terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

“Os vadios do século XVIII”, de Laura Vergueiro, em “Novos Estudos CEBRAP” de abril de 1982 – considerações sobre "Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas", obra de Antonil

O texto que segue tem como referência a leitura do periódico Novos Estudos Cebrap, vol. 1 Nº 2 Abril de 1982. Naquela edição, os estudos coordenados por Roberto Schwarz tinham como “tema gerador” Os pobres na Literatura Brasileira. A referência aqui é o texto de Laura Vergueiro, Os vadios do século XVIII.

Memórias, Crônicas e Instruções redigidas durante o século XVIII registraram juízos e determinaram regras que faziam referências à condição de vida dos pobres que habitavam o Brasil colonial, todavia essa literatura foi pouco utilizada pela historiografia.
Em seu texto, Vergueiro não tratou das implicações ideológicas decorrentes da omissão dos pesquisadores e das “grandes explicações do Brasil” em relação aos menos favorecidos... Seu texto traz reflexões sobre os escritos de Antonil e Teixeira Coelho, nos quais os “pobres da colônia” estão focalizados.
José João Teixeira Coelho, alto funcionário e magistrado na região das minas de ouro, escreveu Instrução para o Governo da Capitania de Minas Gerais (1780). Sobre o seu conteúdo trataremos nas próximas postagens.
Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas, obra de Antonil publicada em 1711, foi confiscada pelas autoridades da metrópole e quase totalmente destruída. Essa perseguição devia-se ao conteúdo repleto de detalhes sobre as riquezas coloniais, algo que Portugal não tinha o menor interesse de difundir. Vergueiro destaca este fato e ressalta a importância de alguns exemplares terem sido preservados (a obra foi reeditada em 1837, no Rio de Janeiro).
Por “pobres da colônia” devemos entender pessoas livres, porém desvinculadas dos mecanismos produtivos... Homens desfavorecidos que, por sua condição e modos de proceder no cotidiano, eram comumente tratados por vadios.

Em trecho de Antonil, citado por Vergueiro, lê-se que:
Para vadios, tenha enxada e foices, e se quiserem deter no engenho, mande-lhes dizer pelo feitor que trabalhando, lhes pagarão seu jornal. E, desta sorte, ou seguirão seu caminho, ou de vadios se farão jornaleiros.

Eram vadios por estarem completamente apartados dos mecanismos que caracterizavam a produção colonial... O trecho destaca que havia a opção de se engajarem no engenho, onde “deixariam de ser vadios”... Enxadas e foices eram a sua redenção... Trabalhando, receberiam... Caso pretendessem “seguir o seu caminho”, voltariam à vadiagem.
Antonil deixa claro, ainda, a oposição que podia se verificar na sociedade de então: a parte sã constituía-se dos que trabalhavam, produziam valores e riqueza; a “parte corrompida” (nula economicamente) era formada pelos desocupados, os vadios.
O jesuíta italiano destaca que a “fama das minas de ouro” atraiu todo tipo de gente. Parte dos que para lá seguiram mereceram o destaque de Antonil... Segundo ele mesmo, eram pessoas de cabedal... Mas ele lamentava que também os vadios tivessem visto nas minas possibilidades de enriquecimento... O autor esclarece que enquanto as pessoas de bem se ocuparam nas atividades que dignificam a condição humana, os vadios lançaram mão de todo tipo de manobra indecorosa para obter ouro... A eles são dispensados adjetivos relacionados a traições e assassinatos cruéis...
Os vadios eram, então, transgressores e criminosos, pessoas que, tendo a possibilidade de escolher entre as atividades laboriosas e a “negação do trabalho”, preferiam a transgressão e a vadiagem relacionadas à última opção. Em Antonil, o sistema produtivo é descrito como perfeito, enquanto que a “má índole dos indivíduos” vadios deve ser criticada porque só podia resultar em “traições lamentáveis” e assassinatos cruéis. A síntese aí é a de um tipo completamente inútil à sociedade.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/02/os-vadios-do-seculo-xviii-de-laura_20.html
Um abraço,
Prof.Gilberto

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