sexta-feira, 1 de novembro de 2013

“Os Mandarins”, de Simone de Beauvoir – Perron reflete sobre os desafios de pós-guerra; as últimas experiências valeram-lhe inspiração para redigir uma peça; no retorno a Paris resolve instalar-se num quarto próximo a L’Espoir; as dívidas do periódico lhe parecem bem encaminhadas; a relação com os comunistas também se tornara menos tumultuada

Talvez seja interessante retomar  http://aulasprofgilberto.blogspot.com.br/2013/10/os-mandarins-de-simone-de-beauvoir-um.htmll antes de ler esta postagem:

Anne pôde deitar-se sobre sua capa, enquanto Robert dedicou-se aos seus papéis com cheiro de lama e marcados por manchas que lembravam lágrimas.
Henri preferiu descansar encostado num tronco de árvore sem poder cochilar ou refletir sobre “instrução política”... Nada lhe parecia merecer considerações... “partidos políticos franceses, a economia do Don, o petróleo do Irã, os problemas da URSS” eram todos “coisas do passado”. O tempo que se iniciava apresentava novas questões que não estavam previstas nos livros... SRL, L’Espoir e a atuação de seu grupo pareciam irrisórios, uma “brincadeira fúnebre” ante os enfrentamentos necessários (e que se descortinavam) contra a energia atômica... Valeria a pena escrever ou realizar comícios? O futuro se avizinhava incerto e ameaçado pelo poder de destruição a que os cientistas e técnicos haviam se dedicado...
(...)
Henri despertou desses pensamentos agitados e sentiu o calor do dia... Anne permanecia em repouso, enquanto Dubreuilh “escrevia que a gente tem razão para escrever”... Dois camponeses vestidos de preto passaram por ali... Carregavam rosas vermelhas.
(...)
Henri voltou a pensar nos mortos da incendiada Saint-Roch; suas cinzas recebiam flores? O tempo remediaria as dores da perda, e logo todos seriam esquecidos... O sangue derramado anteriormente era celebrado com vinho barato e “discretamente salgado de lágrimas”... As viúvas teriam amado os seus maridos? Haveria algum sentido nas fanfarras ou discursos? Aquelas sofridas mulheres acabavam participando dos eventos em nome de sua aldeia e de seu país... O véu negro cobriria os seus rostos, e elas carregariam as flores vermelhas... O que teria ocorrido à viúva do “sem olhos” enforcado de Saint-Denis?
Essas reflexões incomodavam Henri, que havia decidido não mais escrever.
(...)
Antes de Paule, Henri retornou a Paris. Ele decidiu instalar-se próximo a L’Espoir e alugar um quarto bem de frente ao jornal...
Resolveu que suas memórias (daqueles dias de passeios pelo interior do país, e que o colocaram em contato com o calor pesaroso; da multidão miserável e mutilada que celebrava com vinho e flores os seus mortos) iriam servir-lhe de “pano de fundo” para uma peça teatral... Então podemos dizer que em pouco tempo estava decidido a retornar à produção textual, mais precisamente à dramaturgia.
Enfim, concluiu, “sempre houve ruínas, sempre houve razões para não se escrever, mas elas perdem o peso quando o desejo de escrever nos retorna”.
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Paule não criou caso a respeito da decisão de Henri deixar o estúdio porque combinaram que ele alternaria suas noites entre os dois ambientes... Mas a primeira noite foi insuportável para ela. Henri percebeu isso quando notou suas profundas olheiras, então se comprometeu a não proporcionar novos dramas para ela.
(...)
O jornal não andava bem das pernas. Havia dívidas que deviam ser sanadas. Luc cuidava das finanças e tranquilizava o amigo a respeito dos pagamentos... Henri considerava um milagre o fato de a tiragem não aumentar e, mesmo assim, o outro garantia que não havia motivos para pânico porque existia “um contrato de publicidade” que quitaria as dívidas mais urgentes...
Henri manifestava satisfação... A estadia no interior e as pedaladas junto a Anne e Robert lhe fizeram muito bem... Decidiu que poderia voltar a escrever e ao que tudo indicava, após a conversa com Luc,  L’Espoir sobreviveria. Notava que o SRL vinha ganhando algum terreno... Além do mais, os desentendimentos com os comunistas tinham cessado (enfim, conviviam)... O texto cita o apoio unânime a Maurice Thorez (na disputa contra De Gaulle), histórico comunista francês (1900-1964).
Leia: Os Mandarins. Editora Nova Fronteira.
Um abraço,
Prof.Gilberto

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