segunda-feira, 28 de outubro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – a bomba era uma clara demonstração de força; a Rússia comunista seria acuada?; Dubreuilh reflete sobre a divisão entre os socialistas na França do pós-guerra; as leituras de Henri levavam-no aos problemas enfrentados pelos miseráveis; perante aqueles problemas, o individualismo é uma “sujeira”; Robert explica sobre o que está escrevendo enquanto pedalam pelo interior francês

Talvez seja interessante retomar http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/06/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-as_7.html antes de ler esta postagem:

Estamos no ponto em que Robert e Henri conversavam acerca do lançamento da bomba sobre Hiroshima... Também a respeito do peso que a guerra exercera sobre sua geração... Já que não havia como refletir sobre o desastre, quem seriam os culpados pelos prolongados anos de carnificina? O fato de os Estados Unidos possuírem a tecnologia deixaria a Rússia comunista acuada?
Dubreuilh entendia que o mundo se dividiria após aqueles acontecimentos... Lamentava, apesar de considerar os comunistas odiosos, a divisão que se processava no interior do movimento socialista na França... Não admitia a extinção do SRL (como desejavam os comunistas), mas considerava necessário manter a união, pois o PC francês era o “único grande partido proletário do país”.
(...)
Enquanto Dubreuilh debruçava-se sobre seus manuscritos, Henri decidiu ler...
Aliás, era isso mesmo o que vinha fazendo desde que interrompera a produção de seu “texto alegre”. Ele lia a respeito de diversos assuntos, e sempre chegava aos temas sociais... Havia lido sobre as “centenas de milhares de esfaimados” da China e da Índia. O rapaz refletiu sobre sua tendência em “tratar as pessoas como coisas”... Na França e Europa como um todo havia condição de vida satisfatória, autonomia e lucidez incomparáveis à situação dos miseráveis (de China e Índia)... Não era possível tratá-los como sujeitos em pé de igualdade em relação aos ocidentais...
Henri concluía que “o necessário é dar-lhes de comer”. Para ele, as expectativas não eram das melhores... Vislumbrando a hegemonia norte-americana no pós-guerra, concluía que aos miseráveis do oriente reservava-se a “subalimentação”... O rapaz considerava que a única saída para eles se livrarem da escravidão e do atraso seria a URSS... Assim, a potência comunista deveria ser apoiada.
Ele arrematava:
“Quando milhões de homens não passam de animais perdidos de necessidades, o humanismo é irrisório e o individualismo, uma sujeira.”
É claro que, intimamente, Henri pretendia uma condição existencial em que a pessoa pudesse viver como bem entendesse... Mas julgava que, no cenário que se avizinhava, isso seria impossível; então (continuou em suas reflexões) àqueles que estavam reduzidos a “coisas” a saída, talvez, fosse renunciar a liberdade e pertencer a um grande partido que expressasse a “vontade coletiva”...
O conflito intelectual produzido por essas reflexões era que ele próprio não podia “pensar naquilo em que não se pensa, querer o que não se quer”... Henri era um idealista, mas abominava o partido... E definia assim o seu “problema concreto”: “Sua adesão (ao partido) não proporcionaria um só grão de arroz a um único indivíduo hindu”.
(...)
Certa vez os três amigos almoçaram numa aldeia próxima a Aigoual... Uma intensa tempestade derrubou as bicicletas e acabou arrastando duas sacolas... Numa delas estavam os manuscritos de Robert, que recuperou-os em meio à lama... Ele teve a paciência de limpá-los, secá-los e reescrever os trechos que mais se danificaram...
Henri admirava o zelo do amigo em escrever, principalmente porque ele mesmo havia abdicado de seu projeto...
É evidente que Henri sentia falta daquele exercício... Num café de Valence, perguntou a Robert se podia ler o que havia produzido até então... Dubreuilh explicou que estava escrevendo sobre cultura, e que as questões giravam em torno dos motivos de alguns tipos falarem de si o tempo todo; ao passo que havia os que se consideravam porta-vozes dos demais... Seu problema consistia em apresentar reflexões sobre o intelectual... Afinal, ele é uma “espécie à parte” ao “falar em nome dos outros”? E a humanidade, “pode reconhecer-se na imagem que faz de si mesma”?
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

Páginas