Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-soeiro-e.html
antes de ler esta postagem:
Mestre Nunes era o
tipo que estava na rede... Ele queria saber sobre quando partiriam e por isso
indagava a Fernão Aines, o tipo de traços hebraicos... Aines falou que a
tempestade não o incomodava, e disse algo sobre uma “maldita caçada”... Algo inadiável,
mas, naquela circunstância, os que saíam para tal empreitada podiam se dar
muito mal devido à intensidade da intempérie. O frei se intrometeu dizendo que
os que seguem a lei de Deus não tinham o que temer mesmo em situações como
aquela. Só os maus deviam esperar pelo pior... Dizia isso como se estivesse a
“mandingar”. Fernão Aines perguntou se o religioso acreditava sinceramente no
que tinha dito... O frei respondeu que a sua crença era em Deus e o outro
destacou que preferia estar ali a ter de enfrentar a borrasca em algum
desfiladeiro... No pouso Aines podia zombar da tempestade, mas na floresta era
ela que zombaria dele.
Nunes
alertava Aines sobre a sua zombaria, mas ele só tinha pensamento para a
“maldita lembrança de caçada”... Dizia essas injúrias quando um raio atingiu
uma enorme árvore. A parte que se desprendeu dela atingiu Fernão Aines em
cheio... O homem foi esmagado e lançado para longe do alpendre. Nunes entrou em
desespero no mesmo instante... O frade virou-se em silêncio e observou o
acidentado... Fez isso deixando escapar um sorriso do lábio.
Os dois tentaram socorrer
Fernão Aines que, espumando sangue, disse que fora vítima do castigo dos
céus... Sabendo que não teria como se salvar, Aines solicitou ao frei que o
atendesse em sua última confissão. O homem foi colocado sobre uma cama de couro
num aposento isolado... Em meio à escuridão só interrompida pelos esporádicos
clarões dos relâmpagos, ele solicitou que o religioso o ouvisse sem
interrompê-lo porque não tinha fôlego para conversar.
Então
o moribundo disse que havia chegado ao Rio de Janeiro em novembro de 1602. Um
de seus parentes o acolheu o melhor que pôde... Explicou que esse seu parente,
que havia passado muitos anos como aventureiro pelas matas e sertões, esperava
que um dia pudessem empreender expedição que certamente resultaria em riqueza
para ambos. Um dia ele explicou-lhe que o pai de certo Robério Dias, que era
colono na Bahia, foi guiado por um índio a uma região do sertão onde havia
abundantes minas de prata. Robério Dias tratou de escrever um roteiro
explicativo para que pudesse, a qualquer momento e sem nenhuma ajuda, chegar às
minas em ocasião futura... Aines explicou que o seu lastimável estado não lhe
permitia entrar em maiores detalhes, mas destacou que o tal roteiro foi
extraído de Dias e que acabou chegando às mãos de seu parente...
Em
sua confissão, refletiu sobre os vários crimes que aquele papel poderia ter
causado no passado... E sobre os muitos que ainda poderia vir a provocar...
Lamentou que ao tempo do governador d. Francisco de Sousa, Robério Dias
tentasse trocar o mapa com o rei Felipe II na Espanha... Como o monarca não se
convenceu daquela história, Dias resolveu guardar o seu mapa e manter silêncio
sobre as minas de prata.
O fato é que Dias nada poderia dizer mesmo, porque o
roteiro já não estava em sua posse, pois havia sido roubado... E por diversos
motivos que não temos condições de saber, o papel foi parar nas mãos do parente
de Fernão Aines... Continuando sua confissão, destacou que o outro contava com
ele na busca das minas de prata no sertão da província da Bahia... Aines
demonstrava em sua confissão que o seu primeiro erro havia sido aceitar a
investida, que era ilícita porque ocorreria graças a um roubo... O homem não
tinha forças para falar, mas o frei italiano seguia incentivando-o...
Mais detalhes sobre essa confissão na próxima
postagem.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/08/o-guarani-de-jose-de-alencar-confissao.html
Leia: O guarani. Editora Ática
Um abraço,
Prof.Gilberto