essa situação era de peso político muito negativo para a sua
imagem. E é por isso que ele insistiu em exibir a esposa em ambientes onde
também estivesse presente Domitila de Castro, sua amante. Dos golpes que Leopoldina
sofreu do imperador, o mais comentado teria ocorrido em 20 de novembro de 1826
(vésperas da partida de Pedro I para a Cisplatina, onde tropas brasileiras
combatiam a iniciativa emancipacionista; essa guerra resultou na independência
do Uruguai em 1828).
Então, nessa ocasião do dia
20 de novembro, cerimônia em que os súditos compareciam para o “beija-mão” (do
imperador), Pedro I queria que todos vissem as duas em sua companhia para
mostrar que não havia “desentendimentos reais”... Mas testemunhas contam que o
casal discutiu em alto volume, despertando a atenção dos que aguardavam na
antecâmara... Conta-se que Leopoldina, que não queria permanecer na mesma sala com Domitila de Castro, teria sido jogada (ou se atirado) ao chão
e sofrido o pontapé no ventre.
O comerciante inglês, John
Armitage (que viveu na capital nos anos 1820-1830) registrou em seu História do Brasil que uma “entrevista”
do monarca com a imperatriz resultou em desentendimento e até “pancadas reais”.
E também o soldado Carl Seidl (alemão que lutou na Guerra da Cisplatina)
afirmava que, depois da morte dela, muito se falou do nervosismo de Pedro I
que, “em momento de cólera maltratara gravemente sua esposa em adiantada
gravidez”, que “lhe dera pontapés”, e que essas agressões extremadas teriam
sido a causa da morte de Leopoldina (11 de dezembro de 1826).
É
fato que a fama de agressivo do imperador chegou à Europa... O diplomata
francês, Gabriac, noticiou em sua correspondência as contusões que Leopoldina
apresentava após a partida de Pedro I para a guerra no sul... Sem dúvida isso
foi motivo para que pelo menos 16 princesas se recusassem a aceitá-lo como
esposo logo que se tornou viúvo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/02/consideracoes-partir-do-texto-de-isabel_27.html
Um abraço,
Prof.Gilberto