domingo, 27 de outubro de 2013

“O Guarani”, de José de Alencar – o fim; tudo era água e céu; Peri narra a lenda de Tamandaré, seu povo e o dilúvio que se abateu sobre eles; no instante derradeiro, o goitacá lutou contra as águas e fez a palmeira flutuar; a árvore sumiu no horizonte levando Peri e Ceci

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-peri-se_25.html antes de ler esta postagem:

A situação de Peri e Cecília se agravou rapidamente... A menina despertou no alto da palmeira e a visão que teve foi das mais impressionantes. O goitacá explicou o que estava ocorrendo... A devastação provocada pela violência das águas levava Cecília a concluir que, sem saída como estavam, restava-lhe pedir a Deus que morressem da mesma morte.
(...)
Ela disse a Peri que já podiam morrer. Mas ele se recusou a acatar àquela sentença e afirmou que não permitiria a morte de sua senhora... Serenamente, Cecília quis justificar e fazê-lo ver que as águas subiam cada vez mais. O goitacá respondeu que venceria as águas da mesma forma que vencera a todos os inimigos... O entendimento de Cecília era de que haviam sido vencidos pela torrente porque essa era a vontade de Deus...
Então Peri narrou uma história indígena a respeito de um grande dilúvio.
(...)
A seu modo explicou que em tempos remotíssimos ocorreu uma grande chuva que inundou toda a terra... Por causa dela todos subiram às montanhas para se salvar, mas Tamandaré (que era o mais forte entre os seus) decidiu permanecer com sua esposa na várzea...
Sobre esse Tamandaré (um “Noé indígena”), Peri destaca que Deus falava-lhe à noite o que, durante o dia, “ele ensinava aos filhos da tribo”.
Tamandaré teria recomendado aos demais que permanecessem na várzea como ele e a esposa. Mas ninguém quis ouvi-lo, pois estavam inquietos pela perturbação... Assim, enquanto o povo seguiu para as montanhas, ele e a esposa subiram no alto de uma palmeira, onde esperariam que as águas subissem e passassem.
De fato, terra, árvores e montanhas desapareceram... A palmeira onde se instalaram forneceu os frutos que os alimentavam durante os dias de dilúvio... A correnteza “cavou a terra” e arrancou a palmeira, que ficou a boiar acima das altitudes:
“Todos morreram. A água tocou o céu três sóis com três noites...” O casal sobreviveu.
Peri encerrou a sua narrativa dizendo que depois de muitos dias de cessadas as tempestades, a água começou a baixar até que a palmeira voltou a fincar a várzea... Tamandaré viu o guanumbi (colibri), “desceu com sua companheira” e povoou a terra.
(...)
Cecília ouviu as palavras de seu amigo como se a alma dele se desprendesse de seu coração e se dirigisse diretamente ao coração dela.
Mas a água que enfrentavam já atingia a folhagem onde estavam acomodados. Gotas agressivas começaram a ensopar as vestes de Cecília... A menina clamou por Deus... Peri arranjou-se com os cipós e pôs-se a abalar a palmeira pretendendo fazer com que ela se desprendesse para que flutuasse como a do dilúvio da lenda...
Foi uma luta homérica, “luta terrível, espantosa, louca, esvairada”... Depois de esforço ”sobre-humano”, a árvore teve suas raízes arrancadas... O índio, que contava com seus músculos e o desejo de salvar a sua senhora, havia lutado contra as águas e a rigidez da planta entranhada... Peri quase se despedaçou, mas o resultado foi digno de ser classificado como obra de um milagre.
O goitacá cumpriu sua tarefa e retornou à cúpula da palmeira para junto de Cecília, que estava “quase inanimada”... Ele a abraçou e sentenciou-lhe que sobreviria... Muito atordoada, a menina respondeu que sim, viveriam, “lá no céu, no seio de Deus, junto daqueles que amamos!”
A menina completou:
“Sobre aquele azul que tu vês, Deus mora no seu trono, rodeado dos que O adoram. Nós iremos para lá, Peri! Tu viverás com tua irmã para sempre!”
(...)
Peri a acalentou, bafejando-lhe a face.
“A palmeira arrastada pela torrente impetuosa fugia...
E sumiu-se no horizonte”.
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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