O dia estava amanhecendo... Martim Vaz pôs-se a trabalhar na parede enquanto Loredano retornou para a cozinha dos aventureiros. Porém foi sufocado por uma tremenda fumaça que invadia todo o alpendre... Os demais aventureiros estavam indignados porque haviam despertado com a sensação de sufocamento... O desespero era geral também porque a ideia de um ataque aimoré não podia ser desprezada.
O italiano quis saber o que estava acontecendo, mas foi interrompido por João Feio que chegou da vigilância que fazia na esplanada. O tipo disparou ofensas a Loredano, a quem chamou de renegado e sacrílego... Foi falando isso exigindo que ele se entregasse a d. Mariz para que fosse castigado. João Feio estava tão indignado que garantiu que ele mesmo resolveria o assunto se o outro não se dirigisse ao fidalgo...
É evidente que, àquela altura, João Feio já estivesse sabendo da vida pregressa de Loredano... O italiano começou a esbravejar na tentativa de intimidá-lo, mas logo percebeu que o seu segredo havia sido descoberto. Disse apenas que o sereno da noite devia ter prejudicado o juízo de João Feio e que o melhor que o rapaz tinha a fazer era deitar-se.
(...)
Peri ainda estava aos pés de sua senhora na sala, quando
notou que algo se processava nas passagens e paredes ocultas da casa... Isso se
devia às primeiras incursões de Martim Vaz pela brecha do interior, que havia
entre os cômodos... É por isso que Peri tratou de percorrer as portas para
pregá-las por dentro.
Como sabemos, Peri deixou suas armas e saiu do quarto de Cecília... Ele
seguiu pelo corredor e ouviu as pancadas que tinham origem na parede do
oratório, e é claro que desconfiou que as armações dos bandidos estivessem em
adiantado curso.
Antes mesmo de o italiano conhecer a porta (descoberta
por Vaz) que dava acesso ao oratório, Peri chegou à despensa dos aventureiros...
Na escuridão do lugar, ele conseguiu definir as talhas que continham líquidos.
De repente viu uma luz se aproximando e percebeu que ela iluminava o caminho de
Loredano e de Martim Vaz. Bem que o índio pensou em eliminar o bandido ali
mesmo, mas seus planos iam além dessa intenção... Não é por acaso que havia
chegado àquele local, e dali teria de partir para concluir o plano de salvar a
sua senhora... Devia lidar com os aimoré.
Foi Peri quem soprou sobre a vela que Martim Vaz conduzia... O
aventureiro imaginou que uma corrente de ar tivesse atrapalhado o percurso que
realizavam e, assim, retornou para providenciar outra iluminação... Oculto pela
escuridão e com a mão molhada Peri tocou o rosto de Loredano. O italiano (como
sabemos) deu um golpe com o seu punhal no ar porque desconfiava da presença de
algum inimigo... A verdade é que ele atingiu o braço de Peri, que permaneceu no
mais completo silêncio e, para não se denunciar, se retirou para o fundo do
alpendre antes que Martim Vaz chegasse com a luz. O índio pegou um dos morcegos
que infestavam o teto e o feriu com a faca... Ao procurar a luz, o morcego se
aproximou dos dois aventureiros. E foi assim que Loredano entendeu que, na
escuridão, havia atingido aquele bicho voador, e não um inimigo humano.
Depois que Loredano se retirou em direção à
porta que Vaz pretendia mostrar-lhe, Peri deu prosseguimento aos seus planos...
Apoderou-se de roupas que estavam secando e atirou-as ao resto de fogo que
havia sido deixado pelos outros dois... Seu objetivo era provocar intensa
fumaça para que os demais despertassem e bebessem da água que ele acabara de
manipular. Isso explica o relato inicial nessa postagem... Porém só poderemos
entender os objetivos de Peri mais tarde.
Continua em http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/o-guarani-de-jose-de-alencar-ao-sair-do.html
Leia: O guarani. Editora Ática.
Um abraço,
Prof.Gilberto