Enquanto o leito se cobria da lâmina d’água, um “estampido terrível” troou ao fundo da floresta... A trovoada da região serrana reboava pela floresta.
(...)
Com a menina em seus braços, Peri utilizou os cipós para escalar a
palmeira e atingir o seu cimo. No mais alto que pôde, acomodou-se com sua
senhora. Ela despertou de seu sono sem entender o que se passava... Ele apontou
para o horizonte e explicou que toda aquela água vinha de lá... No mesmo
instante, uma grande torrente desceu sobre o rio e arrastou árvores e animais
da floresta... Na sequência, várias outras torrentes se seguiram. Imensas
rochas das montanhas eram carregadas (como se fossem pequenos e leves
fragmentos) e provocavam estrago sem igual à paisagem milenar.
A água tornou-se agressiva
demais e avançou pela mata... As árvores eram esmagadas e arrancadas pela força
diluviana... O turbilhão buscava passagem para o oceano e, nisso, provocava
devastação... Um espetáculo horripilante.
(...)
Cecília apoiou-se no ombro de Peri... Estava apavorada,
mas não protestou...
O trecho de Alencar transmite a sensação:
“Em face desses transes solenes, desses grandes
cataclismos da natureza, a alma humana sente-se tão pequena, aniquila-se tanto,
que se esquece da existência; o receio é substituído pelo pavor, pelo respeito,
pela emoção que emudece e paralisa”.
(...)
A tempestade prosseguiu na região das montanhas por
toda a noite... Quando o sol despertou, sua luz esclareceu: tudo era água e
céu:
“A inundação tinha coberto as margens do rio até onde
a vista podia alcançar; as grandes massas de água, que o temporal durante a
noite inteira vertera sobre as cabeceiras dos confluentes do Paraíba, desceram
das serranias, e, de torrente em torrente, haviam formado essa tromba
gigantesca que se abatera sobre a várzea”.
Então Peri e Cecília ficaram ilhados na cúpula da palmeira... Dali
podiam observar que as altas montanhas ainda estavam envolvidas pelas nuvens
escuras que continuavam a despejar a tempestade... As palmas, onde os dois
estavam instalados, garantiam-lhes relativa segurança, pois a folhagem formava
uma espécie de “berço mimoso”...
Mas as águas continuavam a subir. Elas faziam desaparecer as pequenas
árvores... Cecília imaginava que pereceriam, enfim, da mesma morte. E é isso
que restava pedir, pois, de tal modo estavam aninhados, que “uma só era a sua
vida”...
(...)
A menina, que permanecera em oração, disse ao
amigo que já podiam morrer.
Na próxima postagem teremos a exposição do fim
do romance. Até lá.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-o-fim-tudo.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto