A família de d. Antônio não tinha por hábito o retirar-se da casa durante a semana... Aos domingos repousavam ou distraíam-se com algum passeio, caçada ou “volta em canoa pelo rio”... Não foi por acaso que Álvaro esforçou-se em apressar o passo de seus comandados para chegar num sábado (e antes da prece).
(...)
A sequência do texto apresenta o momento de prece que os agregados de d.
Antônio vivenciavam ao cair das tardes... O texto é muito bonito e seria
preciso maior competência para fazer referência ao episódio sem recorrer às
palavras do autor. É muita poesia... Seguem os primeiros trechos:
A tarde ia morrendo.
O sol declinava no horizonte e deitava-se sobre as grandes florestas,
que iluminava com os seus últimos raios.
A luz frouxa e suave do ocaso, deslizando pela verde alcatifa,
enrolava-se como ondas de ouro e de púrpura sobre a folhagem das árvores.
Os espinheiros silvestres desatavam as flores alvas e delicadas; e o ouricuri
abria suas palmas mais novas, para receber no seu cálice o orvalho da noite. Os
animais retardados procuravam a pousada; enquanto a juriti, chamando a
companheira, soltava os arrulhos doces e saudosos com que se despede do dia.
Um concerto de notas graves saudava o pôr-do-sol, e confundia-se com o
rumor da cascata, que parecia quebrar a aspereza de sua queda, e ceder à doce
influência da tarde.
Era a Ave-Maria.
Então todos os agregados de d. Antônio se reuniram na
esplanada para o ângelus, uma hora
solene, de extremo respeito e devoção... Aliás, este era o único momento do dia
em que os aventureiros podiam participar de evento com a família de d. Mariz...
O instante de oração era aberto pelo som de um clarim tocado por um dos
aventureiros... Normalmente, d. Antônio se aproximava da beira da esplanada,
tirava o chapéu e se ajoelhava... Perto dele se acomodavam a esposa, Cecília e
Isabel, além de Diogo e Álvaro. A certa distância, formando um grande arco,
ajoelhavam-se os homens de armas. O sol depositava sobre todos eles os seus
últimos raios e a prece cristã se envolvia numa atmosfera também selvagem.
Naquela tarde específica, Loredano manifestava mais desdém do que de
costume, seu olhar observava com atenção os movimentos de Álvaro, o seu
desafeto, que tinha concentração contemplativa dirigida apenas à Cecília...
Cada um a seu modo se recolhia e murmurava silenciosamente a oração... Essas
ocasiões eram finalizadas pelo tiro de mosquete disparo por Aires Gomes. Então
a noite descia... Todos se erguiam, os aventureiros se retiravam para a
instalação a eles destinada, evidentemente afastada da família...
As moças prestaram reverências a d. Antônio e à dona Lauriana... Depois
a família se reuniu para um momento de conversa antes do jantar... Apesar do
caráter reservado que dona Lauriana dava a essas ocasiões, Álvaro foi convidado
pelo fidalgo a se integrar ao clã... No grupo a conversa discorreu entre ele,
d. Antônio e dona Lauriana. D. Diogo e as moças permaneceram apartados dos
diálogos...
Foi com a intenção de envolver Cecília nas
conversas, e assim ouvir a sua voz, que Álvaro disse a d. Antônio que
encontraram Peri na mata... Imediatamente a moça disse que aquela era uma boa
notícia, já que fazia dois dias que não o via... Porém ela demonstrou-se
assombrada quando ouviu que o seu amigo índio foi visto “brincando” com uma
onça... Concluiu que àquela altura o amigo estava morto. Sobre isso, dona
Lauriana emendou que “não se perdia grande coisa”.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/o-guarani-de-jose-de-alencar-alvaro.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto