quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Considerações a partir do texto de Isabel Lustosa para “O Estado de São Paulo” (“O imperador e suas duas mulheres”, caderno “Aliás” do último dia 24 de fevereiro) – Segunda Parte; bijuterias no túmulo de Leopoldina; Pedro I, suas fraturas; dona Amélia mumificada

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/02/consideracoes-partir-do-texto-de-isabel.html antes de ler esta postagem:

A exumação de dona Leopoldina confirmou o estado de pobreza que ela, ainda que fosse a imperatriz do Brasil, suportou em seus últimos dias ao lado de Pedro I. Joias falsas a ornamentam no caixão... Isso é consequência da penúria econômica do país ao tempo do Primeiro Reinado. Sabemos que com o fim do Período Joanino (d. João VI retornou a Portugal em 1821), as finanças do Brasil beiraram o colapso, já que com a família real que partiu para a Europa seguiu o carregamento de todo o ouro do Banco do Brasil. Essa situação serviu de justificativa para que Pedro I controlasse todas as despesas da esposa, que abriu mão do direito (estabelecido por contrato) de gerir dinheiro... O texto de Laurentino Gomes dedicado à Leopoldina (em 1822) relata seus esforços em obter empréstimos com agiotas para garantir a assistência que prestava aos mais necessitados.
(...)
Os restos mortais de Pedro I confirmam a constituição física de um tipo ativo, que se dedicava a longas cavalgadas... Aliás, as costelas quebradas (confirmadas nos exames) são resultado de conhecidas passagens de sua biografia: queda de cavalo em 1823 e acidente, também envolvendo cavalos, em 1829.
Lustosa afirma que, para os conhecedores da biografia de Pedro I, não se deve estranhar o fato de não haver junto ao seu corpo insígnias brasileiras, apenas portuguesas...
Ele era conhecido pelo desprezo às insígnias... Conta-se que poucos meses após a abdicação, desfilou ao lado do rei Luis Felipe, em Paris, por ocasião do primeiro aniversário da Revolução de 1830 (portanto em julho de 1831). Teve repercussão o fato de o ex-imperador do Brasil não ostentar nenhuma condecoração em seu peito, além da “Ordem da Rosa” que ele mesmo havia criado no Brasil para homenagear dona Amélia... Talvez por ter visto naquilo um sinal de carência, o rei francês fez Casimir Périer condecorar d. Pedro com a “Legião de Honra”...
D. Pedro permaneceu em Paris até o início de 1832. Seus últimos anos foram de engajamento no conflito contra o próprio irmão, d. Miguel, para restituir o trono à filha Maria da Glória. Lustosa cita a frase que, de joelhos, proferiu para a jovem: “Minha senhora, aqui está um general português que vai defender seus direitos e restituir-lhe a coroa”.
D. Pedro faleceu em 1834 depois de ter cumprido a promessa que fizera à filha... Não são poucas as contradições... Para muitos não é fácil assimilar que aquele que enaltecem como “herói” da independência do Brasil, comandante que não media esforços para estar entre os soldados em campo de batalha, e “defensor da Constituição e do Liberalismo”, seja conhecido também por suas atitudes autoritárias, lascivas e de agressor da própria mulher.
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A exumação de dona Amélia revelou um corpo mumificado... Algo impressionante, mas que (devido à sua curta vivência entre os brasileiros) desperta pouco interesse... Ela contava apenas 17 anos quando veio para o Brasil... Ainda muito jovem, sua beleza encantou o imperador. Seus atributos chamaram a atenção dos franceses, e o fato de ser neta de Napoleão (era filha de Eugênio Beaucharnais – um enteado admitido como filho por Bonaparte) aumentava ainda mais o seu prestígio.
Após a morte de d. Pedro em 1834, dona Amélia permaneceu em Portugal... Aos poucos a sua presença foi se “apagando”, principalmente porque ao que parece não efetivou vínculos com os círculos de poder em torno da enteada, dona Maria II. A filha que tivera com Pedro I no Brasil, Amélia Eugênia, morreu aos 21 anos de tuberculose na ilha da Madeira. Essa perda causou-lhe profunda angústia, atestada em carta que escreveu (preservada em arquivo pessoal do arquiteto Luciano Cavalcanti de Albuquerque, descendente da condessa de Belmonte).
Ao final de seu texto, Lustosa afirma que a “exumação dos corpos imperiais” não revelou nenhum fato novo... Apesar disso, devemos considerar a importância dos recursos científicos modernos, cada vez mais inseridos nas pesquisas que os historiadores realizam... Enquanto documentos, os corpos são tão valiosos como os papéis que estão em pastas de arquivos... Eles também contribuem para “jogar luz sobre uma época, os costumes dessa época e as pessoas que nela viveram, soberanos ou escravos”.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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