quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

“Decamerão”, de Giovanni Boccaccio – o proêmio; Pampineia e seu grupo; sua proposta para suportarem a condição imposta pela fatalidade que caíra sobre todos

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/01/decamerao-de-giovanni-boccaccio-o_29.html antes de ler esta postagem:

A desolação abateu-se sobre Florença... Tantos milhares de mortos nas casas e palácios revelavam o quanto a cidade fora populosa... Ninguém imaginava que até seus mais sadios habitantes pudessem ser levados pela peste... A cidade esvaziou-se.
Numa terça-feira encontravam-se sete mulheres reunidas na “venerável igreja de Santa Maria Novela”, tinham acabado de assistir as orações. Possuíam idade entre 18 e 28 anos... A incerteza que pairava no ar as unia em torno da busca religiosa... Mas elas possuíam anteriores laços de amizade e até parentesco... Eram “bem comportadas e de sangue nobre”; “bonitas de formas, costumes prendados, e de comportamento honesto”... Boccaccio revela-nos os nomes fictícios de cada uma. Faz isso com a reserva de preservá-las de futuras decepções em relação ao que vivenciariam por aqueles tempos. Cada um dos nomes por ele escolhido é significativo e vinculado às características e qualidades de cada uma das mulheres.
Seus nomes são Pampineia (a mais velha); Fiammetta; Filomena; Emília; Laurinha; Neífile; Elisa. Aconteceu que, após as obrigações religiosas, permaneceram em um canto da igreja conversando sobre os infortúnios habituais... Depois de um instante de silêncio, foi Pampineia que falou sobre um procedimento que poderiam adotar... Começou destacando sua probidade de pessoa honesta que jamais causara prejuízo a quem quer que fosse... Assim sendo, levando em conta que constituíam um grupo com todo direito de preservar a própria existência, propôs que buscassem uma alternativa para suportar a condição imposta pela fatalidade que sobre todos havia caído... Jovens e honradas como eram, não mereciam aquela condição de miseráveis testemunhas da diminuição da quantidade de viventes, também entre os religiosos daquele local... Admitiu que para qualquer parte que seguissem assistiriam aos mesmos dramas provocados pela peste... É verdade que a “crise de autoridade” representava riscos para elas. E, também em decorrência disso, a existência de bandos agressivos (que se originavam na ralé) era ofensiva à sua dignidade... Pampineia revelou que já não convivia com seus parentes, pois estes haviam sido levados pela peste... Só lhe restava a aia... De fato, uma condição desanimadora... Bem poucas pessoas de bem deviam ainda permanecer no perímetro da cidade. Para elas, certamente era uma amargura ter de conviver em constante contato com a morte, a imundície e a lembrança dos entes que haviam morrido.
Então Pampineia disse que nem todos permaneciam em estado de contrição... Ela tinha ouvido dizer que havia viventes que, isoladamente ou em grupos, procuravam passar o resto de suas existências entretidas apenas com coisas que lhes proporcionassem prazer... E esse era também o proceder de religiosos que deveriam se devotar à clausura e à obediência a superiores... Esses quebravam os votos e se entregavam aos prazeres carnais para sobreviver. Depois de dizer isso, Pampineia levantou questões ao seu grupo: O que fazemos aqui? O que esperamos? O que sonhamos? Por que somos indolentes na defesa de nossa saúde? Julgamo-nos menos queridas? Estamos tão presas assim às condições determinadas por limitações impostas aos nossos corpos?
E sua conclusão: Estamos erradas... Que procedimento adotar? Deixar essa terra... Seguir escapando aos exemplos desonestos (como se foge da morte)... Nas cercanias da cidade se instalariam para experimentar a harmonia de uma natureza marcada pelo canto dos pássaros, árvores, campos cultivados de cereais e a beleza do céu que merece contemplação... Tudo isso muito diferente da paisagem do interior dos muros da cidade... Pampineia salientou que no campo também ocorriam mortes, mas, por serem raros as casas e os moradores, ali o desprazer é menor.
O fato de se retirarem não significava que estavam abandonando alguém... Bem o contrário disso, era certo que (na cidade) se sentiam abandonadas por aqueles que haviam morrido. Depois de mais essas palavras, justificou que o seu conselho não merecia censura... Seguiriam de uma parte a outra acompanhadas de suas aias... Assim que uma delas julgasse impertinente o prosseguir, teria toda a liberdade e a assistência das demais para que se apartasse do grupo.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/02/decamerao-de-giovanni-boccaccio.html
Leia: Decamerão. Editora Abril.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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